Meirelles nega convite, elogia Temer e diz estar disposto a aconselhar o vice
Alan Marques/Folhapress | ||
Henrique Meirelles dá entrevista após encontro com Michel Temer no Palácio do Jaburu, em Brasília |
O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles afirmou, neste sábado (23), estar disposto a aconselhar o hoje vice-presidente Michel Temer (PMDB) em um eventual governo comandado pelo peemedebista, caso a presidente Dilma Rousseff seja afastada do cargo pelo Senado nas próximas semanas.
Ele se reuniu com Temer por cerca de duas horas no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República, para discutir o atual cenário de crise econômica brasileira e os remédios que podem ser aplicados para conter a retração da economia.
Cotado para assumir o ministério da Fazenda, Meirelles disse que o convite não foi feito pelo vice-presidente.
Questionado se aceitaria o cargo, ele disse que não trabalha com "hipóteses" mas afirmou estar disposto a aconselhar o vice. "Eu não respondo, não trabalho e não penso sobre hipóteses. Eu trabalho com realidade, coisas concretas. E, no momento, o que existem são hipóteses. [...] Estou disposto a aconselhar, dar minha contribuição", disse, ao sair do encontro.
Meirelles também elogiou a percepção de Temer sobre a economia e disse que o Brasil tem tudo para voltar a crescer, mas que depende de uma retomada da confiança.
"Pelas perguntas que ele [Temer] fez, me parece que ele está com uma visão bastante correta e adequada e que eu acho muito positiva sobre a economia", afirmou.
Para Meirelles, a economia só poderá ser recuperada a partir de uma resolução da crise política. "O que é mais importante é se tomar medidas que sinalizem claramente que a trajetória de crescimento da dívida pública vai ser revertida no devido prazo e que a partir daí a confiança possa aumentar, e com isso os investimentos também podem aumentar", avaliou.
Perguntado sobre a reação positiva dos mercados financeiros sempre que o impeachment da presidente Dilma Rousseff avança no Congresso, o ex-presidente do BC afirmou que os mercados "reagem de diversas formas", mas que eles "tenderão a reagir a medidas concretas que sinalizem com a sustentabilidade do Estado no longo prazo, uma série de medidas para o investimento e que possam viabilizar de fato a economia a funcionar de forma cada vez mais eficiente".
Segundo ele, Temer "corretamente" não se manifestou sobre o diagnóstico apresentado por ele. "Ele corretamente não se manifestou sobre esses diversos assuntos, porque certamente está aguardando o pronunciamento do Senado e, a partir daí sim, de uma forma ou de outra, ele vai se manifestar", disse.
Meirelles, que ocupou a presidência do Banco Central entre 2003 e 2010, é, desde 2012, presidente do Conselho da J&F, holding do grupo que produz as marcas Friboi, Seara, Vigor e Havaianas. No final do mês passado, ele relançou o banco Original, controlado pelos mesmos donos da JBS.
Além de Meirelles, estiveram no encontro o ex-ministro das Cidades do governo Dilma Gilberto Kassab, que deixou o cargo na semana passada, e o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
Kassab foi chamado à reunião porque é presidente do PSD e Meirelles é filiado ao partido. Jucá é presidente do PMDB e o principal articulador de Temer na formação de sua equipe de governo.
Segundo Jucá, Temer não irá definir nenhum nome para seu ministério antes de o Senado votar o afastamento da presidente Dilma Rousseff, o que está previsto para ocorrer por volta do dia 12 de maio.
"Temer está realizando uma série de encontros com diversos economistas para que se tenha a avaliação e o quadro de várias áreas, com diversas posições distintas para que ele possa ir construindo um posicionamento e, se o Senado tomar uma posição de afastamento, o vice esteja pronto para assumir rapidamente o país", disse Jucá.
De acordo com o peemedebista, Temer não fará nenhum convite e não antecipará nenhum ato "em respeito ao Senado".
Jucá, no entanto, não descartou um eventual convite a Meirelles. "Ele é um economista experiente, muito importante e representativo da área econômica do país e com boa avaliação internacional. Foi uma conversa bastante construtiva. Temer indagou bastante", disse.
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