Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Assédio está cada vez mais evidente no esporte e atinge não só mulheres

Atletas começam a expor o que se passa em uma relação marcada pela verticalidade

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O ex-médico da seleção americana de ginástica Larry Nassar foi condenado em 2016 por abuso sexual de atletas
O ex-médico da seleção americana de ginástica Larry Nassar foi condenado em 2016 por abuso sexual de atletas - Rebecca Cook/Reuters
São Paulo

A origem do patriarcado está diretamente associada à sedentarização de tribos e povos nômades. Fixados à terra, esses povos precisavam garantir a linearidade familiar para conservar a propriedade cultivada. E assim começa o jugo feminino. Diante da indefinição sobre a paternidade, era preciso preservar as genitoras para garantir o futuro dos descendentes.

Nas sociedades em que a mulher tinha a mesma consideração que a propriedade, cabia a ela a reserva da vida privada e uma boa saúde para gerar filhos saudáveis. Em outras, foram em busca do direito à participação pública.

Fato é que a relação de respeito com as mulheres varia conforme a sociedade, a cultura e a religião. Atravessou os séculos impondo padrões de conduta e comportamento que chegam até o presente. E o esporte não ficou alheio a isso.

Originário de um universo masculino, o esporte foi desenvolvido em escolas frequentadas por homens das classes abastadas, cuja responsabilidade era dominar o mundo. Com esse espírito, o esporte foi institucionalizado e organizado em federações e confederações mundo afora. A mesma prática se deu no Movimento Olímpico. É sempre bom lembrar que as mulheres foram impedidas de participar da primeira edição olímpica, em 1896.

Por sua vez, a ciência corroborou com essa construção ao afirmar que a mulher era frágil e incompetente para a prática esportiva. Que o excesso de esforço colocava em risco seu corpo talhado para a maternidade. Foram necessários muitos anos para se desconstruir esse discurso, utilizado à exaustão para justificar o afastamento de mulheres de provas como os 800 metros rasos, a maratona, o salto com vara e o boxe.

Pior do que afastar as mulheres de competições públicas foi submetê-las a um sistema de poder que levou muitas delas a se calar diante do abuso e do assédio. Chamadas de minoria, mas seres desejosos que são, submeteram-se ao longo dos anos ao mando de técnicos e dirigentes, para poder chegar às competições.

Muitas delas sofreram caladas durante anos. Guardaram para si as marcas de uma relação desigual. Várias foram excluídas, impedidas e humilhadas diante da denúncia de uma atitude abusiva, fosse ela política ou sexual. Apagadas da história, temporariamente é bom que se registre, são elas agora celebradas por uma geração que não se permite submeter.

Diante da visibilidade que a discussão sobre gênero ganhou, e dos canais criados para acolhimento dessas questões, as atletas começam a expor o que se passa em uma relação marcada pela verticalidade.

O mesmo apreço que essa pauta ganhou em outras esferas sociais começa a se dar no esporte. Autoridade não é autoritarismo, e junto com ela estão a competência e o respeito.

O assédio moral e sexual está cada vez mais evidente no esporte e atinge não apenas mulheres. Esse desmando se dá em função de uma tradição pautada nas figuras de autoridade que circulam nesse universo. Daí a compreensão do porquê atletas se calam diante das arbitrariedades. Tratados como mercadoria, eles são facilmente tirados das prateleiras do mercado e jogados no lixo quando não se subordinam a fazer aquilo que o sistema dita.

Durante muito tempo, calar fez parte do jogo, jogo esse que parece ter suas regras alteradas em função do empoderamento do atleta contemplado na Agenda 20+20.

É preciso atentar para o que acontece. Para isso, a família e responsáveis são fundamentais no processo.

Cabe a eles zelar pelo bem-estar do atleta e agir prontamente diante de alguma mudança significativa no comportamento da criança e do jovem, antes que seja tarde.

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