Acidente de avião que matou Campos ainda afeta moradores de Santos
Joel Silva -17.ago.2014/Folhapress | ||
Enterro do ex-governador de Pernambuco e então candidato Eduardo Campos, em 2014 |
Benedito, 70, vendeu um terreno e um carro e deixou de almoçar fora. Marlene, 66, teve de se desfazer de um imóvel. Wanda, 51, não sabe quando voltará para casa.
Dois anos depois do desastre aéreo que matou o candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB) e mais seis pessoas, completados neste sábado (13), a tragédia ainda gera disputas judiciais que não trouxeram alívio financeiro para os moradores afetados em Santos (SP), onde caiu a aeronave.
O acidente atingiu dois quarteirões do bairro Boqueirão. Ninguém se feriu além dos mortos ocupantes do avião, mas 51 imóveis foram afetados, alguns com paredes e cômodos derrubados completamente.
Na Justiça, ações correm contra os empresários João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho e Apolo Santana Vieira, apontados como donos da aeronave, e contra a AF Andrade, holding apontada como operadora do jato, e o PSB. Todos negam judicialmente responsabilidade de ressarcir os prejuízos.
Benedito Juarez Câmara, 70, dono da academia Mahatma, um dos imóveis mais afetados, teve de vender bens para tentar recuperar financeiramente a empresa.
Com instalações mais modestas que as anteriores, a academia reabriu parcialmente, com musculação e ginástica, em julho de 2015. Porém, tem apenas cerca de cem dos 750 alunos de antes.
As três piscinas destruídas ainda estão em obras. Sem recursos, cerca de 560 metros quadrados de azulejos delas foram recuperados, se juntando aos novos comprados.
Nas paredes, cimento queimado oculta os azulejos danificados. Frequentador da academia há 16 anos, o aposentado José Manoel Cardoso, 63, elogia Câmara e a aquisição de equipamentos de musculação. "Isso ajudou muito na volta de alunos."
Por meio de duas ações judiciais, o advogado de Câmara, Alexandre Ferreira, espera obter indenizações que cheguem a R$ 2,8 milhões. "A gente tem absoluta certeza que os responsáveis são a AF Andrade e o PSB, que usufruiu da aeronave."
Marlene Martinez, 66, dona de um dos apartamentos atingidos, vendeu um imóvel por R$ 355 mil para substituir os bens pessoais perdidos. A reforma da estrutura do apartamento e de outros dez do condomínio Jandaia foram pagos pela seguradora.
Já os prejuízos com eletrodomésticos, armários e outros itens, além das despesas no período de 2014 em que ficou fora de casa, causaram um rombo financeiro.
Marlene guarda todas as notas fiscais do que gasta, para documentar na ação.
Wanda Bittencourt, 51, ainda não tem previsão de voltar para casa e teme um acidente devido ao estado de uma edificação inacabada, que ficou repleta de rachaduras, no fundo de seu imóvel.
Ela, os pais e dois irmãos se dividem em dois apartamentos, onde moram de aluguel. "Pelo que ouvi de engenheiros, peritos, eles dão como perda total. Não é viável financeiramente reformar pelos danos causados na estrutura."
A casa, segundo Wanda, ficou com uma inclinação e teve comprometimento do solo, o que inviabiliza a recuperação pelo alto custo.
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