Viúva diz que Janene tinha 'cultura de sonegação' e reclamava de contas
Ed Ferreira/Folhapress | ||
Stael Fernanda Janene, viúva do deputado Jose Janene (PP-PR), em depoimento à CPI da Petrobras |
A viúva do ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010, Stael Fernanda Janene, afirmou nesta terça-feira (14) à CPI da Petrobras que ele "tinha uma cultura" de sonegar impostos e que, apesar de ser rico, reclamava até da conta "da verduraria".
Janene é apontado na Operação Lava Jato como mentor do esquema de corrupção na diretoria de Abastecimento da Petrobras, que foi comandada por Paulo Roberto Costa.
Stael disse que o ex-deputado não compartilhava com ela detalhes de seus recursos ou de seus negócios com o doleiro Alberto Youssef, que operava o esquema de corrupção naquela diretoria. Por isso, ela não deu informações novas sobre o caso.
Ela foi convocada depois que o presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), levantou suspeitas de que Janene poderia estar vivo e vivendo no exterior com recursos desviados da Petrobras, o que foi rechaçado pela viúva e causou desgaste a Motta. Criticado por ela quando havia feito a proposta, Motta não compareceu ao depoimento.
Stael afirmou acreditar que Janene teve envolvimento, mas "não inventou a corrupção na Petrobras". Disse que seus filhos, ainda adolescentes, "vêm sofrendo" com as informações veiculadas a respeito do pai e que fazem acompanhamento psicológico.
"Ele [Janene] não falava em dinheiro comigo, a não ser pra falar que a coisa estava difícil. Os negócios dele com o Alberto [Youssef] pra mim era amizade, era compadre, que ia jogar baralho em casa", declarou.
Ela detalhou relações muito próximas do ex-deputado com o doleiro, que frequentava sua casa e é padrinho de um de seus filhos.
Segundo Stael, Janene já era empresário e um homem "de posses" antes de entrar para a política, mas nunca ostentou riqueza. "Eu era casada com uma pessoa que reclamava da conta da verduraria", disse.
Mais tarde, voltou ao assunto: "Para a família ele sempre dizia' tá tudo difícil'. 'Vamos fazer uma viagem nas férias?' 'Tô apertado, não dá'".
"Por isso, me causa muito estranheza quando falam essa fortuna toda ligada ao Janene. Eu não tive acesso a isso."
LAVAGEM DE DINHEIRO
Ao comentar uma ação penal que responde por lavagem de dinheiro na Justiça Federal no Paraná, Stael explicou que o ex-deputado repassava recursos para suas contas e comentou: "Janene era uma pessoa de posses, mas ele tinha uma cultura, que muitos brasileiros tinham na época, que sonegava os impostos".
A viúva afirma que atualmente trabalha como corretora de imóveis e produção de eventos, além de receber pensão pela morte dele.
O deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) afirmou existirem indícios de uma conta conjunta de Youssef com Janene no exterior, com saldo de mais de 100 milhões de euros, que continuou a ser movimentada pelo doleiro após a morte do ex-deputado, e questionou Stael se ela tinha conhecimento ou assinou algum documento com ele de abertura de conta no exterior. Ela negou.
"Em relação a contas, valores, mesmo se eu estivesse com ele, ele jamais iria me falar. Janene não era o tipo de pessoa de confiar assim."
MITSUI E SAMSUNG
Os presidentes da Mitsui no Brasil, Shinji Tsuchiya, e da Samsung no Brasil, J. W. Kim, não compareceram à CPI para prestar depoimentos previstos para esta terça (14).
A Mitsui informou que pediu à CPI uma nova data para o depoimento e que está à disposição para cooperar.
Eles haviam sido convocados a pedido do deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) e falariam sobre as suspeitas de pagamento de propina direcionados ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Cunha nega relação com o esquema de corrupção na Petrobras.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade