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'Fora da eleição, Paes corre para igreja', diz Crivella

Divulgação
Marcelo Crivella (PRB) discursa em evento político
Marcelo Crivella (PRB) discursa em evento político

O senador Marcelo Crivella (PRB), 58, tenta pela quinta vez superar a rejeição à Igreja Universal numa eleição a cargo majoritário. Pela terceira vez, tenta a Prefeitura do Rio.

Embora busque afastar o tema de sua campanha, não se furta a comentar contradições dos adversários que o atacam por ser bispo licenciado da denominação criada por seu tio, Edir Macedo.

"Quando não tem eleição o Eduardo Paes corre lá para a igreja o tempo todo. Recentemente, foi na Igreja Universal do Recreio inaugurar uma estação do BRT que ele deu o nome de estação Catedral", afirmou ele nesta quarta-feira (28), em entrevista à Folha.

Ex-ministro da presidente Dilma Rousseff, diz não considerar uma traição seu voto a favor de seu afastamento. Disse que ela é uma "dama ilustre" que "perdeu a capacidade de governar num momento de crise".

Chamado de "traidor" por Lula, ele considera que o ex-presidente está sendo perseguido.

"Amanhã ou depois ele há de entender meus motivos."

*

Folha - Qual sua avaliação sobre o início do governo Temer?
Marcelo Crivella - Uma luta tremenda. Um déficit orçamentário gigantesco e uma obrigação de cobri-lo. O Congresso deverá buscar um equilíbrio. Prevejo imensas dificuldades no governo para conseguir maioria no Congresso. Sobretudo tendo em vista o processo político que deu a ele o governo. Deixou também uma quantidade enorme de inconformados.

Pelas contas do impeachment e do próprio Planalto, o governo tem perto de dois terços. Está errado?
Todo mundo tem dois terços até a hora da votação. Ali é uma pressão tremenda. As centrais [sindicais], as federações, a internet. É um dilúvio de ódios e paixões. É imprevisível.

Um dos temas é o teto de aumento de gastos. Qual sua avaliação sobre ele?
Os países já desenvolvidos têm hoje um teto de gasto muito acima do Brasil. É preciso ter responsabilidade fiscal. Isso causa inflação, destrói emprego e corrói salário. Mas não se pode levar o país a uma convulsão. Se houve cortes dramáticos nos direitos do trabalho e nas aposentadorias, muito pequenas, tudo é possível.

O teto pode afetar sua gestão, caso eleito?
O Eduardo Paes, por mais voluntarioso que tenha sido nessa insânia de ser o dono da festa e assumir todos os gastos da Olimpíada com imenso prejuízo a saúde e educação, ele teve o beneplácito do Senado que mudou o índice [de reajuste da dívida] de IGP para IPCA. Só aí caiu R$ 4 bilhões a dívida. Mesmo que passe no Senado, não vejo condições de não manter os índices constitucionais atuais [obrigatórios para saúde e educação].

O sr. foi ministro da presidente Dilma Rousseff e votou a favor do impeachment. Quando mudou sua percepção sobre o governo?
No mesmo momento que o povo brasileiro. Apoiei o afastamento da presidenta para que o país pudesse sair da crise e ela também pudesse ter tempo de se defender. Disse que o Senado tinha que ser justo, e não justiceiro, parafraseando uma linda frase de padre Antônio Vieira. Acho que foi isso que prevaleceu. A presidente perdeu a capacidade de governar numa época de crise. Isso é mortal e exige uma mudança de rumo. Mas é uma dama ilustre, que não havia praticado nenhum deslize. Não merecia ser afastada da vida pública. Tenho a consciência tranquila. O povo brasileiro decidiu. Eu apenas apertei a tecla do voto.

Como o sr. vê a situação do ex-presidente Lula?
Ele tem sido de certa forma perseguido. Ainda não há provas concretas contra ele. Ele nega com veemência. Ainda não vimos o que vimos de outros: contas no exterior, coisas indesculpáveis. Honestamente, espero que o ex-presidente Lula consiga responder a todos esses processos e esclareça os assuntos.

Ele chamou o sr. de "traidor" num comício.
Trair é se eu tivesse me eleito com povo e pego dinheiro com empreiteira. Nunca fiz e nunca farei. Nem sempre a gente pode exercer a bondade quando os imperativos da justiça apontam outro caminho. Amanhã ou depois ele há de entender meus motivos.

Ele vai subir no seu palanque no segundo turno?
Prefiro trabalhar na hipótese de que vou vencer no primeiro turno.

Com 11 candidatos seria uma eleição inusual.
São 11 candidatos, mas quem é o segundo colocado? É o branco e nulo. Isso já indica. O povo do Rio está pensando em decidir no primeiro turno.

Numa entrevista em 2013 sobre a Fazenda Canaã, o sr. disse ser encantador que as crianças do projeto rezem antes da refeição. "Só depois que elas falam 'amém' é que elas comem", o sr. disse. A escola é um local para evangelização?
A Fazenda Canaã não é uma escola pública. É uma fundação. Ali, das 700 crianças, cerca de 600 são católicas desde a pré-escola. Cerca de 100 são evangélicas. A Bahia é maciçamente católica. As professoras quase todas são católicas. Elas fazem a oração que é comum a católicos e evangélicos antes da refeição. Não existe uma preocupação de doutrinar as crianças a serem da igreja, sobretudo a Universal. Mas que elas possam também agradecer a Deus. Não vejo mal nisso. Nunca falei para as pessoas fazerem nada disso. Mas elas fazem. E eu não iria dizer para não fazerem.

Numa escola pública, como funcionaria?
Só se for voluntário. Se os professor e os diretores, com os pais dos alunos, decidirem que deve ter, aí pode ter. Se decidirem que não deve ter, aí não deve ter.

A Prefeitura do Rio manteria o patrocínio à parada LGBT em sua eventual gestão?
Acho que deve manter. A prefeitura deve dar apoio a todas as manifestações democráticas, inclusive das minorias. Isso tem que ser respeitado.

E a Marcha para Jesus?
Também é uma manifestação democrática. Mas não quero assumir compromissos com ninguém. Estou assumindo um município em que está caindo a arrecadação, aumentando o serviço da dívida e com uma carência enorme no sistema de saúde. Como eu prefeito não vou priorizar essas pessoas com hérnia, pedra de vesícula, rins e precisando de cirurgias graves? A prioridade é saúde e educação.

O sr. diz que nunca misturou política com religião. Mas em 2005 o sr. questionou como senador o Ministério da Fazenda sobre a apreensão no aeroporto de Brasília de R$ 10 milhões em espécie que seriam doação à Igreja Universal. Não é uma mistura?
Esse caso foi uma questão de justiça. Naquele caso houve uma intervenção indevida do Estado. Seria assim em qualquer outra atividade. A Justiça provou que eu estava certo. Os recursos foram devolvidos. Por que o Estado tem que intervir dentro de uma igreja, seja ela qual for? Misturar política com religião é pegar dinheiro do Estado e levar para a igreja. Mas se eu sou contra isso, tenho que ser contra o Estado pegar o dinheiro da igreja. Isso também é misturar política com religião.

O sr. também criou o Dia da Marcha para Jesus.
Nós somos um país cristão, católicos e evangélicos. Eles me pediram. Temos o dia de tudo no calendário. A Marcha para Jesus recebe obrigatoriamente recursos orçamentários? Não. Cabe ao município, Estado decidir. Misturar política com religião seria tentar doutrinar sua religião sobre as demais, persegui-las, trazer financiamento ou taxar as que você não gosta. Isso eu prometo que não vou fazer.

O que sr. acha de entidades religiosas fazendo atendimento de drogados?
Se houver uma assistência técnica, com presença de médico, psicólogos, psiquiatras... Aquele ambiente cristão de solidariedade, amizade, de experiência... O que eu vejo que funciona, em momentos de abstinência, quando as pessoas ficam muito angustiadas, é ter ao lado não só os tratamentos terapêuticos e remédios, mas alguém que diga: "Eu já passei por isso". Traz alento. É isso que eu vejo nessas instituições católicas, evangélicas.

Em muitos casos há o suporte religioso. O sr. acha adequado?
Se for voluntário, se as pessoas desejarem, não há nada de errado nisso. Pragmaticamente falando, se olhar os números de sucesso dessas instituições, são alvissareiros.

Em determinado momento o sr. chegou a articular uma saída para o PSB. Por que pensou em sair do PRB e por que não se concretizou?
Foi talvez o convite mais honrado que recebi na minha vida pública. Um anônimo senador ser convidado para presidir o PSB. Isso me encheu de júbilo. Aqui no Rio, meus colegas que vivem mais de perto essa perseguição implacável da mídia, dizendo que misturo política com religião, identificaram que seria uma maneira extraordinária de mostrar que isso não é verdade. Lá em Brasília encontrei problemas. Não tive a genialidade política de mostrar isso aos meus colegas, talvez porque estejam distantes das crises que vivemos aqui. Foram veementemente contra. Eles alegaram que se ganhasse eleição, o estigma de que o PRB é um partido de igreja ficaria comprovado. Eles disseram: "Precisamos que você vença no nosso partido. Depois pode até sair. Mas antes, não". Não queria deixar o partido estigmatizado e fechar as portas. Para os evangélicos seria uma coisa redentora ter um evangélico convidado para presidir um partido laico. O PRB é laico, até hoje há pessoas que nem evangélicas são. Mas os adversários exploram isso. Essas acusações só são feitas na época eleitoral. Quando não tem eleição o Eduardo Paes corre lá para a igreja o tempo todo. Recentemente, ele foi na Igreja Universal do Recreio inaugurar uma estação do BRT que ele deu o nome de estação Catedral. No discurso dizia da gratidão que tem pela igreja. Na eleição ele diz que é um perigo alguém da igreja assumir a prefeitura. Em outro partido pacificaria isso. Mas as pesquisas mostram que esse problema está sendo vencido.

E a aliança com o [ex-governador Anthony] Garotinho vale a pena pelo tempo de TV? Não pode aumentar a rejeição?
A aliança que eu fiz com o PR é uma aliança política, indicou o vice, Fernando Mac Dowel, um professor da Coppe/UFRJ especialista em trânsito. Essa foi a nossa aliança. Não há nada de errado nisso.

Qual sua avaliação sobre o legado olímpico?
Precisamos verificar o preço do BRT. Agora tem uma linha exclusiva em que as empresas de ônibus gastam menos tempo para cumprir o itinerário. Um motorista de ônibus articulado que leva duas vezes e meia o número de passageiros. Gasta menor freio, embreagem e combustível. Construímos pontes e túneis, fizemos remoções que custaram muito ao Rio. E a passagem aumentou acima da inflação. Quero que esse legado olímpico seja realmente para o povo. O governo tem que ser para as pessoas.

O contrato da PPP do Parque Olímpico continua?
Os contratos assinados devem ser respeitados. Isso não impede que nós possamos conversar.

Uma de suas propostas é construir nove estacionamentos, alguns no centro. Especialistas criticam essa proposta por estimular o uso de carro onde ele deve ser evitado. Por que faz essa promessa?
Foi uma exigência dos comerciantes. Todas as grandes metrópoles que incentivam o uso do transporte público, muito mais barato e maior do que o nosso, também tem estacionamentos. Nós precisamos incentivar [o uso de transporte público], não obrigar.

Nas principais metrópoles há um aumento na restrição do uso de carros particulares nas áreas centrais.
Não é a falta de estacionamento que estimula o uso do transporte público em substituição do carro privado. É a qualidade e o bom preço.

Como sr. pensa em reduzir o preço?
Precisamos conversar. Vou ficar rouco de tanto ouvir. Tenho certeza que essas pessoas [empresários de ônibus] são bem intencionadas. São empresários que também vivem as suas controvérsias. Tem ônibus queimados, já passaram por momentos dificílimos. Nós precisamos garantir que haja viabilidade econômica para eles. Mas é preciso que eles entendam que o nosso povo está sacrificado, com alto nível de desemprego.

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