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ANÁLISE

Negação da política e voto útil definem eleição de Doria

A eleição de João Doria (PSDB) no primeiro turno em São Paulo só começou a ser vislumbrada a partir de sábado (1º) à noite, após a divulgação da última pesquisa Datafolha mostrando mais um crescimento do tucano, agora de nove pontos, em um período de apenas cinco dias.

Sua forte ascensão, assim como as quedas contínuas de Russomanno e Marta, contrastando com a subida constante de Haddad, permitiam concluir que a eleição poderia terminar no primeiro turno, e caso isso não acontecesse, a disputa seria entre o tucano e o petista.

Foi a eleição do voto útil, da negação consciente da política e do eleitor conectado. Na véspera da votação, havia 25% de paulistanos que, mesmo indicando seu voto, admitiam ainda mudar. São os que aguardam os últimos momentos, as últimas informações que recebem e buscam para tomar a decisão definitiva.

Entre os eleitores de Russomanno que na véspera cogitavam mudar o voto, a maior parte (39%) escolhiam João Doria como a opção mais provável. O mesmo acontecia com os eleitores de Marta. Cerca de um terço acenava com a possibilidade de mudar para o tucano e outros 29% afirmavam que poderiam mudar para Haddad.

Reprodução
Veja o mapa de votos de São Paulo
Veja o mapa de votos de São Paulo

No dia da eleição, a migração manteve-se na direção das tendências da última semana —uma onda intensa de conversão para a candidatura Doria, de antipetistas que queriam a vitória do tucano no primeiro turno, e o crescimento lento e contínuo de Haddad, dos que buscavam evitar duas forças à direita no segundo turno.

A disputa não foi suficiente para despertar a adesão de parcela significativa do eleitorado. Diante da crise de representação que domina o cenário político, a abstenção chegou a 22% na capital paulista, taxa que foi 18% em 2012 e 16% em 2008. Brancos e nulos também cresceram —17% do total contra 13% em 2012 e 8% em 2008.

Sobre o resultado da eleição, o candidato que vence em São Paulo, de marketing bem calculado, personifica o protesto do eleitor no epicentro das manifestações pró-impeachment. Com alta renda e escolaridade, empresário e "antipolítico", Doria capitalizou os reflexos das crises nacionais sobre os valores locais, utilizando aquele mais caro ao paulistano —o trabalho. O discurso encontrou aderência em diferentes segmentos da população, mesmo em redutos historicamente refratários a candidatos de perfil elitizado.

A rapidez com que a mensagem foi absorvida, especialmente numa campanha de tiro curto, mudou a dinâmica do processo eleitoral e a cidade tem, pela primeira vez, desde a redemocratização, um prefeito eleito em primeiro turno.

O episódio mostra também a importância das pesquisas eleitorais de véspera no processo de decisão e compreensão da dinâmica do voto.

Eleições em São Paulo - Percentuais obtidos pelos vencedores do 1º turno

Fora da conta - Votos não válidos no 1º turno

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