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Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

Descrição de chapéu Folha Mulher

Participação feminina no esporte aumentou, mas há espaço para avançar mais

Nas áreas de gestão e comissões técnicas o avanço não foi tão significativo

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Parece redundante afirmar que o esporte é uma atividade que nasceu e se afirmou como masculina, mas eu insisto nesse tema. É sempre bom lembrar que a começar das escolas do século 19, onde o esporte passou a ser praticado e as regras dos jogos definidas, passando pelos campeonatos até chegar à primeira edição olímpica, o esporte era considerado dos e para os homens. Por meio dele se afirmavam a virilidade, a coragem, a força e uma vida pública totalmente compatível com um papel considerado masculino. O século 20 transformou essa representação social radicalmente.

Passado todo um século algumas questões relacionadas à presença feminina na esfera esportiva avançaram. Pouco a pouco as mulheres conquistaram o direito de competir em modalidades como a prova dos 800 metros, no atletismo, da maratona, do salto com vara ou das lutas como o judô e o boxe. A ciência não foi capaz de segurar em suas mãos o argumento de que as mulheres eram frágeis e incapazes de participar dessas provas. Isso porque as mulheres também conquistaram espaços preciosos nas universidades e nos laboratórios de pesquisa, acabando assim com uma profecia autorrealizadora de incapacidade de muitos feitos, tanto acadêmicos como esportivos.

Se no campo competitivo essa realidade sofreu importantes transformações, na gestão e nas comissões técnicas o avanço não foi assim tão significativo. Na década de 1990 teve início a uma política de cotas, instituindo a obrigatoriedade do preenchimento de determinados números de postos em confederações e comitês olímpicos. Não precisou de muito tempo para se perceber que além das vagas era preciso capacitação para que os cargos fossem ocupados com competência. Acostumadas a desafios, as mulheres rapidamente se empoderaram e atualmente marcam presença com habilidade e eficiência nas altas esferas do esporte internacional.

No Brasil, entretanto, essa ainda não é uma prática comum. Tomando o Comitê Olímpico do Brasil como referência observa-se que a Assembleia Geral, instância maior de deliberação, é o retrato de um cenário obsoleto. Composta pelos brasileiros membros do COI, presidentes de confederações e representantes dos atletas a desigualdade é alarmante. Há apenas uma mulher presidente entre 39 confederações e apenas 5 entre os 12 representantes dos atletas são mulheres. Ou seja, há ainda muito o que construir.

Esse desequilíbrio não é casual.

Embora os atletas sejam a razão de ser do esporte são eles também a parte mais frágil da estrutura esportiva. Sujeitos a um sistema nem sempre transparente lutam para sobreviver às muitas mazelas que os inserem ou retiram das grandes competições. Some-se a isso diferentes tipos de assédio que foram naturalizados ao longo de décadas e apenas agora passam a ser tratados não apenas como imorais, mas também ilegais. No topo da cadeia alimentar estão os dirigentes que definem índices, verbas e comissões técnicas, que em efeito cascata definem a vida dos atletas. Quando observada essa estrutura de poder entende-se porque ali se encontram nenhuma ou poucas mulheres.

A meio-campista Andressa passa por marcadora durante jogo da seleção brasileira feminina de futebol - Christopher Hanewinckel - 2.mar.19/USA Today Sports

A membrana que reveste o poder é muito resistente e quase impermeável. Mas, graças a mulheres que entenderam que era preciso ocupar espaços determinados como masculinos que faz esse texto hoje ser publicado.

Que haja na história do esporte outras tantas Aídas, Jackies, Irenices, Soraias. É tempo de multiplicar Maria Helenas, Emilys, Camilas, Rosicleas, Yukos e Letícias para as posições de técnica e presidentes. Esse é o futuro que desejo para o esporte.

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