Análise
Tábua de salvação oferecida pelo PMDB, 'Agenda' pode virar engodo
Duas coisas se sobressaem na apresentação da caudalosa Agenda Brasil, apresentada pelo PMDB do Senado como tábua de salvação para o governo Dilma Rousseff.
Primeiro, o documento não pode ser tomado por seu valor de face. Há coisas lá que certamente fizeram o ministro Joaquim Levy (Fazenda) sorrir, como acabar na prática com a universalização do Sistema Único de Saúde e aumentar a idade mínima para aposentadoria, mas daí a considerar que elas serão pacificamente adotadas por Dilma –ou qualquer outro governante– há um longo caminho.
Assim, a depender do entusiasmo com que a presidente a adotar, a "Agenda" corre o risco de tornar-se um engodo semelhante aos pactos anunciados por Dilma depois do susto tomado em junho de 2013, quando protestos difusos contra aumento de tarifas de ônibus ganharam dimensões épicas incontroláveis nas ruas.
Daquelas medidas, apenas o Mais Médicos prosperou na prática, e isso porque já estava formatado, dormindo nas gavetas do governo devido à pressão contrária ao modelo de importação de profissionais cubanos.
O segundo ponto é político. Com seu governo esgotado e sem poder contar com um PT às voltas com seu atestado de óbito por cortesia da Operação Lava Jato, se aceitar a "Agenda" Dilma estará entregando todos os anéis ao PMDB.
Se vier a assumir em caso de um eventual impedimento da presidente, o vice Michel Temer (PMDB-SP) já poderá até dizer que tem programa de governo –ainda que alguns pontos da proposta sejam politicamente indigestas ou inviáveis.
Mas a grande novidade terá sido o drible que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deu nas adversidades. Renan começou o ano como grande estrela da "lista de Janot", e a sua denúncia ao Supremo Tribunal Federal era dada como certa por dez entre dez investigadores da Lava Jato.
Acuado, tornou-se homem-bomba no Senado. Foi responsabilidade dele a principal derrota do governo no ajuste fiscal, quando rejeitou a medida provisória que desconstruía o regime de desonerações implantado na gestão Dilma-1.
Alternando posições com o presidente da Câmara, o muito mais vitriólico Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Renan ora atingia o governo, ora fazia movimentos de contemporização. Desde que o delator Julio Camargo complicou a situação de Cunha ao dizer que ele levou US$ 5 milhões de propina no petrolão, o alagoano passou a ser cortejado pelo Planalto como contrapeso à previsível agressividade do fluminense.
Chama a atenção como tudo isso ocorreu concomitantemente à percepção de que Renan poderá ter menos problemas com a Justiça neste caso do que se previa. Investigadores dizem que isso está ligado ao avanço da apuração.
No mundo político, contudo, tal movimento alimenta a teoria conspiratória de que a Procuradoria-Geral da República, que comanda as investigações de quem tem foro privilegiado como Renan e Cunha, possa ter aliviado para um e apertado o cerco ao outro. O que a PGR, claro, nega _assim como ambos os peemedebistas descartam ter cometido irregularidades.
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