No período 1985-2015, país optou pelo social em detrimento da economia
Editoria de Arte/Folhapress | ||
À primeira vista, uma comparação entre o Brasil atual e o dos primeiros dias da redemocratização mostrará progressos inquestionáveis.
De lá para cá, a renda do país mais que dobrou, e a proporção de pobres na população é hoje pouco mais de um terço da medida há 30 anos.
As heranças econômicas e sociais mais amargas deixadas pela ditadura militar foram equacionadas: a dívida externa foi renegociada e está sendo paga em dia; a ameaça de hiperinflação foi debelada; a crônica desigualdade entre ricos e pobres apresenta números melhores.
Um olhar mais atento, porém, e os avanços despertam menos entusiasmo —a começar pela expansão da renda nacional, inferior à do resto do mundo e, especialmente, à dos demais países ditos emergentes no período.
A ascensão social ainda é precária. Nas contas do Banco Mundial, mais de um terço da população vive numa faixa intermediária, entre as aflições da pobreza e a estabilidade da classe média.
E, a despeito das melhoras domésticas, o Brasil permanece entre os líderes dos rankings mundiais de inflação, endividamento público e concentração de renda.
Tudo somado e subtraído, fica evidente que, com o restabelecimento da democracia, políticos e eleitores escolheram previdência, saúde, educação e assistência como prioridades do Estado —ainda que em detrimento do crescimento econômico.
OPÇÃO PELO SOCIAL
"Tudo pelo Social" foi o lema adotado pelo governo José Sarney (1985-1990), o primeiro após a saída dos militares do poder. Mas o mesmo Sarney, diante da profusão de benefícios e direitos incluídos na Constituição de 1988, disse que o país ficaria "ingovernável".
Dramaticidade à parte, é fato que desde então dificuldades para fechar as contas do Tesouro Nacional convivem costumeiramente com taxas modestas de expansão da economia.
Nas últimas três décadas, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu, em média, 2,9% ao ano; nas três décadas anteriores, de predomínio do Estado desenvolvimentista, a média era de 6,5%. A participação brasileira no PIB global caiu de 4%, em 1985, para 2,9% estimados no ano passado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
As explicações para tal desempenho opõem as principais correntes de pensamento que se alternaram no governo no período.
Entre os mais liberais, aponta-se o peso crescente das obrigações do Estado, que, por exemplo, elevaram a carga tributária de 24% a 36% do PIB, patamar inusitado para o emergente.
Mais à esquerda, culpam-se os juros, de longe os mais elevados entre as principais economias globais, e seu impacto na dívida pública. As taxas anômalas refletem a precária estabilização da inflação promovida pelo Plano Real, de 1994.
BONANÇA PASSAGEIRA
Os conflitos orçamentários mereceram um período de trégua na segunda metade da década passada, quando o país finalmente conseguiu acelerar o crescimento, gastar mais na área social sem desequilibrar as contas do governo e, não menos importante, reduzir a pobreza.
Entre os anos de 2006 e 2010, o PIB cresceu, em média, 4,4% anuais, impulsionando a arrecadação do governo. Os pobres, segundo critérios do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), passaram de 31% para 15% da população em 2013.
A bonança, porém, era passageira. Tratava-se do efeito da expansão vertiginosa da economia da China, fenômeno que encareceu os produtos primários, como petróleo, minério de ferro e soja, estratégicos nas exportações brasileiras.
Encerrado o ciclo de alta dos preços, o crescimento do PIB se foi —e com ele a promessa de ressurreição do Estado tocador de obras e condutor do desenvolvimento, base da primeira campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff.
Como seus antecessores Sarney, Collor, FHC e Lula, a petista agora lança pacotes de aumento de impostos e corte de despesas públicas, eleva os juros para conter a inflação e procura, sem grande sucesso, uma solução para a escassez de investimentos na infraestrutura do país.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade