Discípulo de Dirceu, Ferreira assumiu tesouraria do PT após mensalão
Em 2005, quando o mundo petista ruiu pela primeira vez, o partido recorreu a um experiente quadro de sua burocracia interna para tentar dar um jeito nas finanças.
Delúbio Soares, o tesoureiro que assumiu para si a estratégia de transformar o pagamento de mensalão em recebimento de "recursos não contabilizados", era um fusível queimado.
Paulo Ferreira, um dirigente gaúcho que tinha fama de eficiente e confiável, foi o escolhido para a missão.
A esse predicados somava-se outro, naquele momento fundamental para ascender no partido. Ferreira era, como definiu outro petista, "mais zézista que o próprio Zé". "Zé" era José Dirceu, líder incontestável da legenda, mesmo após ter sido apeado da Casa Civil de Luiz Inácio Lula da Silva pelo mensalão.
Ferreira, em outras palavras, era parte do esquema de poder dominante. Com ele, oferecia-se um recomeço, não um rompimento. Em suas primeiras declarações após a eclosão do escândalo, chamou Delúbio de "quadro da confiança do partido".
Meses depois, quando Dirceu já havia tido seu mandato de deputado federal cassado e buscava retornar à Executiva do partido, comportou-se como o soldado disposto a morrer pelo comandante. "Entregaria meu cargo agora [para acomodá-lo] sem problema algum".
O pepino que Ferreira assumia era imenso. As finanças do partido estavam arruinadas. A dívida com financiamentos obtidos por meio do publicitário Marcos Valério era de cerca de R$ 60 milhões (R$ 110 milhões hoje).
O novo tesoureiro determinou um corte de 40% na folha de pagamentos e custeio.
Muito antes de o termo crowdfunding aparecer, iniciou uma campanha de arrecadação de fundos junto à militância (de pouco sucesso). Também segurou repasses a diretórios estaduais. Pôs em prática, em resumo, um pacote de austeridade que encheria de orgulho Joaquim Levy e Henrique Meirelles.
Pediu para não ser mais chamado de "tesoureiro", termo que considerava depreciativo. Queria ser apenas Paulo Ferreira, secretário nacional de Finanças.
Numa entrevista à Folha que hoje soa ingênua, prometeu "esforço brutal" para que o partido recebesse apenas doações legalizadas. "As campanhas têm de se dar dentro dos marcos da legalidade e da transparência pública", pregou.
Em 2010, Ferreira estava pronto para ganhar luz própria. Candidatou-se a deputado federal pelo PT gaúcho. Com seus contatos de tesoureiro, conseguiu fazer uma campanha relativamente rica para os padrões legislativo, com arrecadação de R$ 1,48 milhão.
Entre os doadores declarados, diversas empresas hoje citadas na Lava Jato, como as construtoras Carioca (R$ 150 mil), UTC (R$ 150 mil) e Galvão (R$ 200 mil) e o frigorífico JBS (R$ 100 mil).
Não foi suficiente. Ferreira teve de se contentar com uma vaga de suplente. A ambição de sair da sombra de Dirceu teve de ser adiada. E agora, os dois dividem a condição de presos da Lava Jato.
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