Quem poluiu o planeta foi quem fez a Revolução Industrial, diz Lula em Paris; veja vídeo

Presidente convidou público de festival de música a conhecer a Amazônia na COP30

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Paris

"A Amazônia é um território soberano do Brasil, mas, ao mesmo tempo, pertence a toda a humanidade", afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em discurso para uma multidão que participava do festival Power Our Planet nesta quinta-feira (22) em Paris.

O discurso presidencial aconteceu em uma brecha para participações de líderes globais em meio aos shows de artistas como Billie Eilish e Lenny Kravitz.

Lula discursa em palco
Lula em discurso no evento Power Our Planet, em Paris, nesta quinta (22) - Stephanie Lecocq/Reuters

"Vamos ser duros com toda e qualquer pessoa que quiser derrubar uma árvore para plantar soja, milho ou criar gado", continuou Lula, que reforçou os números sobre a proteção da Amazônia e a larga oferta de energia renovável no país, uma exceção diante da dependência de fontes fósseis no resto do mundo.

Lula voltou a defender que os países ricos paguem pela conservação ambiental nos países em desenvolvimento.

"Não foi o povo africano que poluiu o mundo. Não foi o latino-americano. Na verdade, quem poluiu o planeta nos últimos 200 anos foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial e, por isso, têm que pagar a dívida histórica que têm com o planeta Terra", afirmou, sob aplausos e gritos da plateia.

Lula em Paris
Presidente Lula discursa no evento Power Our Planet, em Paris, nesta quinta - Ricardo Stuckert/Presidência da República

Outro momento de aplausos aconteceu quando Lula reforçou o compromisso —feito pelo Brasil para o Acordo de Paris, assinado em 2015— de zerar o desmatamento até 2030.

Em uma fala de cerca de seis minutos, Lula ainda fez um convite à plateia para ir conhecer a Amazônia durante a COP30 do Clima, conferência sobre mudanças climáticas da ONU que será sediada na cidade de Belém no final de 2025.

O evento Power Our Planet é um festival de música que busca atrair atenção e recursos para combater a crise do clima e desigualdades sociais. Lula foi convidado para o evento pelo vocalista do Coldplay, Chris Martin. Em turnê na Itália, a banda britânica, no entanto, não faz parte da programação.

O festival, que é promovido pela organização Global Citizen, acontece em frente à Torre Eiffel.

Assista abaixo a trecho do discurso de Lula:

Lula chegou a Paris nesta quinta-feira para participar da Cúpula do Novo Pacto Financeiro, organizada pela França para debater a reforma de instituições financeiras multilaterais, como o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional).

O objetivo do evento é encontrar propostas e recursos para os países, especialmente os mais vulneráveis, lidarem com as mudanças climáticas.

O presidente brasileiro almoçou nesta tarde com a ex-presidente Dilma Rousseff, hoje à frente do banco dos Brics. Também à tarde, fez reuniões bilaterais com chefes de Estado de África do Sul, Cuba e Haiti.

Lula ainda se reuniu com o presidente da COP28, Sultan al-Jaber, do governo dos Emirados Árabes Unidos.

Na conversa com Jaber, Lula buscou demonstrar total apoio à presidência da COP28, de olho na evolução das negociações que aterrissam no Brasil em 2025, quando o país sedia a COP30.

A crítica feita por diversos países ao conflito de interesses de Jaber, que preside a petroleira estatal Adnoc, não deve ser compartilhada pelo Brasil, que vê a escolha do presidente da COP condicionada à soberania do país-sede.

Mais de cem chefes de Estado estão em Paris para a Cúpula do Novo Pacto Financeiro, liderada pelo presidente francês, Emmanuel Macron. O anfitrião deve receber Lula para um almoço nesta sexta (23).

A abertura da cúpula, na manhã desta quinta, foi marcada por um momento de tensão entre a organização do evento e uma ativista do Greenpeace. "Faça com que os poluidores paguem", dizia uma faixa assinada pela ONG ambientalista, rapidamente estendida por uma mulher à frente do palco da cerimônia, diante de uma plateia de chefes de Estado e de governo, diretores de bancos e instituições multilaterais.

O ato durou poucos segundos. "Não precisamos de você para saber que os poluidores devem pagar, nós já o taxamos", disse ao microfone o ministro francês da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, enquanto a ativista era retirada do evento por um segurança.

A reação de Le Maire vem na esteira de uma crise do ambientalismo com o governo francês, que dissolveu o movimento ecologista Soulèvements de la Terre (em português, Revoltas da Terra) após acusá-lo de atos violentos.

A União Europeia taxa, dentro do bloco, os combustíveis fósseis conforme a quantidade de carbono emitido. O bloco também aprovou, no final de abril, uma taxa de carbono para importações, que deve passar a valer a partir de 2026.

A criação de taxas —por exemplo, sobre transações financeiras e também sobre a emissão de carbono do transporte marítimo— está entre as propostas da França para aumentar a receita do financiamento climático destinado a países em desenvolvimento.

No entanto, as ONGs ambientalistas têm criticado a manutenção dos subsídios dados por governos em todo o mundo ao setor de petróleo e gás, o que mais contribui para as emissões de gases-estufa, causadores da crise climática. A União Europeia tem elevado os investimentos em gás e carvão para se livrar da dependência do gás russo, em razão da Guerra da Ucrânia.

A retomada da confiança entre os blocos de países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento é um dos objetivos que um novo pacto financeiro busca atingir. Na abertura do evento, um discurso do economista Amar Bhattacharya buscou fornecer a garantia do cumprimento da doação de US$ 100 bilhões para o clima —prometidos em 2009— em 2023, conforme a Folha adiantou.

"O progresso significativo da mobilização de recursos para o clima sugere uma alta chance de entrega em 2023", ele afirmou.

De acordo com o alto escalão do governo francês, o montante já foi alcançado, mas o teor do anúncio foi amenizado para que os países doadores possam dividir o protagonismo sobre o resultado na COP28.

Os três estão de pé diante de um painel com logotipo do evento
Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI, Emmanuel Macron, presidente da França, e Ajay Banga, presidente do Banco Mundial, na abertura da Cúpula do Novo Pacto Financeiro, em Paris, nesta quinta (22) - Ludovic Marin/Pool/AFP

Ao discursar nesta tarde durante a cúpula, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, confirmou o atingimento também de outra meta: a de distribuir a países em desenvolvimento o equivalente a US$ 100 bilhões em Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês), mecanismo que funciona como uma moeda complementar à reserva dos países.

O anúncio já era esperado pelos países que participaram de grupos de trabalho de preparação para a cúpula, como parte de uma estratégia de retomada da confiança entre os blocos de países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento, que vêm cobrando promessas de financiamento feitas nos últimos anos.

Em 2021, o FMI havia anunciado a distribuição de US$ 650 bilhões em Direitos Especiais de Saque, mas boa parte se destinava a países desenvolvidos —cerca de US$ 160 bilhões foram para o bloco europeu, enquanto os países africanos ficaram com apenas US$ 24 bilhões.

A diferença de distribuição foi criticada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e pela primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, ainda na abertura da cúpula.

A repórter viajou a convite da Embaixada da França no Brasil.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

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