Jornalista e comentarista de política
Delírio tropical
Por ação golpista ou omissão, Bolsonaro é cúmplice na trama da sedição
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Onde já se viu golpe de Estado por escrito? Estamos vendo agora que a polícia encontra provas da existência de uma conspiração no entorno do então presidente Jair Bolsonaro para tentar anular o resultado da eleição de 2022.
É uma minuta ali, um projeto passo a passo de sublevação aqui, e o que temos são manuais de ataques à legalidade. Dada a falta de cerimônia dos conspiradores e o receio nenhum de deixar rastros, é de se concluir que não contavam com a hipótese de punição, uma vez descobertos.
Pelo teor dos roteiros até agora conhecidos, eles se imaginavam como inventores de uma nova ordem institucional. Aquela pela qual abateriam a democracia alegadamente mantendo-se nos limites das "quatro linhas" da Constituição, sem dar bandeira de que se tratava de um motim.
Caminhavam num universo paralelo. Na minuta encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres propunha-se uma delirante intervenção predial na sede do Tribunal Superior Eleitoral.
No plano registrado no celular do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, previam-se a nomeação de um "interventor" autorizado a suspender "atos inconstitucionais" de tribunais superiores, remoção de juízes inimigos, fixação de data para novas eleições e até decretação de estado de sítio.
Sem apoio no Alto Comando das Forças Armadas, no Congresso, na maioria da opinião pública, na quase totalidade dos veículos de comunicação e no Judiciário, mais provável que acabassem todos presos.
Bolsonaro ficou em silêncio ante os apelos para que deflagrasse o processo, o que não o livra de responsabilidade. Ao contrário. Poderia ter cortado aquele mal pela raiz, mas não o fez. Nenhum gesto ou palavra de condenação à conspirata.
Assim, o ex-chefe da nação se torna cúmplice dos artífices da trama. Por ação golpista ou por omissão ante a trama da sedição.
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