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'Diante da debacle na economia, São Paulo se planejou bem', diz Haddad

Adriano Vizoni/Folhapress
SAO PAULO - SP - BRASIL, 20-09-2016, 15h15: ENTREVISTA COM O PREFEITO HADDAD. Retrato do prefeito Fernando Haddad durante entrevista realizada no gabinete da prefeitura. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, PODER) ***EXCLUSIVO FSP***
O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição Fernando Haddad (PT)

Candidato à reeleição, o prefeito Fernando Haddad (PT) diz ser prejudicado pelo horário eleitoral reduzido e, em resposta ao ataque adversário, afirma que foi mais à periferia do que Marta Suplicy (PMDB) quando ela comandava a cidade.

Em entrevista à Folha, Haddad criticou Marta, na tentativa de atrair seus eleitores. Em quarto lugar no Datafolha, ele disse que a cidade manteve o nível de investimentos mesmo diante da maior crise econômica dos últimos tempos. Para ele, o antipetismo sempre existiu, mas seu crescimento é "visível". Leia trechos da entrevista concedida à Folha.

Folha - A 15 dias da eleição, é possível reverter o quadro?
Fernando Haddad - Nem sempre a pesquisa corresponde ao resultado das urnas, por duas razões. Uma delas é que as campanhas têm ficado mais curtas, outra porque nas últimas semanas a gente vê reviravoltas. As pessoas estão deixando para a última hora para firmar posição. A quatro dias da eleição de 2012 a Folha me colocava fora do segundo turno.

Dizem que Marta era mais presente na periferia e, por isso, teria muitos votos na região.
A Marta tem cinco eleições majoritárias, foi apresentadora de um programa de TV, tem 30 anos de vida pública, seis eleições e fez um governo, do qual participei, que considero bom.

O que achou de ela falar que nunca se apresentou como de esquerda?
Está tentando justificar o apoio a um governo de direita.

O sr. disse que ela fez um governo bom.
Na primeira metade considero muito bom. Saí porque ela anunciou que faria uma inflexão com a qual o [João] Sayad [ex-secretário de Finanças, de quem Haddad era assistente] e eu não concordávamos.

Como mostrar ao eleitor que o sr. é melhor do que ela?
Foi um governo nosso. Existe um pano de fundo comum aos governos Erundina, Marta e Haddad. Boa parte da equipe da Erundina está comigo. Da Marta, também.

Moradores de periferia dizem-se abandonados. O sr. foi pouco à periferia?
Talvez tenha ido mais do que a Marta. Só creche eu inaugurei cem na periferia. A questão é que o noticiário de 2013 para cá foi tomado por uma agenda que não dialogou com a pauta municipal. Tem emissora que selou fileiras contra a administração desde janeiro de 2013.

Não é confortável associar seu desempenho eleitoral à comunicação?
Estou dando um aspecto. O outro aspecto foi uma decisão de aportar recursos exíguos em publicidade institucional. Talvez eu seja uma pessoa menos midiática. Tem muito da imagem que construíram ou que não deixaram ser construída. Investi R$ 17 bilhões. As ciclovias são zero vírgula alguma coisa disso. Se você pegar o noticiário, o que se falou de ciclovia....

Nas pesquisas, Marta é vista como candidata dos pobres, e ela é do partido de Temer. Mostrar que ela defende o corte dos gastos sociais é sua última cartada?
Não é uma cartada. Na sabatina do UOL ela foi clara em dizer que iria votar a favor da emenda que congela gastos sociais, foi surpreendente.

Se reeleito, o que o sr. vai mudar no seu governo?
Quando se tem um segundo mandato, você colhe os frutos do que semeou. Infelizmente, o PT nunca conseguiu ter um segundo mandato consecutivo. Foi um prejuízo para a cidade não ter dado continuidade à gestão da Erundina e da Marta.

O sr. vai a ocupações de sem-teto e há quem diga que o líder do MTST, Guilherme Boulos, assusta a classe média.
Não vou deixar de dialogar com os movimentos populares da cidade em função de preconceitos.

Quanto pesa ser do PT hoje?
O antipetismo sempre existiu. É visível que ele está maior, não sei estimar o quanto isso pesa.

Não ter a presença de Lula, como em 2012, faz falta?
Outras coisas fazem mais falta. Uma coisa é ter 25% de dez minutos de TV, outra é ter 25% de 30 minutos. As regras mudaram e acabam prejudicando quem não mostrou e tem o que mostrar. Investi R$ 17 bilhões, é um recorde de investimento. Não tenho o tempo necessário para apresentar essas realizações.

Os corredores não saíram do papel no total.
Saíram vários, mais de 50 km, e tem boa parte licitado. Agora, o PAC ter suspenso o repasse de verbas há dois anos impactou. Tem dois anos de suspensão do PAC e do Minha Casa, Minha Vida.

O sr. não atingiu todas as metas autoimpostas.
Na plenitude, não.

Para o eleitor, quando se fala em construir 55 mil moradias, tem que ser o quanto antes.
Mais de 35 mil entregues ou em obras com dois anos de mandato. Você tem um plano de R$ 24 bilhões de investimentos, que era nosso pacote, realiza R$ 17 bilhões. Significa que o plano de metas que você faria em quatro anos, você faria em cinco ou cinco e meio. Com uma recessão de 7% nos últimos dois anos, dizer que a pessoa à frente da prefeitura teve baixo desempenho à luz do que pretendia é não se ater aos fatos. O Brasil vive a maior recessão da história há dois anos. É natural que os cronogramas sejam estendidos um pouco. Se você comparar com o governo do Estado (PSDB) em relação ao planejamento do Metrô, não tem termo de comparação. Ali, não se entrega nada por uma década. Diante da debacle que aconteceu na economia, acho que São Paulo se planejou bem. Em drenagem, fiz mais do que o previsto.

O que o sr. acha que o Doria ficou qualificado como candidato que defende os ricos ao propor que os pobres usem os hospitais de madrugada?
O Doria só fala em privatizar. Então isso acaba sendo associado. A quem pode interessar vender Interlagos, um pulmão no coração da zona sul quase do tamanho do Ibirapuera? Pelo valor que ele quer vender, só pode ser para especulador imobiliário. Os ambientalistas do PSDB enfiam a viola no saco e ficam quietos? Cadê os ambientalistas? Lá é 40 vezes maior do que o parque Augusta e vai atender gente muito pobre. Então, está estranho.

Por que o sr. diz que está estranho?
Porque as pessoas estão se deixando levar só pelo Fla x Flu, não estão analisando o que está sendo veiculado. A Marta defender a PEC do teto não faz nenhum sentido. Imaginar que esse país por 20 anos vai suportar corrigir gastos sociais só pela inflação não faz sentido. Se feita há dois anos, essa proposta causaria uma comoção. Imagine se eu propusesse vender Interlagos no meio da discussão do plano diretor. Ninguém nunca aventou uma barbaridade dessas [vender Interlagos] e aparece um candidato do nada e diz que vai vender para fazer R$ 5 bilhões de caixa. A mesma cidade que estava vivendo um período de efervescência sobre seu futuro convive com uma ideia estapafúrdia dessas sem grandes comoções. O único indignado aqui é o que vos fala.

Só isso te deixa indignado, mais nada?
Estou citando um exemplo. A PEC 241 [que limita gastos sociais] me deixa indignado. Fui o ministro da Educação que mais expandiu. Peguei um orçamento de R$ 20 bilhões e entreguei um de R$ 100 bilhões. Fiz universidades federais e escolas técnicas no Brasil inteiro, creche, educação especial, a Educação começou a melhorar a partir de 2005. Isso tudo exigiu investimento, não só gestão.

O senhor cobra essa indignação de seus adversários?
Eu acho que a Marta não deveria dar apoio a isso. Não é coerente com o que ela defendeu. Ela mudou de lado, não mudou só de partido. Ela sabe das consequências disso para a população de baixa renda.

A maioria de seus adversários diz que é contra o Braços Abertos [programa de redução de danos na Cracolândia]. Dá para defender o programa quatro anos depois, já que o problema continua?
Os jornais diziam que havia 1.500 pessoas na cracolândia. Hoje tem 500, reduzimos em dois terços, não é nada desprezível. Os beneficiados são mais 500, que já estão em hotéis mais distantes da Luz. Quatro quintos desse total reduziu o uso de crack substancialmente. Não seria razoável fazer uma enquete com os beneficiados para saber se eles melhoraram de vida antes de liquidar o programa?

Editoria de Arte/Folhapres
RX Fernando Haddad
(fo1l).
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