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Aos 85, inimigo dos sem-terra tenta 4º mandato de prefeito no interior de SP

Ele já deteve uma marcha de sem-terra com máquinas da prefeitura, se envolveu publicamente em conflitos familiares e diz ter conhecido "um mensageiro de Deus" que o fez erguer, com recursos próprios, um santuário religioso que atrai mil pessoas aos fins de semana.

Aos 85 anos, Agripino Lima (PMDB) tenta seu quarto mandato como prefeito de Presidente Prudente (a 570 km de São Paulo). Ele também já foi vereador por duas legislaturas, além de deputado estadual e federal.

Eleito prefeito pela primeira vez em 1992, protagonizou dez anos depois o episódio mais emblemático de sua carreira política. O então prefeito usou máquinas e funcionários públicos para bloquear uma rodovia estadual e impedir que uma marcha com cerca de mil pessoas, promovida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), chegasse à cidade.

João Wainer - 29.jan.2002/Folhapress
Agripino Lima durante fechamento de rodovia para evitar passagem de marcha de sem-terra, em janeiro de 2002
Agripino Lima durante fechamento de rodovia para evitar passagem de marcha de sem-terra em 2002

Na época, chamou o então líder do MST, José Rainha Junior, para uma "contenda de mãos limpas" e disse que os sem-terra só entrariam em Presidente Prudente se passassem "por cima de seu cadáver".

Depois do impasse, um dia depois, a marcha seguiu seu curso. O Ministério Público abriu inquérito para apurar a conduta do prefeito, mas o caso foi arquivado.

Agripino nunca fez questão de esconder seu comportamento explosivo. Na campanha de 2004, disse que iria "chutar a bunda da Sabesp", em referência à estatal que faz a gestão de água e esgoto na cidade.

Neste ano, afirmou que vai "cortar com foice" os radares instalados no ano passado. É saudado com gritos de "o gigante voltou" nos bairros onde faz campanha.

CARROCEIRO MILIONÁRIO

Ex-carroceiro, caminhoneiro e vendedor de enciclopédias, Agripino iniciou sua carreira nos anos 70, quando era professor.

Além do controle de uma universidade, ele possui propriedades rurais, além das concessões de uma rádio e da TV Fronteira, afiliada da Rede Globo –da qual seu filho, o ex-deputado federal Paulo Lima, é sócio majoritário. À Justiça Eleitoral declarou ter R$ 10,4 milhões em bens.

Seu nome e os de seus filhos já figuraram em boletins de ocorrência por disputas pela diretoria da universidade. Chegou a trocar socos com o primogênito e a agredir a ex-mulher, segundo registros da Polícia Civil –o ex-prefeito nunca comentou as supostas agressões.

Muito religioso –anda com um grande crucifixo pendurado no pescoço–, Agripino ajudou a construir, com recursos próprios, 15 igrejas na periferia da cidade.

Mas a maior obra é o Santuário Morada de Deus, com as estações da Via Sacra representadas por monumentos em tamanho real. O ex-prefeito conta que recebeu a "missão" de construir o santuário de um "mensageiro de Deus" em outubro de 2000.

Na Justiça, ele é investigado em uma série de ações, de enriquecimento ilícito a fraudes fiscais e lavagem de dinheiro. Em 2005, quando era prefeito, foi cassado por improbidade administrativa por dispensar licitação para a compra de equipamentos para um planetário na cidade. Ficou inelegível até o ano passado.

A própria candidatura deste ano gera especulações, pela idade avançada –é o oitavo candidato a prefeito mais velho do país. A desconfiança é reforçada por um pedido de renúncia à candidatura, assinado pelo próprio Agripino e entregue por dois de seus filhos à Justiça Eleitoral em agosto.

No dia seguinte, no entanto, outro documento, também assinado por ele, pede a revogação da renúncia, que foi aceita. Nos últimos dias, Agripino tem se mantido recluso e não faz mais campanha nas ruas.

Ele concorre com mais sete candidatos. O atual prefeito, Milton Carlos de Mello (PTB), que foi secretário de Agripino e seu antigo afilhado político, hoje apoia o promotor licenciado Nelson Bugalho, do mesmo partido, em coligação com o PSDB. São ainda candidatos professora Regina Penati (PT), Fábio Sato (PPS), Professor Donizete (PSOL), José Lemes Soares (PRB), Daniel Grandolfo (SD) e João Claudio da Silva, o Dodô (PT do B).

A reportagem tentou contato com filhos, ex-mulher e o próprio Agripino, além do diretório do PMDB local, mas eles não se manifestaram.

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