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Promessômetro: propostas para cultura dependem de ações complementares, dizem especialistas

Em tese, as propostas dos candidatos à Prefeitura de São Paulo para a área da cultura são possíveis de tirar do papel. Entretanto medidas um pouco mais complexas precisam ser tomadas para garantir sua eficiência.

Essa é a opinião de especialistas independentes ouvidos pela Folha, que analisaram três projetos apresentados nos programas de governo de alguns dos principais concorrentes ao cargo de prefeito.

TORNAR A PRODUÇÃO CULTURAL DA CIDADE ACESSÍVEL PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Candidato: João Doria (PSDB)

Em seu programa de governo, o candidato tucano afirma que pretende tornar as produções culturais paulistanas acessíveis para pessoas com deficiência, especialmente quando têm financiamento público.

Para Viviane Sarraf, diretora da empresa Museus Acessíveis, que presta serviços de adaptação em obras culturais desde 2006, já existem recursos técnicos para realizar a proposta com facilidade.

Financeiramente, garantir que as produções sejam adaptadas também não é caro. De acordo com ela, fazer a audiodescrição –descrição sonora detalhada que permite que pessoas com deficiência visual 'formem imagens mentais'— de um uma exposição com cerca de 100 obras, por exemplo, custa entre R$ 4.000 e R$ 6.000.

Entretanto Sarraf afirma que a realização depende de reformas no sistema de financiamento cultural. "Algo que pode causar dúvida é a garantia de investimento para que as produções de fato viabilizem isso", diz.

Ela cita como exemplo positivo a cidade de Belo Horizonte, em que as produções com incentivo da prefeitura precisam oferecer acessibilidade como contrapartida para liberação dos recursos.
"É importante que tenha determinado um valor especificamente para a acessibilidade", afirma.

Editoria de Arte/Folhapress

CRIAR SISTEMA ONLINE PARA MORADORES OPINAREM SOBRE PROGRAMAÇÃO CULTURAL
Candidata: Marta Suplicy (PMDB)

Marta Suplicy prometeu criar um sistema online para que as pessoas que moram em torno de um aparelho cultural —como um teatro, por exemplo— possam opinar sobre a programação do espaço.

De acordo com Marco Antônio Carvalho Teixeira, professor do departamento de gestão pública da FGV, a proposta não é tão simples quanto parece.

"Com o recurso tecnológico que temos é certamente possível, mas não é nada trivial", diz ele. Teixeira afirma que, para garantir a participação das pessoas, é necessário fazer mais do que simplesmente criar uma plataforma de votação, por exemplo.

"Participação é fazer com que as pessoas não só opinem, mas tenham o poder de tomar decisões", diz. O professor afirma que é mais fácil elaborar um mecanismo que faça sondagens e consultas, mas mais difícil arquitetar um sistema que permita discussão ampla.

"Tem que ver a extensão da participação da sociedade nessa política. Se ela começa já no desenho, no planejamento, ou se o público só vai opinar em itens que outro grupo já escolheu", afirma.

Editoria de Arte/Folhapress

CRIAR EMISSORAS DE RÁDIO E TV MUNICIPAIS
Candidatos: Fernando Haddad (PT) e Luiza Erundina (PSOL)

Tanto Luiza Erundina quanto Fernando Haddad propõe criar uma emissora de rádio e TV pública, ligada ao governo municipal.

De acordo com Eugênio Bucci, professor do curso de jornalismo da USP, a proposta é viável, especialmente devido ao tamanho da metrópole paulistana. "São Paulo tem escala para comportar essas emissoras. Outras cidades da América do Sul, como Montevidéu, têm iniciativas parecidas", diz.

Ele tem ressalvas, porém, quanto à eficiência de uma iniciativa nova, que precisaria ser elaborada completamente do zero. "Uma alternativa melhor seria fazer com que a prefeitura tenha mais participação na TV Cultura, que já é muito paulistana", diz.

"A TV Cultura, com todos os seus problemas, já tem anos de sabedoria acumulada. A prefeitura ainda não sabe como fazer TV. Existe o risco de virar uma politicalha", afirma Bucci.

Ele ressalta também a importância de viabilizar a participação popular nas emissoras, para evitar o aparelhamento político.

Editoria de Arte/Folhapress
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