Governo do RJ dá bolsa a jovens para criarem medidas de melhoria ambiental na periferia

Ambiente Jovem, do governo do Rio, quer que alunos criem propostas para melhorar sustentabilidade em seus bairros

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Rio de Janeiro

Óleo de cozinha usado, pneus velhos e até sabonetes desgastados podem virar matéria-prima para novos produtos. É o que aprendem os alunos da iniciativa Ambiente Jovem, que, a partir de resíduos, criam projetos sustentáveis e descobrem na prática que o lixo de um é o tesouro de outro.

Liderado pela Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro, o projeto é voltado a jovens de comunidades de baixa renda, que ganham uma bolsa de estudos para a ação. Ao longo do curso, que dura de seis a nove meses, eles aprendem sobre ciências da natureza, participam de oficinas com materiais recicláveis e, ao fim, executam planos para resolver um problema ambiental da região onde vivem.

Larissa Eugenio, 25, foi aluna do Ambiente Jovem em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro
Larissa Eugenio, 25, foi aluna do Ambiente Jovem em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro - Divulgação

As turmas são separadas em núcleos de pertencimento (NUPs) de até 50 pessoas, presentes em 41 cidades. Segundo Thiago Pampolha, secretário de Ambiente e Sustentabilidade e vice-governador do estado, o objetivo é concentrar a atuação dos grupos para abarcar demandas específicas de cada local.

"Por meio de oficinas e com acompanhamento dos professores, do quadro técnico, os alunos recebem capacitação para implementar projetos que beneficiam a comunidade", afirma.

Para participar, os jovens devem ter entre 16 e 24 anos. Eles recebem uma bolsa mensal de R$ 200 se estiverem presentes em pelo menos 75% das atividades.

As aulas ocorrem entre uma e duas vezes por semana. Na primeira etapa do curso, as turmas abordam temas como ciclos biológicos, mudanças climáticas e hábitos de consumo que impactam a natureza.

Ações externas, algumas em parceria com empresas privadas, também integram a rotina dos alunos. No último ano, eles fizeram visitas a espaços como o AquaRio, aquário marinho na capital do estado, e o BioParque, antigo Jardim Zoológico.

De acordo com Clarisse Rocha, coordenadora de projetos socioambientais da Secretaria do Ambiente, os jovens passam a entender os desafios em suas comunidades a partir dos conhecimentos adquiridos no curso.

"No começo, os alunos não têm noção dos problemas ambientais. A gente começa construindo essa percepção, para que, na segunda fase, eles consigam pensar no que mais impacta a população", diz Rocha. É nessa etapa que eles elaboram um plano de intervenção local, com propostas para a comunidade.

Um dos projetos de destaque foi feito em Três Rios, cidade próxima à divisa com Minas Gerais, onde alunos produziram ecobarreiras para bloquear a passagem de lixo nos rios e evitar enchentes. Já em Campo Grande, na zona oeste do Rio, foram coletados pneus para construir lixeiras de resíduos orgânicos e recicláveis.

Neste ano, os dez melhores projetos, com maior aderência e impacto, vão receber um financiamento da AgeRio (Agência Estadual de Fomento) para serem implementados.

Além do projeto final, os participantes desenvolvem produtos menores ao longo do curso. As turmas criaram sabão em barra feito com sabonetes usados e óleo de cozinha, além de roupas, terrários e até instrumentos musicais a partir de materiais descartados.

Clarisse Rocha, que também é professora do NUP de Chacrinha, comunidade na zona oeste da capital fluminense, diz que muitos passam a vender os itens que aprenderam a construir nas aulas.

"Vários deles se descobriram profissionalmente, e eu já tenho alunos que estão ganhando dinheiro com o que aprenderam. É um ensino de empreendedorismo que acontece na prática", afirma.

Segundo o vice-governador Thiago Pampolha, as prefeituras ajudam no recrutamento do programa. Ele afirma que há uma busca por pessoas que possam representar lideranças em suas comunidades.

"Os jovens viram a expressão ambiental da comunidade, e, muitas vezes, são até consultados para tomada de decisões", diz Pampolha.

Alunos do Ambiente Jovem plantam árvores em Seropédica, na Baixada Fluminense
Alunos do Ambiente Jovem plantam árvores em Seropédica, na Baixada Fluminense - Divulgação

Larissa Eugenio, 25, foi participante da primeira edição do Ambiente Jovem, mas continua atuante no programa. Em casa, ela passou a fiscalizar o descarte de lixo da família, e a separar os orgânicos dos recicláveis.

A estudante, que cursa geografia na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), diz que uma parte importante foi a troca de experiência com outros alunos.

"Eu tento incentivar outras pessoas. Muitos jovens não estavam na faculdade, e nem pensavam nisso. No meu NUP, em Bangu [zona oeste do Rio], eu sempre batia nessa tecla de que a educação é importante. Hoje, recebo mensagens de jovens de outros grupos me falando que passaram para a universidade", afirma.

Thiago Pampolha diz que o projeto surge para promover a educação para a sustentabilidade, que, segundo ele, ainda não tem um padrão federal.

Embora estabelecida como lei em 1999, a Política Nacional de Educação Ambiental enfrenta embargos para ser aplicada, de acordo com Leonardo Kaplan, professor da faculdade de educação da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

"A disciplina ocorre de forma pontual, por iniciativas de poucos professores, e acontece em ações que, em geral, não têm continuidade. Daí a importância de políticas públicas para que a educação ambiental se torne uma modalidade, e que a relação entre sociedade e natureza seja estabelecida de uma maneira sustentável."

Segundo o vice-governador, há um diálogo entre a secretaria que lidera e a de Educação para avaliar uma possível implementação da disciplina nas escolas estaduais.

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