Análise
Mesmo insatisfeitos, eleitores de Dilma rejeitam seu afastamento
Taxas menores de apoio tanto ao impeachment quanto à renúncia da presidente Dilma Rousseff, somadas à queda de reprovação ao governo federal —seis pontos em quatro meses— podem configurar um pequeno alívio para quem coleciona, desde março, recordes negativos de impopularidade.
Alguns fatores explicam esse saldo na opinião pública —a derrocada do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o baixo otimismo sobre um eventual governo do vice-presidente, Michel Temer, e a ideia crescente de que, apesar de a gestão petista figurar no imaginário dos brasileiros como a mais corrupta da história, é também a que mais investiga e pune crimes desse tipo.
Mas, se pela primeira vez a administração Dilma é considerada pior do que a de Fernando Collor (1990-1992) nesse quesito, nem todas as comparações com o presidente deposto são negativas para a atual ocupante do cargo.
Pouco menos de um mês antes de ser afastado pela Câmara dos Deputados, em setembro de 1992, Collor tinha taxa de rejeição equivalente à de Dilma, mas o apoio da opinião pública ao impeachment era maior —chegava a 75%, segundo pesquisa Datafolha feita na época.
Não só a grande maioria dos que tinham votado em Lula no segundo turno da eleição de 1989 pediam a saída do então presidente como também 62% de seus próprios eleitores.
Quanto a Dilma, a situação é diferente. A maioria dos que votaram na petista em 2014 (54%) se coloca contrária a seu afastamento. Entre os eleitores de Aécio, 80% querem o impeachment e 17% não. Em 1992, 87% dos que tinham votado em Lula queriam o afastamento de Collor e apenas 9% eram contrários.
Na composição dos que defendem o impeachment de Dilma, 64% —o equivalente a 38 pontos percentuais— vêm do segmento que mais rejeita a petista —o dos refratários. Eles têm renda e escolaridade acima da média, moram especialmente no Sudeste e são os que mais participam das manifestações contra o governo.
O segundo estrato mais numeroso, que contribui com 20% desse universo, ou 12 pontos percentuais, é a de eleitores frustrados que reelegeram Dilma mas reprovam sua atual gestão. Têm escolaridade e renda mais baixas do que a média da população e residem mais no Nordeste. Teoricamente, estão mais expostos a ações do governo.
Do lado oposto, entre os que são contra o impeachment, o maior peso é de eleitores da petista, porém não só daqueles "satisfeitos", que aprovam seu mandato. A ocorrência de segmentos "apreensivos" e "atentos", que consideram regular sua gestão, é significativa —38%, ou 16 pontos percentuais, aproximadamente.
O futuro do tema impeachment sobre a opinião pública depende do quanto 2016 continuará refletindo, a exemplo de 2015, o acirramento da eleição presidencial do ano passado.
A duração das crises política e econômica, além dos próximos passos da Operação Lava Jato, dificilmente mudarão a posição dos que se mostram refratários à presidente, mas podem tanto reverter quanto aprofundar a frustração de eleitores petistas e definir a posição dos estratos mais volúveis.
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