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O que aconteceu com o maravilhoso e estapafúrdio tradutor de títulos?

Ninguém vai entender se você disser que sente saudades da série 'Como eu Conheci sua Mãe' ou de 'Amigos'

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"Você já viu ‘Euphoria’?" "Ainda não, tô terminando ‘Succession’." Impossível falar sobre séries sem esbarrar em termos em inglês de difícil pronúncia —pra mim (Euphória? Euphoría Suskechion? ​Suchession?).

Por aqui, não traduzimos título de série. Ninguém vai entender se você disser que sente saudades da série "Como eu Conheci sua Mãe". Se confessar que assistia a "Amigos", vão achar que você se refere ao encontro anual de duplas sertanejas —coincidentemente também formado por seis integrantes (o Zezé sendo claramente o nosso Joey).

Ilustração publicada em 3 de maio - Catarina Bessell

A não tradução do título das séries me enche de alívio e tristeza. Alívio —porque nossas traduções eram estapafúrdias e motivo de chacota. Tristeza —pelo mesmo motivo. Afinal, vivo de chacota, e a tradução dos filmes foi, durante muito tempo, um manancial de piadas, o pré-sal da classe humorística.

O Brasil traduziu o título filme "Annie Hall" como "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa". Para além da injustiça de chamar a personagem distraída de "nervosa", no filme ninguém se casa nem sequer noiva. Pra ser justo, tinha que chamar "Namorado Neurótico, Namorada Maconheira".

Cometeram a proeza de traduzir "The Sound of Music" por "A Noviça Rebelde", esse título mais adequado a um filme pornô de baixo orçamento. Aposto que muita gente foi ao cinema esperando ver ao menos um seio, e deve ter sido muito broxante assistir a crianças cantoras fugindo do nazismo.

Nossos distribuidores gostavam de ver pecado onde não tinha. Traduziram "Persona", do Bergman, por "Quando Duas Mulheres Pecam" e "Um Bonde Chamado Desejo" por "Uma Rua Chamada Pecado" —que é o nome mais estranho que uma rua já teve, desde Aspicuelta.

A cinebiografia do John Lennon se chama "Nowhere Boy", ou "O Garoto de Lugar Nenhum", mas no Brasil se chama "O Garoto de Liverpool". Sim, resolveram corrigir o original. Afinal descobriram que não é verdade que John Lennon vem de lugar nenhum. E não convém aqui enganar o espectador. Isso sem falar em "Blue Valentine", sobre um casal que termina, que no Brasil se chama: "Namorados pra sempre". Inauguraram um novo conceito, o de falso spoiler.

Impossível não assistir a um filme que se chama "Uma Babá Quase Perfeita", título que ameniza bastante a história de um cara que se disfarça de governanta pra entrar na casa da ex-mulher.

Peço, por favor, que voltem a traduzir os títulos. "Euphoria", que tem esse título insosso, faria muito mais sucesso na mão dos nossos criativos. Quem não assistiria a "Uma Turminha do Pecado"?

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