Membros da sociedade civil discordam de ajuste, mas temem impeachment
Representantes da sociedade civil fazem coro para criticar a política econômica de Dilma Rousseff –principalmente a proposta do ajuste fiscal–, mas avaliam que um eventual impeachment agravaria a situação do país.
A Folha ouviu empresários, advogados, políticos e sindicalistas de sete Estados.
A opinião geral é de que a origem da crise é política e que o governo deve cortar gastos do Estado para atingir equilíbrio no Orçamento, evitando aumento de impostos.
Apesar de apresentarem algumas críticas ao governo –falha de comunicação com a sociedade, por exemplo, representantes de movimentos sociais se mostram mais tolerantes à gestão petista, e membros do partido disseram ver o esforço de Dilma na tentativa de solução.
Empresários também rejeitam as propostas da gestão atual para resolver a crise econômica, mas, assim como políticos da oposição, são cautelosos quanto à abreviação de seu governo, inclusive numa eventual renúncia.
Leia algumas as opiniões coletadas pela reportagem.
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"Não sou a favor de impeachment. Acho que grande parte dos empresários não é. Estamos alinhados com ela para ter solução. O pedido do Levy devia ser feito para os bancos."
OLAVO MACHADO JUNIOR,
presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
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"Uma grave crise de confiança paralisou o país desde o início deste governo. É preciso reordenar as finanças públicas e isso passa pela contenção de gastos, e não por mais tributação"
EDUARDO EUGÊNIO GOUVÊA VIEIRA,
presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro
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Fabio Braga - 30.set.2014/Folhapress |
Espero que o governo respeite o voto de confiança que o povo brasileiro deu e defenda os interesses da nação. Ou é melhor que vá embora para casa mesmo, da forma que for."
PAULO SKAF, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e filiado ao PMDB
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"A presidente não fez a mobilização política necessária. Precisava regular investimento externo e remessas de lucros, taxar grandes fortunas e a propriedade, abrir alíquotas do IR."
FERNANDO MARCELINO,
coordenador do Movimento Popular por Moradia, de Curitiba
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"A política econômica está na contramão do que os movimentos sociais defendem. O ajuste penaliza o setor mais frágil: trabalhadores. Essa política foi feita na gestão tucana e não funcionou"
CARLOS VERAS, presidente da Central Única dos Trabalhadores em Pernambuco
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"Essas políticas recessivas só puxaram ainda mais para baixo a economia, fizeram o desemprego culminar. Os trabalhadores não podem pagar sozinhos essa conta."
SÉRGIO BUTKA, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da GrandeCuritiba e membro da Força Sindical
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"Colocar o impeachment o tempo todo na pauta só piora o ambiente econômico. As pessoas ficam na dúvida até se vão reformar o banheiro da casa. Dilma precisa liderar o diálogo nacional."
RAFAEL MARQUES, petista, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
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Fernando Vivas - 23.ago.2014/Folhapress |
"O governo adotou a linha falida que causou esta crise política: fatiamento dos ministérios, a distribuição de cargos, o toma lá, dá cá com o Congresso. Esse modelo, em vez de remédio, pode ser um veneno"
ACM NETO, prefeito de Salvador (DEM)
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"Se for crise, logo sairemos para algo pior ou melhor. Mas talvez seja um novo país se redesenhando, individualista, um país pior. Para a oposição é cada vez mais difícil entrever nosso futuro."
JOÃO PAULO CAVALCANTI FILHO, advogado (PE) e ex-membro da CNV
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"Buscamos compreender as dificuldades do governo, mas o setor produtivo está sendo penalizado. mas sempre pode piorar. não vejo quem possa dar rumo ao país no caso de possível impeachment."
ISABEL DA CUNHA, vice-presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes (BA)
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"Não pode ser só o setor produtivo a bancar uma crise que vem de questão gerencial do governo. O momento não é bom para um impeachment, que compromete a democracia no longo prazo."
JORGE CAJAZEIRA, presidente do Sindpacel, do setor de celulose (BA)
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Jean Schwarz - 07.out.2014/Agência RBS/Folhapress |
"A penalização tem de ser dada com muita contundência a quem praticou os atos, mas isso até o momento não atinge a presidente. Toda vez que o país passar por crise econômica vai precisar de impeachment?"
JOSÉ FORTUNATI, prefeito de Porto Alegre (licenciado do PDT)
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"Eu disse no meu discurso de posse: 'Vai para casa, Dilma'. Infelizmente, talvez a culpa nem seja toda dela, mas ela está com uma equipe mal formada, num modelo político desastroso, maléfico. Ela não está tendo a maestria para poder conduzir o país nesse momento. É um momento difícil, não está tendo ninguém para aglutinar as forças políticas."
EDSON CAMPAGNOLO, presidente da Federação das Indústrias do Paraná
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"Precisamos do ajuste principal: a confiança. Se o mundo não tiver confiança em nós, fica difícil ter credibilidade. O governo primeiro teria que dar exemplo, cortando na carne. Esse corte de ministérios é uma verdadeira espuma. Chegou a hora da verdade."
ÁGIDE MENEGUETTE, presidente da Federação da Agricultura do Paraná
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"A crise não é só dirigida à presidente. A sociedade está simplesmente no limite de sua paciência em relação a toda a representação política. Há um descrédito muito grande das instituições. É uma crise de confiança da população."
JULIANO BREDA, presidente da OAB-PR
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Pedro Ladeira/Folhapress |
"O PSDB pode apoiar um eventual governo Temer. A maioria é contrária, mas o que defendo é dar o voto de confiança, mostrar que o PSDB não faz oposição sistemática, e sim a favor do Brasil. Ele [Temer] tem mais habilidade, muito mais habilidade política, que faltou permanentemente a esse governo."
BETO RICHA, governador do Paraná (PSDB)
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"É preciso combater a inflação, manter um equilíbrio mínimo no congresso, fazer um pacto com os partidos de oposição e botar as finanças públicas sob controle. Senão, não há governo que possa planejar o futuro."
ANGELO VANHONI, ex-deputado federal (PT-PR)
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"A economia brasileira, o futuro a curto e médio prazos, depende da solução política. Tendo uma solução, seja ela qual for, esfriando os ânimos dos políticos em Brasília, dando governabilidade a quem for, acreditamos que a economia volte à situação normal e pensemos em voltar a crescer."
MÁRIO FERREIRA CAMPOS FILHO, economista e presidente da Siamig (entidade das usinas)
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Raquel Cunha - 4.mai.2015/Folhapress |
"Vejo que a presidente tem buscado uma maior aproximação com o Congresso e estabelecido um diálogo com as lideranças políticas. Não é uma tarefa fácil, afinal, conciliar com uma base de mais de 25 partidos."
RUI COSTA, governador da Bahia (PT)
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"[O ajuste fiscal] não é suficiente nem para fechar a conta do deficit no orçamento –porque foi estimado um PIB que não irá se realizar–, e não há condições de aumentar impostos."
BRUNO ARAÚJO, deputado federal (PSDB-PE) e líder da oposição
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"A crise leva sofrimento a todas as camadas da sociedade. Depois, deverá levar o governo a corrigir problemas como os níveis absurdos de corrupção e de ineficiência na administração pública, participação mais efetiva da sociedade no comando e fiscalização das políticas públicas."
PEDRO HENRIQUE ALVES, presidente da OAB-PE
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Alan Marques - 03.mar.2015/Folhapress |
"[O ajuste fiscal] é o que se pode fazer no momento. A CPMF vai precisar de um amplo debate, o ideal seria buscar outras saídas para aumentar a receita."
HUMBERTO COSTA, senador (PT-PE)
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"O governo precisa dar exemplos. Quando você dá o exemplo, é mais fácil pedir sacrifício e apoio. Não é possível que em um orçamento de R$ 1 trilhão não haja gordura para cortar."
RICARDO ALBAN, presidente da Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia)
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"O regime democrático prevê o impeachment, por isso não o vejo com temor."
LUIZ VIANA QUEIROZ, presidente da OAB-BA
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"Não vamos aceitar um governo ilegítimo. Aqueles que ousarem dar um golpe no governo legítimo da presidenta Dilma vão ver um caos com a resistência e desobediência civil das camadas mais pobres."
CEDRO SILVA, diretor do Sindicato dos Petroleiros da Bahia e presidente da CUT na Bahia
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"Pessoalmente, vejo que a luta deve ser de todos para manter a questão institucional de presença permanente de quem ajudou a construir a democracia no nosso país."
JOSÉ IVO SARTORI, governador do RS (PMDB)
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"As dúvidas que marcam o tabuleiro econômico e político no país impactam a tomada de decisão de consumidores e empresários, com consequências sobre vendas e emprego. É a maior crise que já vi em pelo menos dez anos."
ORLANDO DINIZ, presidente da Fecomercio-RJ
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Divulgação |
"Nesse momento, há uma 'depressão congênita', todo mundo acha que vai piorar. Acaba sendo uma espécie de catarse, a mesma que aconteceu três anos atrás –só que esta era positiva. Nem era motivo para estar antes no superotimismo, nem é motivo para estarmos em um superpessimismo. Essa falta de estabilidade provoca uma sensação de insegurança para o investidor."
MARCIO FRANÇA, vice-governador de SP (PSB)
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(ESTELITA HASS CARAZAI MARCELO TOLEDO PATRÍCIA BRITTO, JOÃO PEDRO PITOMBO, LUCAS VETORAZZO, FELIPE BÄCHTOLD, e PAULA SPERB)
Livraria da Folha
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