Cerveró, Goes e Fernando Baiano ficam calados na CPI da Petrobras
O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o empresário Mario Goes e o lobista Fernando Soares, o Baiano –todos investigados na Operação Lava Jato–, optaram por permanecer em silêncio durante depoimento à CPI da Petrobras nesta segunda-feira (11), em Curitiba.
Os deputados foram à capital paranaense, sede das investigações que apuram desvios de recursos públicos em obras da Petrobras, para fazer oitivas dos suspeitos que estão presos na cidade.
Tanto Cerveró quanto Goes, presos preventivamente, disseram estar amparados pelas garantias constitucionais e pela presunção de inocência, e que não iriam falar até verem restabelecidos seus direitos constitucionais.
"A minha prisão está violando meu direitos de responder em liberdade", disse Cerveró, que chamou a decisão de mantê-lo preso de "absurda" e "inconstitucional".
O ex-diretor é acusado de ser beneficiário do esquema de desvios na Petrobras. Goes, por sua vez, é investigado sob suspeita de ser um operador do esquema. Ambos já foram denunciados à Justiça sob acusação de lavagem de dinheiro.
Já Baiano, um dos depoentes que mais despertava o interesse dos deputados, está preso desde novembro na capital paranaense, sede da Operação Lava Jato. Ele é acusado de ser um operador do esquema de desvios de recursos da Petrobras, em prol do PMDB. Ele nega.
Durante sua oitiva, Baiano respondeu a todas as perguntas com a frase: "Recorro ao direito de permanecer em silêncio". Os deputados optaram por fazer os questionamentos, mesmo assim.
Com Baiano, já são quatro os depoentes que se mantêm em silêncio: além de Cerveró e Goes, o empresário Guilherme de Jesus, ouvido na sequência dos dois, também silenciou.
BATE-BOCA
A opção de Mario Goes em ficar calado gerou um desentendimento entre os deputados e o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB).
No intuito de dar andamento à sessão, que planeja ouvir 13 pessoas em Curitiba em dois dias, numa agenda apertada, Motta estava disposto em liberar o depoente, mas a maioria dos deputados não gostou da ideia.
Os deputados Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Ivan Valente (PSOL-SP) e Eliziane Gama (PPS-MA) protestaram e se mostraram insatisfeitos com a vontade de adiantar os trabalhos. O presidente da CPI, por outro lado, falou que não adiantava fazer perguntas que não teriam respostas apenas "para aparecerem por um minuto na televisão".
Vencido, o presidente deixou que os deputados fizessem as perguntas, ainda que nenhuma tenha tido resposta.
O mesmo aconteceu no depoimento de Cerveró.
Também houve princípio de confusão entre os parlamentares e o advogado de Baiano, David Azevedo.
O bate-boca ocorreu quando Lorenzoni questionava o lobista sobre por que ele não faria um acordo de delação premiada. A defesa de Baiano é totalmente contra o expediente.
Irritado, Azevedo interrompeu o parlamentar e disse que ele não tinha direito de "fazer exortações" ao seu cliente. Lorenzoni e outros deputados responderam no mesmo tom. Gritavam que não estavam perguntando ao advogado, mas a Baiano, e o acusaram de desacato, enquanto o advogado batia na mesa e dava de dedo dizendo que "a defesa vai falar sempre".
O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), conseguiu acalmar os ânimos depois de alguns minutos.
No final da sessão, Azevedo foi falar com Lorenzoni, mas o deputado se negou a ouvi-lo. "Não tenho nada a falar com você. Vá atender o seu cliente, que vai voltar para a prisão", disse. Azevedo preferiu não responder.
YOUSSEF
O doleiro Alberto Youssef, que também prestou depoimento, voltou a afirmar que o Palácio do Planalto sabia do esquema de desvios de recursos em obras da estatal. "No meu entendimento, eles tinham conhecimento do que acontecia", disse. "[O esquema] Servia ao interesse do partido [PT], e automaticamente dos partidos da base."
O doleiro admitiu, durante quase quatro horas de depoimento, que não tem provas sobre o que ocorreu, mas enumerou episódios que, para ele, demonstram o conhecimento do Planalto. "A opinião é minha. É o meu sentimento. Agora, prova, não tenho", declarou.
A CPI estará em Curitiba até esta terça (12). Até lá, devem ouvir 13 pessoas, incluindo os ex-deputados André Vargas, Luiz Argolo e Pedro Corrêa, todos presos na sede da Polícia Federal.
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