ANÁLISE
Dilma teria evitado Cunha se agisse como socialistas franceses
Pedro Ladeira - 1º.fev.2015/Folhapress | ||
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é eleito presidente da Câmara no primeiro turno |
No quase consenso sobre os malefícios causados pelo ano de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, não se tem falado muito de como ele chegou, em fevereiro, ao terceiro posto mais importante da política brasileira, segundo na linha sucessória da Presidência da República.
Dilma Rousseff havia acabado de se reeleger, após campanha muito radicalizada; os indícios de que a situação econômica era muito pior do que se sabia e que poderia se agravar bastante já eram claros.
Cunha, embora da sigla do vice, Michel Temer, era sabidamente uma espécie de "nêmesis" de Dilma e considerado por quase todos um personagem suspeito, perigoso, imprevisível. Sua obsessão em se tornar presidente da Câmara era mais do que conhecida.
Dilma poderia, num gesto de conciliação para unir a nação e preparar os espíritos para os imensos desafios econômicos por vir, ter negociado o apoio do governo a um nome capaz de derrotá-lo.
Poderia ter feito isso nem que fosse para evitar um "mal maior" para ela e para o país. Teria sido um gesto de inteligência política em interesse próprio e, acima disso, nos melhores interesses do Brasil.
Foi o que acabam de fazer os socialistas franceses, que, no segundo turno das eleições regionais do seu país, retiraram seus candidatos e apoiaram os do partido de centro-direita a fim de derrotar a ameaça da extrema direita, que tinha obtido resultados excelentes no primeiro turno.
Os socialistas franceses se sacrificaram e ajudaram a eleger adversários históricos, mas, a médio e longo prazo, eles, como todos os seus compatriotas, vão se beneficiar de terem livrado a França da ameaça da Frente Nacional.
Dilma não teve a mesma visão. Apesar de saber que um candidato do PT não teria chance, lançou Arlindo Chinaglia, em vez de procurar uma alternativa que pudesse ser aceita por deputados interessados em afastar Cunha.
Não precisaria necessariamente ter apoiado Júlio Delgado, do PSB, que tinha suporte na oposição, embora essa pudesse também ter sido manifestação concreta do seu desejo de unir o país.
O resultado foi o conhecido. Os votos contra Cunha se dividiram, e ele venceu no primeiro turno.
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