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Colunista do New York Times desde 2008 e comentarista da rede MSNBC, é autor de “Fire Shut Up in My Bones"

Descrição de chapéu The New York Times

Plano da nova direita é fazer campanha implacável para restabelecer a supremacia branca

Extremistas lutam contra o progresso nos EUA e tentam promover visão universal sobre a opressão

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The New York Times

Chris Rufo, o homem que orquestrou o ataque à teoria crítica da raça, chamou a atenção para uma nova questão no início deste mês.

"Os conservadores precisam deslocar a luta da ideologia para a estrutura administrativa", escreveu nas redes sociais. "Ganhamos o debate contra a TCR [teoria crítica da raça]; agora é hora de desmontar a DEI."

DEI é a sigla de "diversidade, equidade e inclusão", conceito que vai muito além do prisma meramente racial da teoria crítica da raça, penetrando nos mundos da etnia, da orientação sexual, de gênero, da identidade de gênero, de idade e de classe social.

O deputado republicano Chip Roy, do Texas - Leah Millis - 25.jan.23/Reuters

O que Rufo está propondo é a distorção e a demonização de práticas e áreas legítimas de pesquisa acadêmica. Ele admitiu isso num post no Twitter em 2021, quando ainda estava visando principalmente a teoria crítica da raça: "O objetivo é que o público leia alguma coisa maluca no jornal e imediatamente pense ‘teoria crítica da raça’", escreveu. "Decodificamos o termo e vamos recodificá-lo de modo a anexar a ele a gama completa de construções culturais impopulares entre os americanos."

Políticos republicanos eleitos se apressam a dizer amém aos pontos que Rufo menciona. O deputado Chip Roy, do Texas, por exemplo, amplificou o post de Rufo neste mês sobre avançar do combate à "ideologia" para o combate à estrutura administrativa inteira. Rufo "está falando minha língua", disse Roy.

Esse é o mesmo Roy que votou contra a lei que converteu em feriado federal o dia 19 de junho, conhecido como Juneteenth, o dia da emancipação dos escravos nos EUA. Ele foi um dos 14 deputados da Câmara a fazê-lo, com o argumento de que isso criaria "um Dia da Independência separado baseado na cor da pele".

É o mesmo Roy que numa audiência no Congresso alguns anos atrás citou um "ditado antigo" que aparentemente celebrava o linchamento: "Procure todas as cordas do Texas e um carvalho bem alto".

E é o mesmo Roy que foi um dos apenas três deputados a votar contra a Lei Emmett Till Contra o Linchamento, dizendo que ela "apenas intensifica a punição" por delitos que já são crimes federais, "num esforço de promover uma agenda woke sob o disfarce de corrigir a injustiça racial".

Enquanto isso, Roy vem promovendo sua "Lei de Restauração do Enfoque Militar", um projeto de lei que ele apresentou primeiramente dois anos atrás e que, se for aprovado, eliminará o cargo de chefe de diversidade e inclusão do Departamento de Defesa. Em 2022 o senador Marco Rubio apresentou uma legislação complementar no Senado. Juntos, os dois homens divulgaram um relatório sobre influências políticas nas Forças Armadas intitulado "Combatentes de Guerra Wokes".

O relatório, que mostrava na capa uma imagem de seis cartuchos fixos à parte de trás de um capacete, cada um portando uma bala com as cores do arco-íris, evocou repetidas vezes o reverendo Martin Luther King Jr. enquanto criticava as tentativas do Pentágono de lidar com o racismo nas fileiras militares.

O relatório também tratou das pessoas trans que prestam serviço militar e recebem atendimento que afirma seu gênero, além do que caracterizou como a promoção pelas Forças Armadas "da identidade e autoatualização individual nos esforços de recrutamento e retenção de recrutas, especialmente na comunidade LGBTQ+." Neste ano, uma semana apenas antes de responder ao post de Rufo, Roy voltou a apresentar o projeto de lei, desta vez a uma Câmara controlada por republicanos.

Esta luta contra a DEI não se limita a instituições públicas e estruturas administrativas. Rufo mira também a América corporativa. Em julho, publicou o que descreveu como uma pesquisa sobre a "programação" de todas as empresas da lista Fortune 100 e descobriu que todas haviam adotado programas de DEI, incluindo os "que promovem as variações mais virulentas de teoria crítica da raça e ideologia de gênero".

Em abril passado, quando o governador da Flórida, Ron DeSantis, sancionou uma lei limitando a DEI nos locais de trabalho, Rufo o comparou a Teddy Roosevelt e elogiou sua estratégia "musculosa" de combate à "prevaricação corporativa". "Os conservadores", escreveu, "precisam partir desses esforços e levá-los adiante, desenvolvendo uma agenda ampla para resistir à ideologia de esquerda na América corporativa".

Rufo enxerga a Flórida como a sementeira de sua censura, o lugar onde ela pode deitar raízes e se espalhar, e o Texas já seguiu o mesmo exemplo. No início deste mês, apenas alguns dias depois de DeSantis ter anunciado planos para proibir faculdades estaduais de terem programas de ensino sobre DEI, o gabinete do governador texano, Greg Abbott, divulgou um memorando alertando agências estaduais e líderes de universidades públicas que o uso de DEI nas contratações é ilegal.

Foi exatamente esse o receio de Kimberlé Crenshaw, professora de direito na UCLA e na Universidade Columbia, que exerceu papel de liderança no processo de converter a teoria crítica da raça em disciplina:

"Eles começaram com a TCR. Depois passaram para as leis ‘Não Diga Gay’ [que proíbem a discussão da homossexualidade ou identidade transgênero em escolas públicas]. Agora estão querendo excluir todos os estudos negros. Não vai demorar para abrangerem todos os estudos étnicos. Já os estamos vendo atacar a diversidade, equidade e inclusão no ensino superior. E a coisa vai ficar feia para valer quando eles atacarem a diversidade, equidade e inclusão nas grandes empresas."

Este é o plano estratégico da nova direita: uma campanha implacável para restabelecer e fortalecer a estrutura de poder hétero, cis, patriarcal e supremacista branca.

Nas palavras de Crenshaw: "Essa campanha não vai se satisfazer com uma vitória. Esta é apenas uma escaramuça numa batalha mais ampla para converter o racismo em algo do qual não se pode falar e, basicamente, para limitar o poder de negros, pessoas queer, mulheres e praticamente todo o mundo que não concorda com a agenda de recuperação deste país proclamada pelo grupo MAGA [sigla para 'faça a América grande de novo', slogan usado por Trump]".

Na verdade, cada vitória vista como tal vai apenas incentivar os extremistas. O objetivo deles é vencer a guerra contra o progresso. É um esforço muito grande para realizar algo difícil. Eles querem ampliar a abertura conservadora, numa tentativa de suprimir e reverter, de promover uma visão universal sobre a opressão, de aplicar pressão uniforme. Como disse Crenshaw, "creio que esta é a batalha pela hegemonia dos próximos cem anos".

Tradução de Clara Allain

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