Ícone dos protestos anti-PT, Pixuleko ressurge após 10 dias sob remendos
Jorge Araújo/Folhapress | ||
Manifestação anti-PT na avenida paulista teve Pixuleko e Bandilma, sátiras de Lula e Dilma |
O Pixuleko, boneco inflável que se transformou em ícone dos protestos pelo impeachment, passou a noite sozinho na rua Bela Cintra, nos Jardins, dentro do porta malas amassado de um Voyage azul marinho.
Não tinha nenhum segurança de guarda, apesar de o boneco já ter sofrido diversos 'atentados'. No último, no fim de outubro, foi atacado com estiletes e chave de fenda por manifestantes a favor do governo e teve de ficar 10 dias "no hospital" sendo remendado.
"Eu já fui ameaçada de morte mais de 20 vezes e nunca me aconteceu nada, não tenho essa paranoia não; mas o pessoal anda com escolta armada pra transportar os bonecos, acho um exagero", disse Carla Zambelli, 35, líder do movimento Nas Ruas. Foi ela que buscou o Pixuleko no aeroporto de Guarulhos no sábado (12). O boneco veio de GolLog de Maceió, onde passava por reparos.
Já Marcello Reis, líder do movimento Revoltados Online, trouxe de Brasília a Bandilma, boneca inflável que representa a presidente Dilma Rousseff.
Foi uma operação de guerra, como ele mesmo descreveu. Reis saiu de Brasília e foi para Goiânia, trocou de carro para não ser seguido, e de lá veio acompanhado por um veículo de escolta. "Mantemos sigilo absoluto sobre a localização e o transporte dos bonecos", disse Reis.
Segundo Ricardo Honorato, porta-voz do Movimento Brasil, que é dono do Pixuleko, todo cuidado é pouco. "Meu telefone é grampeado e o da Carla também; se os petistas descobrem o itinerário dos bonecos, eles aparecem para atacar", disse. "Nossa boneca da Dilma, a Pinóquia, sofreu uma emboscada anteontem em Brasília, atacaram com arminhas de brinquedo, mas essas armas podem até matar."
O Pixuleko, boneco do ex-presidente Lula vestido de presidiário, mede 15 metros e pesa 500 kg quando inflado (100 kq vazio). Custou R$ 12 mil. O nome se refere ao termo que, segundo investigadores da Operação Lava Jato, teria sido usado pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari ao cobrar propina em negócios envolvendo a Petrobras.
Depois de tantos "atentados", o boneco ganhou um "clone", que estava em Curitiba, na manifestação de domingo.
Já a Bandilma, que é do movimento Nas Ruas, mede 13 metros e pesa 42 kg vazia. Custou R$ 10,5 mil. Ela usa máscara de bandido, faixa presidencial com os dizeres "Mãe do Petrolão" e uma estrela com o número 171 (referência ao artigo do Código Penal que trata do crime de estelionato).
Mas os bonecos são apenas parte da operação: para ficar de pé, eles precisam de três motores (um reserva), um gerador e uma extensão.
PERCALÇOS
Pixuleko, Bandilma e seus acessórios chegaram na avenida Paulista neste domingo (13), às 11h15. Levar toda a parafernália não foi fácil.
O primeiro percalço foi tirar o Pixuleko do porta-mala do Voyage. "Quem enfiou isso aí, tá impossível de tirar!", dizia Reis. Foram necessários três homens e muito suor para arrancar o boneco de lá.
Os dois sacos com os bonecos foram colocados no meio da rua, na avenida Paulista com a Peixoto Gomide. E foi ali que Bandilma e Pixuleko jazeram, murchos, durante duas horas, enquanto ciclistas vestidos de Papai Noel desviavam dos sacos.
Não houve nenhuma tentativa de atentado. Aliás, ninguém sabia o que tinha ali. "Dentro do saco? Não sei, é o cadáver da Dilma?" brincou o chef Henrique Fogaça, do programa Master Chef, que passava por ali. "Pixuleco? É aquele boneco da Copa? [Fuleco]", confundiu a vendedora Andrea Cava.
Fazendo as vezes de segurança, o advogado Vitor Santisteban, do movimento Nas Ruas, garantia que tudo estava sob controle. "Se aparecer um petista para mexer nos bonecos, eu dou porrada", dizia ele, que vestia uma camiseta estampada com #somostodosjoyce (Joyce Hasselmann, âncora do canal de vídeos da revista "Veja" na internet, que foi demitida).
Lá pelas 12h30, começaram a montar o gradil que protege os bonecos dos 'atentados' e chamaram os seguranças (eram três, mas só um apareceu.) Tudo isso custou R$ 1.500 ao grupo.
Mas na hora de encher os bonecos com ar quente, alguém se deu conta de que haviam esquecido de comprar gasolina para pôr no gerador. Eram quase 13h, horário marcado para o início da manifestação, e Carla saiu correndo para o posto de gasolina.
Começaram a encher os bonecos, mas o pescoço da Bandilma rasgou e trouxeram o kit de primeiros socorros –muito silver tape para tapar o buraco.
Finalmente, às 13h20, Pixuleko e Bandilma estavam inflados, lado a lado, protegidos por grades. Os bonecos mostravam suas cicatrizes –inúmeros remendos, silver tape, costuras com fio de náilon, outras fitas adesivas.
Nas ruas, era possível adquirir miniaturas infláveis de Pixulekos, Bandilmas e SuperMoros (juiz Sergio Moro, da Lava Jato, fantasiado de super herói) por R$ 10. O Pixuleko vendeu como água –foram 300 em 20 minutos. Já o SuperMoro encalhou. "Quero o da Dilma ou do Lula", diziam as pessoas.
Adesivos Bandilma e Pixuleco saíam a R$5 a cartela. O empresário Heduan Pinheiro, 34 anos, mandou fazer uma fantasia de Pixuleco. Desembolsou R$ 2.300 e ficou suando dentro da roupa, tirando muitas selfies e discursando com o microfone enfiado dentro da fantasia. "Como vocês sabem, o Pixuleko virou um símbolo do movimento contra a corrupção!", gritava, de cima do carro de som.
FAMA
Mesmo sem fantasia de Pixuleko, Carla também foi muito requisitada para selfies, tirou mais de 50. "Você me desculpe, mas sou sua fã, acompanho seu trabalho na internet", dizia a dona de casa Caroline Molina. Carla sempre posa fazendo hang loose com as mãos (gesto recorrente entre surfistas, com o mindinho e o polegar da mão estendidos). Não faz V de vitória porque "lembra o Collor."
A líder do Nas Ruas também é porta-voz da Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos, que reúne 42 grupos contra Dilma, e foi uma das signatárias do pedido de impeachment que está sendo analisado pela Câmara. Ela era seguida por toda a parte por uma equipe que está fazendo um documentário sobre sua vida, pago por um empresário que, segundo a equipe e Carla, quer ficar anônimo.
Ao lado de Reis, do Revoltados Online, ela forma o mais famoso ex-casal pró-impeachment. Os dois namoraram um ano e meio, ficaram afastados por 12 anos, mas o impeachment os reuniu.
"Precisamos fazer campanha contra o Haddad, não é possível ter um comunista no poder, as ciclovias não podem ser vermelhas, precisam ser verde-amarelas", discursava Carla do carro de som.
Cansada, ela começou a passar mal por causa do calor e sentou-se.
Disse estar feliz porque Bandilma e Pixuleko tinham estrelado mais uma manifestação e estavam sãos e salvos.
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