Relatório da Receita diz que lobista tem proximidade com Lula
Relatório da Receita Federal que integra a Operação Zelotes afirma que anotações feitas pelo lobista Mauro Marcondes Machado, 79, "revelam a existência de proximidade com o ex-presidente Lula".
O lobista é dono da Marcondes e Mautoni Empreendimentos e Diplomacia Empresarial, que em 2014 repassou pelo menos R$ 1,5 milhão para a microempresa de marketing esportivo pertencente a um dos filhos de Lula, Luis Claudio Lula da Silva.
Para o Ministério Público Federal, o pagamento é "suspeito" porque a firma de Luis Claudio não tem nenhum funcionário registrado e o repasse coincidiu com uma série de recebimentos pela Marcondes, em um total de R$ 16 milhões, de duas empresas interessadas na renovação de uma medida provisória, em 2013, a MMC e a Caoa.
O relatório que cita Lula, produzido pela Coordenação Geral de Pesquisa e Investigação da Corregedoria Geral da Receita Federal, informa que fases anteriores da Zelotes apreenderam anotações em poder de Marcondes que são um "planejamento de contato telefônico e pessoal com 'Lula'".
Em um dos papéis, digitado em computador, denominado "Pendências dr. Mauro Marcondes", de 16 de agosto de 2013, aparece a mensagem "Colocar Dr.. Mauro em contato com o Presidente Lula. Instituto Lula", e seguem os números telefônicos da entidade e de "Maria Clara".
A mesma anotação menciona uma "reunião com Ministro Pimentel em Brasília", para uma "apresentação Projeto ANIP", uma provável referência à Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos, com a presença de três empresas do setor de fabricação de pneus. Em 2013, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio era Fernando Pimentel (PT), atual governador de Minas Gerais.
O mesmo relatório da Receita afirma que Marcondes tem "trânsito facilitado" com "outros agentes públicos, especialmente do Partido dos Trabalhadores", o que poderia ser depreendido, segundo a Receita, de "uma lista em que consta o agendamento de reuniões" com Luiz Marinho (PT), então prefeito de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, Antonio Palocci (PT-SP) e Aloizio Mercadante (PT-SP). Palocci foi ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma e Mercadante é o atual ministro da Educação.
Ao final do relatório, a Receita sugeriu a quebra de sigilos bancário e fiscal de 22 empresas, incluindo a LFT Marketing, de Luis Claudio Lula, e de 28 pessoas, incluindo o ex-ministro e ex-chefe do gabinete pessoal de Lula, Gilberto Carvalho. Para a quebras serem ou não determinadas pela Justiça Federal, é necessário um pedido formal do Ministério Público Federal ou da Polícia Federal, o que não havia ocorrido até o início desta noite.
OUTRO LADO
Procurado pela Folha, o Instituto Lula informou que não vai comentar o relatório da Receita porque não teve acesso ao documento.
A assessoria de imprensa do Ministério da Educação enviou um esclarecimento do ministro Aloizio Mercadante, em que ele diz ter sido presidente da CAE (Comissão de Assuntos Econômico), durante 2009, e líder do Bloco de Apoio ao governo.
"Como senador, era minha responsabilidade receber a Anfavea (associação da qual Mauro Marcondes era vice-presidente), entidade que representativa de um dos mais importantes setores da indústria brasileira, a indústria automotiva", justificou.
Mercadante diz ainda que não participou da elaboração de nenhuma medida provisória para o setor automotivo em 2009 nem no ano de 2013, quando já era ministro da Educação. "Por fim, nunca tive relação pessoal e específica com esse cidadão. Se ele me encontrou alguma vez, foi na condição de dirigente da Anfavea", afirma Mercadante.
Advogado de Fernando Pimentel, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que seu cliente não se lembra de fatos abordados no relatório. Segundo Kakay, Pimentel afirmou que esse tipo de reunião é uma agenda normal do ministério.
O advogado de Antonio Palocci, José Roberto Batochio, disse que o papel que cita o nome de seu cliente "não indica absolutamente nada nem conspira contra ninguém". "Nós precisamos deixar de viver a era do 'talvez' e do 'quem sabe'", afirmou o advogado.
A Folha não conseguiu localizar o prefeito Luiz Marinho na noite desta quarta-feira.
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