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Série em parceria entre a Folha e a Conspiração Filmes. Narrativas enviadas pelos leitores poderão se transformar em episódios audiovisuais criados pela produtora. Veja como participar no fim do texto

Descrição de chapéu festa junina

Encontrei minha esposa depois de casar com outra em uma festa junina

Bêbados de vinho quente, nos abraçamos e dormimos e, tímido das palavras, dei um beijo nela

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Anderson Borges Costa

Professor e escritor, mora em São Paulo

Sou tímido, pouco falo, muito escuto. Criança quieta, adolescente silencioso, economizava palavras. O português era uma língua com a qual as minhas cordas vocais não vibravam.

Jovem, aprendi inglês, para, quem sabe, me animar a ser menos tímido. Para pagar o cursinho pré-vestibular, aos 18 anos, comecei a dar aula de inglês.

Como professor, tinha que falar, mas, mais do que falar, tinha que ensinar pessoas a falar.

Falava pouco, mas uma colega professora, a Luciana, gostou de mim e me convidou para ir ao Café do Bexiga, na rua Treze de Maio, em São Paulo. Ela comemorava seu aniversário, no dia 13 de maio, um sábado.

Havia cerca de 20 pessoas no grupo de amigos de Luciana. Além da aniversariante, eu não conhecia ninguém —e não falei com ninguém. Meu silêncio olhou para uma amiga da Luciana, a Solange, que se sentava ao lado do seu namorado. Luciana me apresentou para a Solange, que me apresentou para seu namorado, que não me apresentou para ninguém.

Voltei para minha casa e, quieto, fui dormir. Solange voltou para sua casa, e o namorado se separou dela antes de deixá-la em casa. Triste, ela foi dormir dentro de uma lágrima.

Em junho, a Luciana me convidou para ir à festa junina com ela. Em um sítio em Suzano, onde amigos da Luciana fariam uma comemoração com fogueira, vinho quente e quadrilha com o tradicional casamento caipira.

Na festa, eu pouco falei. Não queria ir. Não queria ver pessoas. Não queria falar. Eu teria prova na segunda-feira, precisava estudar. Luciana insistiu e eu nada disse, mas fui à festa.

Fui escalado para ser o noivo; Luciana, a noiva. Nos casamos na festa junina. Eu, quieto, bebia vinho quente. Bebi o equivalente a uma garrafa e me embriaguei. Não falei, mal me aguentei em pé. Fui levado para o quarto, me deitaram em uma cama. Me deixaram lá, quieto, bêbado.

O silêncio no quarto me mostrou que, ao lado, uma moça se deitava, também quieta, também bêbada de vinho quente.

“Venha para cá. Deite-se comigo”, eu falei. E a moça veio. Nos abraçamos e dormimos.

De madrugada, lá fora, a festa continuava. Eu havia me casado na festa junina. Embriagado, eu dormia na minha noite de núpcias caipiras com uma mulher que silenciava um mistério no sono que dividia comigo.

Eu acordei e, tímido de palavras, dei um beijo na moça. Era Solange, com quem, 33 anos após esse silencioso e quente beijo, eu continuo casado até hoje.

​Para participar da série Casos do Acaso, o leitor deve enviar seu relato para o email casosdoacaso@grupofolha.com.br. Os textos devem ter, no máximo, 5.000 caracteres com espaços e precisam ser inéditos, não podem ter sido publicados em site, blog ou redes sociais. As histórias têm que ser reais e o autor não deve utilizar pseudônimo ou criar fatos ou personagens fictícios.

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