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Metódico e centralizador, Doria gosta de cultivar amizade com pessoas importantes

Avener Prado/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 02-10-2016 - O candidato Joao Doria comemora a sua vitoria no primeiro turno da eleicao municipal, no comite eleitoral. (Foto: Avener Prado/Folhapress, ELEICOES)
O candidato João Doria comemora a sua vitória no primeiro turno da eleição municipal, no comitê eleitoral do PSDB

Quatro dias antes do primeiro turno, um vídeo de João Doria começou a circular. "Meus amigos, eu sou João Doria, candidato a prefeito da cidade de São Paulo", ele dizia no início. "Estou vindo aqui conversar com você porque quero pedir o seu apoio ao Orlando Morando."

A peça não era para a capital, mas para São Bernardo. Era um sintoma. De ilustre desconhecido até dos paulistanos, Doria havia chegado, na reta final da campanha, ao posto de puxador de votos para o PSDB na região metropolitana do Estado.

Aos 58 anos, João Agripino da Costa Doria Junior nunca havia disputado uma eleição. Gosta de se apresentar como empresário e jornalista. Usou os dois cartões de visita como ativos para sua eleição.

Fez da antipolítica —em especial do antipetismo— sua principal bandeira. Já a experiência como entrevistador e apresentador de um reality show na TV Record, levou para a propaganda na TV.

Geraldo Alckmin é ovacionado em festa da vitória de Doria

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Doria aplicou como poucos o manual de marketing pessoal. Acusado de ser o "candidatos dos ricos" e ridicularizado pelo visual "coxinha", deixou o terno e a gravata nos cabides e passou a desfilar com visual mais casual, ainda que refinado.

Abandonou a malha de cashemere nos ombros, que havia se tornado a definição de seu estilo. E para dissipar a pecha, passou a comer coxinha em público.

Desenvolveu um discurso para rebater o que inicialmente foi vendido como uma se duas fragilidades.

Dizia que, não, não era o candidato dos ricos. Era "o" candidato rico.

Com quase R$ 180 milhões em patrimônio declarados à Justiça Eleitoral, passou a afirmar que comprou mansões e bens com o "próprio dinheiro" e que trabalhava "desde os 14 anos".

Apesar da fama autoproclamada de gestor eficiente, as nove empresas de Doria empregam, juntas, apenas 112 funcionários.

Ele montou e presidiu o grupo Lide, que reúne uma série de empresários em encontros com agentes políticos e personalidades influentes. Há quem defina o que ele faz como lobby, entre eles seus adversários na eleição paulistana. "Eu não sou lobista", rebatia.

Com um discurso favorável a privatizações e redução de despesas públicas, recebeu aportes em suas empresas de pelo menos R$ 10,6 milhões de entes estatais desde 2005 —R$ 6 milhões desses vindos das gestões petistas de Lula e Dilma Rousseff.

PASSADO POLÍTICO

Apesar de se apresentar como um sujeito alheio à política, Doria já foi nomeado para cargos na esfera pública. Foi assim, por exemplo, que conheceu seu principal padrinho político, o governador Geraldo Alckmin.

"Conheci o Doria no governo Montoro. Mas foi no governo Covas que convivemos mais intensamente, porque ele ajudava muito a dona Lila [Covas]", contou o governador à Folha.

Nessa época, Doria foi secretário de Turismo e presidente da Paulistur.

O prefeito eleito é casado com uma artista plástica, Bia Doria. Os dois estão juntos há 29 anos. Se conheceram quando ele chefiava a Embratur, em 1987. Ela era assessora do órgão. Saíram juntos, namoraram e depois de seis anos, casaram-se.

Após o primeiro filho, João Doria Neto, hoje com 22 anos, fez a mulher escolher entre a loja de roupas que ela mantinha e o casamento. "Fiquei com o casamento", contou ela à Folha, em julho.

Hoje, ele é um dos maiores incentivadores da produção de Bia. Atua para buscar patrocínios às exposições da mulher, inclusive entre dirigentes de órgãos públicos com os quais têm contato, como no caso da Apex (Agência federal de fomento à exportação), ainda durante o governo de Dilma Rousseff.

O casal também tem Felipe, 15, e Carolina, 14.

Durante toda a eleição, tentou modular o discurso antipolítico usando um exemplo familiar. "Eu respeito os políticos", dizia. "Sou filho de um". Seu pai, João Doria, era deputado federal, amigo próximo do ex-governador André Franco Montoro.

Foi cassado pela ditadura e se exilou na França, onde se reencontrou com Montoro. Até hoje as famílias se frequentam, especialmente em Campos do Jordão (SP), onde ambas têm casa.

O prefeito eleito gosta de cultivar amizades com gente importante. Costuma organizar visitas à sua casa de campo, com programação que inclui jantar em frente à lareira e visitas a shoppings de luxo.

Com Alckmin, desenvolveu laços fortes. Foi Doria, por exemplo, quem disponibilizou uma aeronave para que o governador pudesse chegar até o local onde o filho caçula, Thomaz, morreu após um acidente aéreo, ano passado. Doria trata o governador como um valioso conselheiro político.

Descrito como uma pessoa que escuta muito, mas apenas por deferência, teve em Alckmin, em seu marqueteiro, Lula Guimarães, e no cientista político e consultor Antonio Lavareda os principais palpiteiros de sua eleição.

A fama de agregador, porém, foi abalada com o racha que a sua candidatura causou no PSDB. O desgaste foi dos momentos mais difíceis para Doria no processo.

Da mesma forma, informações que contrariassem a imagem de gestor incomodaram. Quando foi chamado de lobista por um desafeto no Facebook, o tucano entrou com uma ação na Justiça contra o autor das publicações.

Doria é centralizador. Na campanha, seguiu seu instinto em boa parte das decisões, as quais tomou em geral sozinho. Opinou até em detalhes miúdos de sua campanha, como o número de santinhos que seriam impressos.

Também tem mania de organização. Certa vez, chegou a alinhar o crachá no pescoço do governador durante um discurso.

Quem conviveu com ele de perto durante a eleição diz que Doria replica mesmo em ambientes privados a personalidade que exibe na televisão.

"Há a percepção de que é um personagem? É um personagem bem feito", disse um aliado, ao confidenciar que chega a ser "irritante" ter de acompanhar o ritmo.

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