Empresário do Rio substituiu Youssef após racha no PP, revelam delatores
Depoimentos prestados em fevereiro à Procuradoria Geral da República pelos dois principais delatores da Operação Lava Jato, o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, revelam que uma disputa interna no PP levou à substituição do doleiro como repassador de recursos do esquema aos parlamentares do partido.
O papel passou a ser exercido por um empresário do Rio de Janeiro.
Durante a maior parte do tempo em que o esquema funcionou, Youssef tinha o papel de receber os valores das empreiteiras, calculados sobre um percentual do valor dos contratos fechados com a Petrobras, e repassá-los aos parlamentares do PP.
O novo operador do partido, segundo Costa e Youssef, foi o empresário Henry Hoyer de Carvalho, que morava em um condomínio perto do shopping Barra Garden e que, segundo Costa, no passado "havia sido assessor do [ex] senador Ney Suassuna", do PMDB. Hoyer ficou nessa função, segundo Costa, de fevereiro de 2012 até, pelo menos, abril do mesmo ano, quando o então diretor deixou a Petrobras.
Os dois delatores narraram que a substituição de Youssef foi o resultado de atritos que começaram a ocorrer na bancada do PP no ano de 2011, após a morte do líder pepista José Janene (PR) em 2010, que conseguia manter "certa coesão" na bancada do partido.
Segundo Costa, após a morte de Janene se formaram dois grupos no PP: um liderado pelo ex-ministro das Cidades Mario Negromonte (BA) e outro capitaneado pelo senador Ciro Nogueira (PI). O grupo de Nogueira "não confiava em Alberto Youssef porque achavam que ele não fazia os repasses de dinheiro de forma equânime, priorizando o grupo de Mário Negromonte", narrou Costa.
O ex-diretor afirmou que comunicou o doleiro a decisão tomada pelo PP. O doleiro "encarou a substituição com naturalidade", disse Costa.
A substituição, segundo o ex-diretor, acabou "gerando um problema": "as empresas que atuavam no esquema, que trabalhavam há anos com Youssef, não tinham confiança em Henry Hoyer". Por isso, os repasses "chegaram a ser suspensos".
Na versão de Youssef, foi Costa quem trouxe o empresário para "operar para os novos comandantes do partido". Como as empresas estavam acostumadas a tratar com o doleiro, Youssef passou a trabalhar com Hoyer, que demandava o repasse dos recursos, enquanto Youssef o executava.
AMIGO PESSOAL
Segundo o doleiro, Hoyer era amigo pessoal de Costa e, quando ficou sabendo da reticência das empresas sobre o novo operador, autorizou que ambos trabalhassem em conjunto. "Costa disse ao Henry que aparentasse que estava operando para nova liderança, mas que o declarante [Yopussef] ficaria fazendo de fato", disse o doleiro.
Youssef passou a separar o que era da turma anterior e repassar às demais empresas para Hoyer repassar ao novo grupo.
O doleiro disse que se reuniu com o empresário duas vezes na casa do empresário no Rio, uma no final de 2011 e outra no começo de 2012. Na segunda ocasião, o doleiro entregou valores cerca de R$ 400 mil a ele. Posteriormente, Youssef orientou seu entregador de valores, o policial Jayme Oliveira, o "Careca", a fazer diversas entregas a Hoyer, nos valores de R$ 400 mil a R$ 500 mil.
Em outro depoimento, prestado em setembro, Paulo Roberto Costa disse que conheceu Hoyer por volta de 2008 e com o tempo acabou ficando amigo dele. Na época, disse, Hoyer possuía uma empresa de telemarketing.
Ambos montaram "uma parceria" pela qual receberiam recursos de empresários gregos interessados nos processos de contratação de navios pela Petrobras. Costa passou a ser remunerado porque tinha "conhecimento prévio acerca da quantidade de navios a serem contratados e periodicidade de contratação".
INFORMAÇÕES PRIVILEGIADAS
As informações privilegiadas, segundo Costa, renderam pagamentos calculados sobre a comissão de 3% por serviços de "brokeragem" (serviço exercido por corretores que representam navios), assim divididos: 40% para Costa, 20% pelos custos "de emissão de nota fiscal", 20% para Hoyer e 20% para um cônsul honorário da Grécia no Rio de Janeiro, identificado como Konstantinos Kotronakis.
Costa contou que "a comissão na época da parceria com Henry Hoyer lhe rendia entre R$ 20 mil e R$ 30 mil mensais", entregues em espécie por Hoyer. Depois que o empresário do Rio depois deixou a parceria, Costa passou a se relacionar com um filho de Kotronakis. A partir daí, passou a receber US$ 15 mil mensais, que eram depositados em uma conta mantida na Suíça.
Procurados pela Folha, Hoyer e Kotronakis não foram localizados para comentar as declarações de Costa e Youssef.
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