Pedaladas foram adotadas antes de nós, afirma Dilma
Em entrevista à Folha, a presidente Dilma reconhece ter cometido erros no seu primeiro mandato (2011-2014), mas não coloca na lista as pedaladas fiscais –pagamento de contas do Tesouro Nacional por bancos públicos.
"Eu não acho que houve o que nos acusam", afirmou a petista sobre a análise que o TCU (Tribunal de Contas da União) está fazendo sobre as pedaladas fiscais.
Segundo ela, o governo dará "uma resposta circunstanciada" sobre o assunto. "É interessante notar que o que nós adotamos foi adotado muitas vezes antes de nós."
Diz ainda não temer que a oposição use o caso para abrir um processo de impeachment contra ela. "Acho que vão tentar e podem até fazê-lo. [Mas] É necessário provar."
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Folha - A sra. não teme que possa ser vítima de um processo de impeachment com base nas pedaladas fiscais ou no processo do PSDB no TSE?
Dilma Rousseff - Não. Acho que vão tentar e podem até fazê-lo. [Mas] É necessário provar. Ou então não vivemos num regime democrático de direito. No passado, como é que se provavam as coisas? Desafiava-se para um duelo: quem morria era culpado, quem sobrevivia era inocente. Aí houve a instauração dos processos e investigações.
E aí se criou um conceito chamado prova objetiva. A partir daí, a partir da revolução francesa, os processos têm que ser fundamentados.
Com relação ao TCU, que resposta o governo dará?
O governo dará uma resposta circunstanciada, item a item, para o TCU.
O TCU diz que a responsabilidade é da presidente, não do secretário ou do ex-ministro.
O TCU não diz isso, porque ainda não votou nada.
Reservadamente, dizem isso.
Não discuto off [jargão jornalístico que define fonte de reportagem que dá informação mediante anonimato]. O que eu vou discutir?
Vou discutir oficialmente com o TCU. Estamos levantando respostas tanto técnicas quanto jurídicas para cada uma das questões.
E se o julgamento for político?
De quem? Do TCU? Aí não tem base. Aí é que eu estou te falando: não vivemos na Idade Média. Tem que provar circunstanciadamente, e vou me defender circunstanciadamente, com provas objetivas.
Mas a responsabilidade é de quem?
Eu não acho que houve o que nos acusam.
Aliás, é interessante notar que o que nós adotamos foi adotado muitas vezes antes de nós.
Não na proporção que foi adotada em seu governo.
Eu gostaria de saber em que legislação está em que a proporção altera a qualidade. Quero saber onde está isso. Aliás, a nossa proporção é porque o PIB mudou, e o orçamento também.
A sra. é muito criticada, e ouvimos muito na rua, que a sra. não reconheceu erros. É uma reivindicação até um pouco inócua, porque a sra. já mudou a condução da política econômica, isso parece refletir alguma mudança na sua avaliação. Isso não ajudaria na popularidade e deixaria de dar combustível à crítica?
Você acha que a sociedade merece respostas inócuas? Eu não acho.
Mas por que a sra. não reconhece seus erros?
Mas eu reconheço todos os meus erros. Não tenho o menor compromisso em não mudar. A gente, quando acha que não é daquele jeito, muda.
Colaboraram NATÁLIA CANCIAN e JULIA BORBA, de Brasília
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o auge da pior crise de seus quatro anos e meio de governo, a presidente Dilma Rousseff desafiou os que defendem sua saída prematura do Palácio do Planalto a tentar tirá-la da cadeira e a provar que ela algum dia "pegou um tostão" de dinheiro sujo. "Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso aí é moleza, é luta política", disse a presidente nesta segunda-feira (6), durante entrevista exclusiva à Folha, a primeira desde que adversários voltaram a defender abertamente seu afastamento do cargo.
Neste trecho, a presidente disse que "vai fazer o diabo" para que a recessão econômica seja a menor possível neste ano e revelou que o governo prepara medidas fiscais para compensar as mudanças feitas pelo Congresso no pacote elaborado por sua equipe econômica para reequilibrar as contas. Afirmando que "nunca imaginou" que a economia brasileira poderia ter uma retração acima de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) neste primeiro ano do seu segundo mandato, a presidente afirmou: "Até o final do ano vou fazer o diabo para fazer a menor [recessão] possível. Já virei um pouco caixeiro viajante, vou continuar".
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