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Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Ainda é possível gostar de 'Sex and the City'? É, mas...

Embora careça de auto-humor, série que marcou época e chega à Netflix como artefato histórico

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Com a chegada à Netflix das seis temporadas de "Sex and the City" (1998-2004) e a reação de nojinho com que o público mais jovem as recebeu, não deu para evitar pensar: por que algumas séries envelhecem tão bem, enquanto outras merecem ficar para a história —e apenas para ela?

Eis o caso de "The Office", que a molecada adora (peço licença poética para chamar de "molecada" todos com menos de 30 anos, respeitosamente).

A série começou a ser produzida no ano seguinte àquele em que "Sex and the City" chegou ao fim e, exceto por alguns elementos de cenário, seus temas são tão perenes que não faria grande diferença se fossem dez anos antes ou dez anos depois. A versão inglesa, que inspirou a americana, é de 2001.

Ou "Seinfeld" (1989-1998), que certamente seria cancelada pelo público contemporâneo pelo excesso de incorreção política. Para seus fãs, entretanto, continua a ser a melhor série de todos os tempos e pode ser revista em looping, ao contrário das desventuras do quarteto feminino, que passaram a ser desdenhadas por parte de sua plateia.

Mesmo "Friends", que envelheceu bastante mal e se perdeu no contexto, é tratada com mais carinho por seus diálogos geniais e sua visão otimista de mundo.

Se, nos dramas, os arcos narrativos costumam ser mais coesos, e a ambientação temporal pode variar como elemento narrativo, as sitcom, as comédias de situação, têm sua alma no cotidiano e no poder de identificação que conseguem estabelecer com o público. Logo, como mantê-las engraçadas se a "situação" em questão muda?

Claro que a falta de diversidade em "Sex and the City" é uma lacuna grave, claro que seu hiperestímulo ao consumo não merece aplausos.

Mas será que a série vale menos porque os relacionamentos que as quatro amigas mantêm são tóxicos ou porque elas são individualistas e egoístas, como escreveu uma colunista mais jovem no Guardian? Ou as gerações presentes estão tentando deletar tudo que possa ser crítico, negativo ou desagradável de vista, inspirada por uma perfeição inatingível propagada nas redes sociais?

Um dos méritos de "Sex and the City" era ter protagonistas mulheres que quebram a cara e não necessariamente inspiram comoção, pois têm dinheiro, tempo e os ombros umas das outras para amenizar as desgraças. Se por um lado a vida que elas levavam parece fútil no retrovisor, os diálogos travados na série alargaram o mundo de muita gente, nem que fosse para ver o que NÃO fazer.

Diferentemente das mesquinharias de Michael Scott em "The Office" e da misantropia de Jerry Seinfeld & cia, porém, o egocentrismo do quarteto carecia de uma dose mais constante de auto-humor, um impermeabilizante poderoso contra a passagem do tempo.

Isso não tira de "Sex and the City" seu lugar no panteão televisivo. Sua sobrevida, no entanto, depende de um pouco de curiosidade antropológica.

As seis temporadas de 'Sex and the City' estão disponíveis na Netflix

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