Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
A cara do cana
O delegado Espinosa, personagem de Luiz Alfredo Garcia-Roza, será interpretado por Lázaro Ramos no cinema
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“O Silêncio da Chuva”, romance de estreia de Luiz Alfredo Garcia-Roza que recebeu os prêmios Nestlé (1996) e Jabuti (1997), vai virar filme pelas mãos do diretor Daniel Filho. Para interpretar Espinosa, personagem que ao longo de dez livros se tornou o mais conhecido cana dura da literatura brasileira, foi convocado o ator Lázaro Ramos.
E aí, gostou da escolha? Para você, Lázaro Ramos tem a cara do Espinosa e vice-versa? É sempre complicado quando um personagem que vive na nossa cabeça de leitor assume uma forma física tão identificada. O primeiro a ter consciência disso é o próprio Garcia-Roza, que jamais forneceu uma descrição pormenorizada do delegado da 12ª DP, em Copacabana.
Há algumas pistas. No romance “Espinosa Sem Saída”, o sexto da série, sabemos que ele está com 43 anos, “não engordara, o abdome ainda estava bem delineado, o pequeno pneu que se insinuara na cintura era desprezível, não estava careca nem de cabelo branco —um ou outro fiozinho nas têmporas— e músculos e juntas funcionavam”. Sua maior característica é moral: uma ética inquebrantável.
A razão de tão parcas indicações passa pela leitura de Dashiell Hammett, um dos autores preferidos de Garcia-Roza. Ou melhor, pela criação mais famosa de Hammett, o detetive Sam Spade. A figura física de Spade está atrelada à de Humphrey Bogart, que o personificou no filme “Relíquia Macabra”, de 1941. Foi ótimo para a divulgação do livro e um ponto alto na carreira de Bogart, mas, de certa forma, o ator matou o personagem.
Sou vizinho de Garcia-Roza, a quem costumo encontrar a caminho do metrô, no Flamengo. Ele me disse que, se um dia Espinosa tiver o seu Humphrey Bogart, não irá lamentar. Até lá, porém, prefere que cada leitor possa imaginá-lo mais redondo ou menos calvo.
Curioso: sempre achei o Lázaro Ramos a cara do Bogart. Vai dar certo.
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