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Ao votar pela primeira vez, imigrantes dizem se sentir em casa

O voto durou poucos segundos. Ao sair da cabine eleitoral, Ahmad Serieh, 49, já queria participar do pleito novamente. "Se tiver segundo turno, posso votar outra vez?", perguntou esse imigrante sírio na saída de sua seção eleitoral, no centro de São Paulo, antes de saber que a cidade elegera João Doria (PSDB) prefeito neste domingo (2).

Foi a primeira vez que Serieh votou no Brasil e pode escolher entre mais de um candidato. Depois de viver seis anos no país, ele se naturalizou brasileiro em outubro do ano passado, assim como outros 1.438 estrangeiros, segundo dados do Ministério da Justiça. Uma média de 1.500 estrangeiros se naturalizam por ano.

Para ter direito ao processo, um estrangeiro deve ter permanência no Brasil, morar no país há pelo menos quatro anos, saber ler e escrever português e não ter condenação superior a um ano. Imigrantes que moram aqui costumam pedir a naturalização para poder prestar concursos públicos ou adquirir o passaporte brasileiro, que permite a entrada em mais países que o sírio, por exemplo.

Imigrante naturalizado vota pela primeira vez em São Paulo

Assim, Serieh, um arqueólogo com mestrado e doutorado adquiridos na Polônia, onde viveu por 15 anos, preparou-se para votar, entusiasmado com a possibilidade de usar uma urna eletrônica.

Quando vivia na Síria, escolhia, num pedaço de papel, entre "sim" ou "não" para um candidato único. O primeiro pleito que passou a aceitar mais de um candidato aconteceu em 2014, quanto Serieh já estava no Brasil. Bashar al-Assad, no poder desde 2000, venceu novamente.

Na quinta (29), Serieh assistiu aos debates entre os candidatos. Depois, disse ter lido entrevistas feitas com eles. Procurou um vereador ligado às áreas de cultura e habitação. Decidiu votar no prefeito Fernando Haddad (PT) –elogiou as ciclofaixas feitas por ele e a abertura da avenida Paulista para pedestres– e em Nabil Bonduki (PT) para a Câmara. Doria, diz Serieh, "também tem boas ideias para a cidade".

Na tarde deste domingo (2), Serieh guardou no bolso da camisa um papel onde anotara o número dos candidatos e saiu em direção à faculdade onde votaria, no centro. Ali, perguntou à reportagem: "Todos aqui vão votar na mesma pessoa?".

Com a ajuda de um fiscal, identificou a sala no quinto andar. Sentou ao lado de um mesário: "é minha primeira vez, não sei como usar".

Na urna, abriu um sorriso. Alguns segundos depois: "Já?". Já. Recebeu o comprovante do voto, que depois diria guardar como lembrança, e comentou, surpreso: "Apareceu a foto do candidato! Não sabia". "Achei que fosse durar um tempão, ter filas... Não teve fila alguma!"

"Agora me sinto mesmo um brasileiro. É importante votar para sentir que tenho uma identidade. E escolher o prefeito porque essa é a minha cidade, é o meu lar agora. Quero acompanhar seu desenvolvimento."

PENSAR COMO BRASILEIRO

Foi também a primeira vez que o chileno David Alejandro Vera, 36, um analista de sistemas, votou. Apesar de morar no Brasil desde 1986, quando veio viver com os primos, ele se naturalizou apenas em 2013 para poder participar de concursos públicos.

"A gente se sente excluído. Pensamos e agimos como brasileiros, mas não podemos votar", afirma ele, que conta ter ficado "completamente perdido" no pleito deste domingo (2).

Uma amiga lhe dissera que cada um teria que votar em três candidatos à Câmara Municipal, o que lhe fez anotar três números de pessoas para digitar na urna. Outra dúvida que não conseguiu esclarecer: podia votar em prefeito e vereador de partidos diferentes? Acabou votando dessa forma: João Doria (PSDB) –"um administrador"– para a prefeitura e Eduardo Suplicy (PT) – "não há indícios de que tenha errado"– para a Câmara.

"É uma sensação interessante saber que estamos participando. Há algum tempo, nem ligava para isso [política]. Depois, comecei a me interessar e a me educar."

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