Descrição de chapéu mudança climática

Governo da França dissolve movimento ecologista acusado de violência

Decisão contra grupo Soulèvements de la Terre é criticada pela esquerda

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

RFI

O governo da França dissolveu nesta quarta-feira (21), durante uma reunião do Conselho de Ministros, o coletivo ambientalista SLT (Soulèvements de la Terre; em português, Revoltas da Terra), acusado de "convocar" e "participar" de atos de violência.

A decisão é criticada pela esquerda, num contexto de urgência de ações contra as mudanças climáticas. Nos últimos meses, o grupo se mobilizou em diversas frentes para denunciar projetos de infraestrutura e seus efeitos na natureza.

"Não se dissolve uma revolta", reagiu o grupo no Twitter, conclamando o apoio público. "As ações ressurgirão em todos os lugares, com ou sem a dissolução", acrescenta a mensagem do coletivo.

Jovens jogam sprays de água em pintura do resto do ministro feita em um painel transparente
Membros do grupo Soulèvements de la Terre jogam água em uma caricatura do ministro do Interior da França Gérald Darmanin em protesto em Angouleme - Yohan Bonnet - 19.abr,2023/AFP

Para o governo, "o uso da violência não é legítimo no Estado de Direito e é isso que está sendo sancionado", explicou o porta-voz do governo francês, Olivier Véran, após o Conselho de Ministros. Este grupo "não foi dissolvido por suas ideias, mas pela modalidade de ação", destacou Véran.

"Sob o pretexto de defender a preservação do meio ambiente", este movimento "incita à prática de sabotagens e danos materiais, inclusive pela violência", escreve o governo em seu decreto de dissolução.

"Nenhuma causa justifica atos particularmente numerosos e violentos" a que "convoca e provoca" e "nos quais participam os seus membros e simpatizantes", observou o ministro do Interior, Gérald Darmanin.

Para sustentar esse argumento, o governo francês lista uma série de ações realizadas pelo SLT que resultaram em "destruição material" e "ataques físicos contra policiais".

A ativista sueca Greta Thunberg repudiou a dissolução do grupo. "É um tema vinculado ao direito de se manifestar e à defesa da vida", declarou a ativista, ao lado de membros do SLT. "Espero que mais pessoas se manifestem contra o que ocorre neste momento e defendam o direito de protestar", acrescentou.

Em seu site, o grupo se apresenta como "jovens revoltados" que "cresceram em meio à catástrofe ecológica". O texto fundador do movimento data de março de 2021. Ele diz que os participantes lutam "para produzir uma comida saudável, financeiramente acessível", denunciando a agropecuária extensiva.

Grupo de ciclistas em uma estrada; algumas bicicletas têm bandeiras
Ciclistas em protesto convocado pelo grupo Soulèvements de la Terre para denunciar extração de areia para uso na indústria perto de Nantes - Sebastien Salom-Gomis - 11.jun.2023/AFP

O processo de dissolução do coletivo foi iniciado em 28 de março, poucos dias após violentos confrontos entre agentes de segurança e opositores à construção de grandes reservatórios de água para agricultura em Sainte-Soline (Deux-Sèvres), pelos quais o governo atribuiu a responsabilidade ao movimento, na época acusado de "ecoterrorismo" e de praticar atos de sabotagem. As autoridades foram acusadas de lançar "uma grande operação repressiva".

O procedimento ficou bloqueado por mais de dois meses, sendo retomado após uma nova manifestação apoiada pelo SLT, neste fim de semana, contra a ligação ferroviária entre Lyon e Turim, marcada por fortes confrontos. Entre 3.000 e 7.000 pessoas participaram dos protestos ocorridos no sábado (17) que terminaram em confrontos com a polícia.

"Vamos à Justiça e acreditamos na possibilidade de uma vitória judicial para derrubar essa decisão, como já aconteceu com outras dissoluções por motivos políticos nos últimos anos", reagiu o coletivo SLT.

Detenções de ativistas

Paralelamente à dissolução, acontece uma onda de detenções de ativistas ambientais, no âmbito da investigação de uma ação datada do final de 2022 contra uma fábrica de cimento da empresa francesa Lafarge, na Provença, e que havia sido apoiada pelo SLT.

Segundo informou uma fonte à AFP, dezesseis pessoas ainda estavam sob custódia nesta quarta-feira. Essas prisões foram feitas na região do Loire-Atlantique, em particular em Notre-Dame-des-Landes, e na região de Marselha.

A dissolução do coletivo e as prisões foram denunciadas por uma parte da esquerda francesa.

"Vejo um verdadeiro desvio e uma perda de compostura", afirmou nesta quarta-feira o deputado ambientalista Julien Bayou. "O presidente da República continua a criminalizar os movimentos sociais, isso é perigoso", disse ele a jornalistas na Assembleia Nacional.

"Vão ficar como aqueles que finalmente não entenderam nada das questões" do clima, comentou no Twitter a deputada EELV (Europa, Ecologia e Os Verdes) Sandrine Rousseau, citando o presidente Emmanuel Macron, a primeira-ministra Élisabeth Borne e o ministro do Interior Gérald Darmanin.

O líder do partido de esquerda radical A França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, lamentou nesta terça-feira (20) que os ativistas tenham sido "reprimidos como terroristas, o que não são", julgando que eles deveriam ser ouvidos.

A Liga dos Direitos Humanos denunciou um "questionamento das liberdades de associação, manifestação, expressão, bem como dos direitos de defesa" e apelou à "adesão às manifestações de apoio" no SLT.

Em um comunicado de imprensa, o movimento Greenpeace França denuncia a dissolução do coletivo SLT como uma "instrumentalização da lei para violar as liberdades individuais".

(Com informações da AFP)

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.