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Jornalista, é autor de "Notícias do Planalto".

Veja lista de livros para dar no Natal que enchem o saco de Papão Noel

Bimbalham os sinos, e entidade natalina traz sugestões literárias, de Bob Dylan a Alfred Jarry

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Rou! Rou! Rou! Para bem servir a distinta freguesia, Papão Noel encheu seu sacão vermelho com presentes baratos para quem anda com o dinheiro curto. Bimbalham os sinos e ele declama "Cartão de Natal", de João Cabral de Melo Neto, desejando "que o entusiasmo conserve vivas/ suas molas/ e possa enfim o ferro/ comer a ferrugem/ o sim comer o não".

"Ubu Rei", de Alfred Jarry (editora Ubu, 168 págs.). Criada em 1896, a peça poderia ter sido escrita hoje: é um pinico cheio da logorreia de nosso Ubu, Bostonauro. A tradução de Bárbara e Gregorio Duvivier mantém a força da pedrada de Jarry no poder burguês e machuca quem leva a sério toda essa "merdra" —a primeira palavra da peça hilária e anárquica.

"Confinada", de Leandro Assis e Triscila Oliveira (Todavia, 127 págs.). Personagens dos usos e costumes pátrios desde a escravidão, a dupla patroa-empregada é reimaginada numa história em quadrinhos cáustica. Como o ponto de vista é da doméstica, abunda o sadismo da madame, uma influencer e youtuber de mímica feminista. Com mais de 10 mil de exemplares vendidos, é um fenômeno editorial.

História em quadrinhos 'Confinada', de Leandro Assis e Triscila Oliveira, publicada pela editora Todavia - Divulgação

"Invenção e Crítica", organização de Marta Kawano, Milton Hatoum e Samuel Titan Jr. (Companhia das Letras, 534 págs.). É uma celebração dos livros e aulas do crítico literário Davi Arrigucci Jr. O destaque é "No Curso da Vida", ensaio de fôlego de José Miguel Wisnik —que, contudo, periga ser obscurecido pelo seu pós-escrito, no qual o pássaro do acaso dispara uma rajada excrementícia sobre o pobre Davi Arrigucci.

"Carnets de Bord", de Jean-Jacques Sempé (Les Cahiers Dessinés, 238 págs). São vários esboços, e umas poucas anotações escritas, do grande cartunista. Evidenciam, por dentro, a delicadeza tateante do
nascimento de obras-primas. Como não poderia deixar de ser, o mistério de Sempé permanece —assim como o deslumbre da sua arte.

"História e Desenvolvimento", de Caio Prado Júnior (Boitempo, 142 págs.) Em boa hora, reedita-se a tese de livre-docência do intelectual —um exemplo raro, quiçá único, de rebento da elite dominante que se passou de armas e bagagens para a trincheira dos oprimidos. A defesa da tese teve de ser cancelada devido à sanha obscurantista da ditadura, que pouco depois o encarcerou, aos 63 anos. Num posfácio, Leda Paulani traz o pensamento de Caio Prado Júnior para hoje. E nota que o agronegócio, com suas "novas camadas de progresso técnico, incorpora muito menos mão de obra, de modo que boa parte da massa (potencialmente) trabalhadora pode agora ser simplesmente ignorada".

O historiador Caio Prado Júnior em entrevista para o jornal Última Hora, em 1955 - Folhapress

"The World in a Selfie – An Inquiry into the Tourist Age", de Marco d’Eramo (Verso, 288 págs.). O filósofo italiano investiga o sentido das viagens de peregrinos, aventureiros, esnobes e consumistas, chegando ao mundo no qual somos todos turistas, ainda que poucos o admitam. Para D’Eramo, o turismo não é só uma indústria que movimenta trilhões de dólares em companhias de aviação, trens, hotéis, restaurantes, museus etc. Ele define a identidade do mundo moderno. E faz com que se pense duas vezes antes de tirar um selfie na frente da torre Eiffel.

"Letras – 1975-2020", de Bob Dylan (Companhia das Letras, 685 págs.). Caetano Galindo traduz o segundo volume das canções do poeta pop. São menos populares e mais literárias que as da sua fase inicial. Com alusões a Pope e Stendhal, a Shakespeare e à Bíblia, formam um panorama da sensibilidade americana. Chegam ao sublime em "Murder Most Foul", sobre o assassinato de Kennedy e o contexto cultural em que se deu.

Ilustração de 17 de dezembro de 2021 - Bruna Baros

"A New Intuition", de Franco Moretti (New Left Review, setembro-outubro). Para chateação dos vira-latas, a prata da casa se sai bem no exterior. Isso ocorre quando um crítico do quilate de Moretti esmiúça Roberto Schwarz e conclui que ele é "o maior crítico marxista de nosso tempo". Ao que os fracassomaníacos responderiam que isso prova o quanto o marxismo está desprestigiado.

"Férias na Disney", de Bruno Molinero (Patuá, 84 págs.). Em seu segundo livro, o poeta e jornalista prossegue sua procura de imagens da violência cotidiana. Como em "Anúncio":
"Aluga-se
quarto
pra casal
homem
e mulher
sem vícios
mobiliado
com cama
criado-mudo
bíblia e um
trinta e oito
carregado
​na gaveta".

"Anos de Chumbo e Outros Contos", de Chico Buarque (Companhia das Letras, 168 págs.) Está à altura de "Estorvo", seu admirável romance de estreia. Os anos do título não são apenas os do passado, mas os dos soldadinhos de chumbo que ora nos ameaça.

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