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Voto facultativo seria ruim, dizem acadêmicos

Jorge Araujo/Folhapress
Cláudio Couto (em primeoro plano), da FGV-SP, e Fernando Limongi, da USP, debatem balanço das eleições municipais
Cláudio Couto (em primeoro plano), da FGV-SP, e Fernando Limongi, da USP, debatem balanço das eleições municipais

"Existe essa visão elitista, que acha que [o voto facultativo] vai tirar o eleitorado que sustentou a corrupção e que vai sobrar o eleitor iluminado, frequentador da faculdade de filosofia da USP –não. Não vai rolar, não é assim que as coisas são."

A opinião foi dada nesta segunda-feira (7) por Fernando Limongi, pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e professor do Departamento de Ciência Política da USP (Universidade de São Paulo), que argumentava contra a adoção do voto facultativo.

Ao lado de Cláudio Couto, professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, ele participou de debate realizado pela Folha e pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) para fazer um balanço das eleições municipais.

O evento foi parte da série Seminários Ilustríssima.

Para ambos, o fim do voto obrigatório traria mais problemas que soluções. "É uma proposta que é baseada em uma expectativa ingênua de como funciona o mundo político", disse Limongi.

"Há uma expectativa de que existem dois tipos de eleitor. Um é bom, convicto, sério, competente, que vota independentemente de se obrigar. E tem o eleitor que só vota porque é obrigado e que é um eleitor mal formado, volúvel, que é o eleitor que traz problema, que deturpa o sistema, que polui o sistema", afirmou Limongi.

"Vamos pegar o caso americano. Quem normalmente não comparece? Hispânico, negro, pobre –você exclui os que já estão excluídos socialmente", afirmou Couto. "Então, a probabilidade no voto facultativo é você aumentar a exclusão dos que já são socialmente excluídos", concluiu.

De acordo com os dois acadêmicos, quando o voto passa a ser voluntário, a grande disputa passa a ser sobre quem vai votar.

"Os políticos se organizam para fazer seus eleitores votar e fazer com que os adversários não votem", explicou Limongi.

Para ele, a proposta do voto facultativo desconsidera a experiência política brasileira na época da República Velha (1889 - 1930), em que "a participação era muito baixa e toda controlada pelo sistema político".

Ele alerta para o perigo de que a população seja mobilizada e instrumentalizada por políticos para ir votar ou não.

DOAÇÕES DE EMPRESAS

Ao comentar uma das maiores mudanças nas regras eleitorais, o fim das doações de empresas, os pesquisadores afirmaram que não houve, por ora, efeito visível.

Para Limongi, essa constatação revela que havia dinheiro de sobra nas campanhas.

"Nessa eleição, se for olhar o resultado prático, caiu o volume de dinheiro disponível e o efeito foi relativamente nenhum. Ou seja, tinha dinheiro em excesso", argumentou.

"E uma sofisticação das campanhas absurda. Se você tem dinheiro disponível, você vai aplicar e vai fazer grupo focal até com formiga, para ver se as formigas vão afetar o dia da votação, você vai jogar dinheiro lá. Então estavam jogando dinheiro no que aparecia na frente", concluiu.

"Inclusive no bolso", acrescentou Couto, diante de risadas da plateia.

As eleições de 2016 foram as primeiras em que financiamento da campanha só pode vir de doações de pessoas físicas, recursos próprios do candidato e recursos do fundo partidário –doações de pessoas jurídicas foram proibidas.

CRISE DO PT

Ao comentar a derrocada do PT, que perdeu espaço nas eleições deste ano, Limongi e Couto discordam da visão de que o eleitorado teria ficado mais conservador.

Para eles, o PT perdeu espaço pois, devido à crise do partido, seus candidatos passaram a ser vistos como menos viáveis pelo eleitor.

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