Deputado do PC do B no MA diz que índios são 'veadinhos' e devem morrer
Em discurso a produtores rurais do Maranhão, o deputado estadual Fernando Furtado (PC do B-MA) chamou os índios de "um bando de veadinhos", afirmou que os que não sabem produzir alimentos devem morrer de fome e ainda criticou política indigenista no país.
"Lá em Brasília [...] os índios tudo de camisetinha, tudo arrumadinho, com flechinha, tudo um bando de veadinho [sic]. Tinha uns três lá que eram veado que eu tenho certeza, veado. Eu não sabia que tinha índio veado, fui saber naquele dia em Brasília, tudo veado. Então é desse jeito que tá, índio já consegue ser veado, boiola, e não consegue trabalhar e produzir? Negativo!", disse o deputado.
As declarações de Furtado –aliado do governador Flávio Dino (PC do B)– foram feitas em 4 de julho, em audiência pública em São João do Caru (MA), e as gravações do discurso do deputado foram divulgadas nas redes sociais nesta segunda-feira (21).
A região de São João do Caru, no oeste maranhense, é palco de constantes conflitos entre produtores rurais e índios da etnia awá-guajá. Em 2014, produtores rurais foram retirados da terra indígena Awá, mas há constantes tentativas de retorno, segundo indigenistas.
No discurso, o deputado também critica a política indigenista do Brasil e afirma que os índios não são melhores do que outros brasileiros. "A política indigenista no Brasil é equivocada: uma política que garante aos índios aquilo que eles não têm direito. Não têm direito porque índio não é melhor do que qualquer brasileiro desse país, índios têm regalia que os outros brasileiros que trabalham não têm."
Quando se referiu à demarcação contínua da terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o deputado defendeu que os índios que não sabem produzir morram de fome.
"Olha o problema que fizeram em Raposa Serra do Sol, está lá tudo jogado, ninguém está produzindo nada, tiraram os produtores de arroz, deixaram os índios, e índio diz que não sabe plantar arroz, então morre de fome, desgraça, é a melhor coisa que tem, porque não sabe nem trabalhar", afirmou.
Furtado disse ainda que "essa história dos índios é apenas um pano de fundo para enganar todos nós, essa história de criar nações indígenas é uma historia da ONU, dos americanos, que querem tomar nossas riquezas", e acrescentou que "não vamos permitir isso".
REPÚDIO
Entidades como o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e a organização católica Cáritas afirmam que irão tomar as medidas judiciais cabíveis contra o deputado, além de pedir seu afastamento do cargo.
"A gente repudia qualquer tipo de ataque, de racismo, contra homossexuais, contra indígenas, contra quem quer que seja. Ele merece ser punido para não naturalizar uma situação de racismo contra indígenas, contra homossexuais", afirmou missionária do Cimi no Maranhão Rosimeire Diniz.
Em nota divulgada nesta segunda, o PC do B do Maranhão afirma que as declarações de Furtado são "uma falta grave cometida contra os índios, os homossexuais e o nosso partido".
O documento, assinado pelo presidente estadual do PC do B, Egberto Magno, diz que a declaração foi uma "equivocada manifestação individual" e cobra uma retratação pública do deputado.
Procurada, a assessoria de Dino citou a posição do governador dada nesta segunda Twitter. Segundo ela, Dino diz que só soube das declarações de Furtado após divulgações nas redes sociais. "Evidentemente que discordo de qualquer discurso nessa linha", afirmou.
RETRATAÇÃO
Na manhã desta terça-feira (22), Furtado usou a tribuna na Assembleia Legislativa do Maranhão para pedir desculpas ao partido, aos indígenas e aos homossexuais pelas declarações.
Procurado, o deputado não falou com a reportagem. Por nota, ele confirmou a autoria das declarações e fez uma retratação em relação ao episódio, acrescentando um pedido de desculpas à população maranhense.
"Infelizmente, me deixei levar pelo calor do momento e acabei falando o que não condiz com o meu pensamento e minha formação", afirma o texto.
"Gostaria de reforçar que, em nenhum momento, tive a intenção de macular a imagem do povo indígena, que muito contribuiu para a formação do povo brasileiro, em especial do Maranhão", diz trecho da nota.
Ele acrescentou ainda que sempre trabalhou "a serviço da população maranhense, sem distinção de raça, gênero ou religião, sempre na defesa dos direitos de todos e à frente das lutas pela garantia da igualdade e dos direitos humanos".
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