Empreiteiro Ricardo Pessoa diz que pagou para evitar greves
Zanone Fraissat - 14.nov.2014/Folhapress |
O empresário Ricardo Pessoa, presidente da UTC, quando foi preso, em novembro de 2014 |
Dono do grupo UTC, Ricardo Pessoa disse, em delação premiada, que fez doações eleitorais aos deputados Luiz Sérgio (PT-RJ), atual relator da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras, e Paulinho da Força (SD-SP), ex-presidente da Força Sindical, para evitar greves em obras de suas empresas.
O objetivo das doações eleitorais, segundo Pessoa, era garantir acesso aos congressistas, que são ligados aos movimentos sindicais.
A colaboração do empresário com a força-tarefa da Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, foi homologada na quinta (25) pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki.
Em um de seus depoimentos, Pessoa contou que em 2011 houve uma grande paralisação na construção da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, com queima de cem ônibus e destruição de canteiros de obras, o que deixou as empreiteiras preocupadas.
Na época, a greve provocou uma mobilização de trabalhadores também em outras obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), num efeito dominó.
A doação oficial de R$ 200 mil que a UTC fez em 2014 para a campanha do deputado petista Luiz Sérgio, disse, teve como objetivo evitar paralisações em um dos principais contratos executados pela companhia, a montagem de equipamentos da usina nuclear de Angra 3, no município de Angra dos Reis (RJ).
Luiz Sérgio foi prefeito de Angra entre 1993 e 1996. Foi também presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do município, ligado à CUT (Central Única dos Trabalhadores), entidade ligada ao PT.
Luiz Sérgio também já foi ministro da Secretaria de Relações Institucionais no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT).
Um consórcio integrado pela empresa de Pessoa, a Odebrecht, a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez venceu licitação da Eletronuclear para montar parte dos equipamentos da usina atômica.
O custo total dos trabalhos, executados também por um outro consórcio de empresas, é de R$ 3,2 bilhões.
Já a doação a Paulinho da Força, de R$ 500 mil nas eleições de 2012 (quando o deputado concorreu à Prefeitura de São Paulo), foi motivada pelas obras da usina de São Manoel, na divisa entre Pará e Mato Grosso, afirmou.
A licitação da hidrelétrica foi vencida pela construtora Constran, do grupo UTC. Os sindicatos da região são ligados à Força Sindical, berço político de Paulinho e do Solidariedade.
OUTRO LADO
Os deputados Luiz Sérgio (PT-RJ) e Paulinho da Força (SDD-SP) negam ter recebido doações eleitorais da empresa UTC para evitar greves em obras da companhia.
Luiz Sérgio diz que a contribuição da UTC não tem nada de ilícito ou imoral e "soa como um elogio". "É uma doação legal, de um empresário forte que me reconhece como tendo uma boa interlocução com um movimento social".
Paulinho da Força diz que nunca sugeriu a Pessoa que iria ajudar a evitar greves.
"Ele nunca tocou nesse assunto comigo", disse o deputado, atual presidente do partido Solidariedade. Ele sustenta que jamais exigiu doações em troca de favores.
Paulinho conta ter conhecido Pessoa durante greves no ano de 2011.
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QUEM O EMPREITEIRO ACUSOU
Os políticos citados por Ricardo Pessoa, da UTC, em seus depoimentos na Lava Jato
QUEM | O que pessoa diz ter pago | Doação oficial, segundo o TSE * | A ACUSAÇÃO | OUTRO LADO |
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Dilma Rousseff (PT) | R$ 7,5 milhões | R$ 7,5 milhões | Pessoa diz que doou para preservar negócios da UTC com a Petrobras, por pressão do então tesoureiro da campanha à reeleição da petista, Edinho Silva | Afirma que doações foram legais e espontâneas, e que o candidato da oposição também recebeu da UTC |
Lula (PT) | R$ 2,4 milhões | R$ 1,2 milhões | Comitê de campanha de Lula em 2006 recebeu R$ 2,4 milhões via caixa dois | O PT afirma que todas as doações ao partido foram legais |
João Vaccari Neto (PT) | R$ 4 milhões | - | Dinheiro foi repassado ao ex-tesoureiro, entre 2011 e 2013, por caixa dois | Doações recolhidas para o PT são legais e foram declaradas à Justiça Eleitoral |
José Dirceu (PT) | R$ 3,1 milhões | - | Pagamentos por serviços de consultoria de Dirceu eram parte da propina acertada com Vaccari | Serviço contratado, de prospecção de negócios para a UTC fora do Brasil, foi prestado |
Fernando Haddad (PT) | R$ 2,4 milhões | R$ 1 milhão ao comitê municipal de São Paulo | Repasses a pedido de Vaccari foram feitos para quitar dívida de campanha em 2012 | Doações recebidas foram declaradas à Justiça Eleitoral |
José de Filippi (PT) | R$ 750 mil | R$ 150 mil | Dinheiro além da doação oficial foi repassado via caixa dois para a sua campanha a deputado em 2010 | Doações recebidas foram declaradas à Justiça Eleitoral |
Aloizio Mercadante (PT) | R$ 250 mil | R$ 500 mil | UTC fez doação à sua campanha de 2010 ao governo de SP, sendo metade em dinheiro vivo | Doações recebidas foram declaradas à Justiça Eleitoral |
Luiz Sérgio (PT) | R$ 200 mil | R$ 200 mil | Doação em 2014 em troca de apoio junto ao movimento sindical, para evitar paralisações em obras da UTC | Nega acusação de que doações eram atreladas a apoio |
Renan Filho (PMDB) | R$ 1 milhão | R$ 1 milhão | Ajudou o governador de Alagoas, filho de Renan Calheiros, na campanha de 2014 | Doações recebidas foram declaradas à Justiça Eleitoral |
Edison Lobão (PMDB) | R$ 1 milhão | R$ 450 mil em 2010 ao diretório nacional do PMDB | Pagou propina ao senador quando ele era ministro de Minas e Energia, no primeiro mandato de Dilma | Rechaça a acusação e diz que não há prova |
Sergio Machado (PMDB) | R$ 1 milhão | - | Pagos em retribuição por favores quando Machado presidiu a Transpetro, subsidiária da Petrobras | Nega acusações |
Fernando Collor (PTB) | R$ 20 milhões | - | Pagos entre 2010 e 2012 em troca da influência do senador em negócios com a BR Distribuidora | Nega acusações |
Gim Argello (PTB) | R$ 5 milhões | - | Pagos em 2014 para enterrar uma CPI da Petrobras por meio de doações oficiais ao PR, DEM, PMDB e PRTB | Doações recebidas foram declaradas à Justiça Eleitoral |
Ciro Nogueira (PP) | R$ 2 milhões | R$ 600 mil em 2010 ao diretório nacional do PP | Recebeu dinheiro da UTC | Não se manifestou |
Arthur Lira (PP) | R$ 1 milhão | - | Recebeu dinheiro da UTC | Doações são legais e foram declaradas à Justiça Eleitoral |
Benedito de Lira (PP) | R$ 400 mil | R$ 400 mil | Recebeu dinheiro da UTC | Doações são legais e foram declaradas à Justiça Eleitoral |
Dudu da Fonte (PP) | R$ 300 mil | R$ 100 mil em 2010 ao diretório do PP-PE | Valor foi pago em troca da indicação da UTC para uma obra | Não se manifestou |
Aloysio Nunes (PSDB) | R$ 500 mil | R$ 300 mil | Doou R$ 300 mil em 2010 pelas vias oficiais e o restante foi entregue via caixa dois | Diz ter recebido apenas doações oficiais e nega influência na Petrobras |
Paulinho da Força (SD) | R$ 500 mil | R$ 500 mil | Doação em 2012 em troca de apoio junto ao movimento sindical, para evitar paralisações em obras da UTC | Nega acusação de que doações eram atreladas a apoio |
Valdemar Costa Neto (PR) | R$ 200 mil | R$ 300 mil em 2010 ao diretório nacional do PR | Não constam doações do empresário à campanha do ex-deputado | Não se manifestou |
Júlio Delgado (PSB) | R$ 150 mil | R$ 150 mil em 2014 ao PSB-MG | Recebeu valor vindo da propina acertada com Gim Argello para enterrar CPI em 2014 | Repudia acusações e diz que contas eleitorais foram entregues à Justiça |
Doações da UTC em 2014 por partido (inclui a Constran, do mesmo grupo):
- PT - R$ 22,3 milhões
- PSDB - R$ 9,2 milhões
- DEM - R$ 4,8 milhões
- PMDB - R$ 3,9 milhões
- Outros - R$ 14,4 milhões
* Dados de 2014, 2012 e 2010 | Fonte: TSE e Transparência Brasil
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