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Com cara de improviso, memes ganham espaço nas campanhas oficiais

"O Haddad mente e coloca mil radares/ e os companheiros ele tenta acobertar", diz o "jingle" de campanha de um dos vereadores mais bem votados em São Paulo.

Quem cresceu no começo dos 2000, porém, talvez conheça os versos da música como "com a minha mente, vou a mil lugares/ e a imaginação me dá forças pra voar".

É que a campanha de Fernando Holiday (DEM), adaptou o vídeo de abertura de "Dragon Ball Z", popular desenho animado japonês exibido na televisão brasileira a partir de 1999, para a campanha.

"Como achamos ridículo um candidato usar jingle para campanha de vereador, fizemos uma paródia da abertura do anime que pudesse nos divertir", afirma Fred Rhaul, do MBL (Movimento Brasil Livre), do qual Holiday, 20, faz parte.

A paródia fez sucesso na internet, conseguindo mais de 72 mil visualizações na página do vereador mais jovem da cidade.

Usados como ferramenta de campanha pelo menos desde a campanha presidencial de 2014, os memes ganharam força em 2016, aparecendo tanto nas propagandas oficiais, como no caso da candidata à Prefeitura de São Paulo Luiza Erundina (PSOL), que os usou para chamar a atenção em seus dez segundos de propaganda eleitoral na televisão, como para desqualificar adversários.

Reprodução/Facebook Luiza Erundina
Vídeo comparou Erundina ao corredor jamaicano Usain Bolt. A candidata tinha um programa de 10 segundos no horário eleitoral
Vídeo compara Erundina ao corredor Usain Bolt. A candidata tinha 10 segundos no horário eleitoral

Segundo Ricardo Sékula, pesquisador da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), os meios de comunicação tradicionais ainda têm papel importante nas campanhas, mas há uma migração para as redes sociais. "É uma tentativa de conseguir novos eleitores, que tem uma linguagem muito de internet, de perfil mais jovem", afirma.

Atingir uma faixa etária mais jovem era de fato o objetivo de Pedro Ekman, publicitário responsável pela campanha de Erundina, 81, mais conhecida entre os eleitores mais velhos. Ele, no entanto, afirma que o meme ultrapassa barreiras de idade. "Tem uma linguagem mais palatável aos mais jovens, mas quando você é eficiente, os mais velhos acabam sendo atingidos também", diz.

NEGATIVOS

Os "memes positivos", como chama a professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Luciana Panke não são os únicos cujo uso cresceu de 2014 para cá. De acordo com ela, também aumentou o uso de imagens de humor criadas para ridicularizar os adversários, vinculadas à campanha do candidato ou não.

"Normalmente não é feito por eleitores, mas pelas equipes de marketing, mas viraliza sem sabermos a fonte", afirma ela. Há casos, porém, em que o meme "negativo" é feito também pela campanha. É o caso da imagem, também publicada na página de Holiday, que usa um meme popular com o cantor americano Drake para opô-lo ao candidato petista Eduardo Suplicy (PT) –outro adepto dos memes de campanha e que foi o vereador mais votado.

Divulgação/MBL
Meme' da campanha do vereador eleito Fernando Holiday (DEM) ataca Eduardo Suplicy (PT)
'Meme' da campanha do vereador eleito Fernando Holiday (DEM) ataca Eduardo Suplicy (PT)

"Nesse sentido, o meme cumpre a função que o jingle tinha no começo", diz ela. "Eles surgiram com a função de tirar sarro, de ridicularizar o adversário."

Para Sékula, uma terceira possibilidade de exploração dos memes em campanhas políticas está no próprio discurso dos candidatos. "Há discursos oficiais ou que vão para a TV que tem um potencial de virar meme, e muitas vezes há um interesse de instigar isso para que se propague mais facilmente na internet", afirma ele.

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