'Antes tarde do que nunca', afirma Dilma sobre afastamento de Cunha
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
A presidente Dilma Rousseff, que visita o Pará nesta quinta-feira (5) |
A presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou no início da tarde desta quinta-feira (5) que o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do mandato na Câmara dos Deputados, por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), ocorre "antes tarde do que nunca". Ela lamentou, porém, que o peemedebista tenha conseguido presidir na "cara de pau o lamentável processo [de impeachment]" na Casa.
"Hoje, antes de eu sair de Brasília, eu soube que o STF tinha afastado o senhor Eduardo Cunha alegando que ele estava usando seu cargo para fazer pressões, contrapressões, chantagens, etc. A única coisa que eu lamento, mas eu falo, antes tarde do que nunca, é que infelizmente ele conseguiu, e vocês assistiram aos [deputados] Zé Geraldo [PT-PA], Beto Faro [PT-PA] e tantos outros votando contra [o impeachment], mas vocês assistiram também ele [Cunha] presidindo, na cara de pau, o lamentável processo na Câmara", disse.
A fala de Dilma ocorreu durante a cerimônia de início da operação comercial da usina hidrelétrica de Belo Monte, na cidade de Vitória do Xingu, sudoeste do Pará, onde a petista tocou a sirene inaugural da unidade. As duas turbinas entraram em operação em abril, e estão gerando 649,9 MW.
"O início do processo de impeachment foi uma chantagem do senhor Eduardo Cunha que pediu para o governo votos para impedir seu próprio julgamento na Comissão de Ética na Câmara. Nós não demos e ele entrou com o pedido de impeachment. Esse impeachment é um claro desvio de poder, porque ele usa seu cargo para se vingar de nós, porque nós não nos curvamos às chantagens dele", afirmou a presidente.
A petista defendeu que a população repudie "qualquer processo que tenta dar um golpe para garantir que os sem-votos cheguem à Presidência". "Só a democracia respeita a vontade do povo. Se o povo não pode votar, como ele não apoiará aqueles que são contra eles? Por isso, temos que afirmar em alto e bom som: a democracia é o lado certo da história. Não haverá perdão da história para os golpistas."
USURPADOR DE MANDATO
Mais tarde, já em Santarém, no oeste do Estado –na segunda agenda dela do dia–, Dilma chamou o vice-presidente Michel Temer (PMDB), primeiro na linha de substituição em caso de impeachment, de "usurpador de mandato".
"Outro dia, não sei se é verdade ou não, mas um dos consultores do vice-presidente, que é um usurpador de mandato, foi e disse o seguinte: 'O Bolsa Família não pode ser como está sendo. Nós temos que dar bolsa família só para 5% da população, mais pobre.' Isso significa 10 milhões de pessoas."
Ela continuou: "Ora, o Bolsa Família são 47 milhões de pessoas hoje. E recebem uma quantia, não é o que eles falam, 'bolsa esmola' ou 'bolsa preguiça', o Bolsa Família é pago para criança e adolescente. Você paga para a mãe, mas o objetivo são as crianças deste país, que são o futuro", afirmou a petista, que foi a Santarém entregar 3.081 casas do programa Minha Casa Minha Vida.
Dilma chamou o processo de deposição de um "disfarce para eleição indireta", e disse ser vítima de um "golpe". Voltou a afirmar que "parte da oposição faz o jogo do quanto pior, melhor."
"Para vocês terem uma ideia, o Congresso brasileiro está paralisado. O senhor Eduardo Cunha, desde o início do ano, não deixa o Congresso funcionar. Essa é uma situação que tem que ser superada e tem que acabar", afirmou. "Não adianta querer encurtar o caminho do poder. No Brasil, nós vivemos numa democracia. Para chegar à Presidência da República, tem de ter voto."
A presidente disse, ainda, que não vai desistir de lutar contra o impeachment. "Acho que estou sendo vítima de uma injustiça, tenho consciência disso. Isso não vai me imobilizar, não, não vou ficar parada esperando o ônibus passar. Eu vou lutar pelo meu mandato, porque eu tenho responsabilidade em relação à democracia do meu país.
As viagens desta quinta foram as primeiras de série que a presidente fará antes da votação no Senado de admissão do processo de impeachment. Se aprovado por maioria simples (41 dos 81 votos), ela será afastada do cargo por até 180 dias. Nos próximos dias, Dilma deve ir a Cabrobó (PE), na sexta (6), Palmas, no sábado, e Goiânia, na segunda (9).
'ESCOLHI OS POBRES'
Dilma defendeu suas "escolhas". "Tenho imenso orgulho das escolhas que fiz. Uma delas é a construção de Belo Monte como um legado para a população brasileira, para o povo dessa região do Pará. Eu escolhi investir no desenvolvimento de todas as regiões do país, dando ênfase àquelas que mais precisam, como Norte e Nordeste. Foram escolhas baseadas no direito do povo brasileiro de escolher seus rumos, no direito à democracia."
Ainda falando sobre as obras de Belo Monte, ela disse: "eu escolhi beneficiar os pobres deste país".
Ela fez uma espécie de balanço do seu governo na área energética e disse que, desde 2011, o país colocou quase 30 mil MW no sistema e fez 28 mil km de linha de transmissão. E comparou os dados com a gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
"Nós fizemos quase 30 mil MW em cinco anos e cinco meses; eles [governo FHC], em oito anos, fizeram só 21,4 mil [MW]. Por isso teve racionamento. E fizeram só 10 mil km de linha de transmissão. Nós, não, nós fizemos 28 mil e poucos km", afirmou a presidente.
Dilma voltou citar FHC quando se defendeu dos atos a que é acusada no processo de impeachment. "Eu não estou sendo acusada de beneficiar a mim ou a alguém do meu governo, estou sendo acusada de fazer aquilo que todos os presidentes fizeram. Eu tenho seis decretos de suplementação no ano de 2015. Sabe quantos o Fernando Henrique fez no ano de 2001? 101 decretos. Ele tá errado? Não, ele não tá errado, porque aquilo não era crime, nunca foi. E agora na minha vez querem fazer que isso seja crime? Não, não vão, não."
PÚBLICO SIMPÁTICO
Como acontece geralmente em eventos como os desta quinta, o público presentes nos atos de Vitória do Xingu e Santarém eram simpáticos a Dilma. No primeiro, por exemplo, cerca de 500 pessoas, entre manifestantes e operários das obras de Belo Monte, gritavam palavras de ordem, como "não vai ter golpe" e "Dilma, eu te amo".
Quando começou a falar sobre o afastamento de Cunha, o público começou a gritar "ladrão". Dilma então pediu para que eles deixassem terminar de falar para depois o público gritar.
Já em Santarém, cerca de 5.000 pessoas participaram do evento de entrega de chaves dos imóveis.
De manhã, porém, no caminho para a usina, integrantes do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), indígenas e ribeirinhos aproveitaram a visita de Dilma a Belo Monte, no Pará, para fechar a rodovia BR-230, único acesso para Belo Monte.
O protesto durou cerca de três horas, e causou um enorme congestionamento –a pista só foi liberada por volta das 8h30. As críticas eram às obras compensatórias da hidrelétrica, que seguem em ritmo lento, e apresentam muitos atrasos, enquanto as obras de construção da usina avançariam em ritmo acelerado. Após a dispersão dos manifestantes, o trânsito foi liberado.
Já em Santarém, militantes com bandeiras do MAB entoaram gritos a favor da presidente.
Karina Pinto/Folhapress | ||
Em dia de visita de Dilma Rousseff, grupo fecha a BR-230, único acesso à usina Belo Monte, no Pará |
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