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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

Quando jovem explode, ganhar títulos deve vir antes de pensar em vender

Lembrança para torcida precisa ser troféu, não apenas um depósito na conta corrente do time

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A afirmação do técnico Abel Ferreira, de que o Palmeiras não pode vender Gabriel Veron por valor menor do que a negociação de Neymar, só revela que o subdesenvolvimento não é exclusividade do Brasil. Vender por quê?

Quando o craque do Mundial sub-17, campeão pela seleção, finalmente explode como profissional, o primeiro objetivo deve ser ganhar títulos.

Gabriel Verón é uma das principais revelações do Palmeiras dos últimos anos - Cesar Greco - 24.fev.2020/Palmeiras

Ah, sim, todos os grandes clubes de países distantes do eixo Inglaterra-Espanha pensam em negociar seus craques.

É verdade. Portugal é campeão da Europa. Benfica, Porto e Sporting também exportam.

Grêmio e Porto são exemplos. Descobrem craques e os vendem, depois de alcançarem resultados esportivos. O Porto comprou Radamel Falcão Garcia por US$ 3,9 milhões, do River Plate. Ganhou a Liga Europa com ele e, só depois, efetuou a transferência para o Atlético de Madrid, por US$ 40 milhões.

O Grêmio vendeu Pedro Rocha depois de ganhar a Copa do Brasil e Arthur após vencer a Libertadores.

Abel Ferreira não é culpado pela cultura das vendas. Acontece em todas as ligas, menos na inglesa e na espanhola. Só que a descoberta de que os melhores times do Brasil, em 2020, têm talentos feitos em casa, indica a necessidade de relativizar um clichê dos programas esportivos, quando gigantes enfrentam sequências de derrotas: "Precisa de reforços".

Todo ano alguém diz isto: "Tal time precisa de reforços...". Blá-blá-blá...

O ciclo de compras e vendas movimenta todo o circuito do futebol, de maneira demolidora. O dirigente ruim aposta na contratação como cala-boca para seus críticos, o empresário quer vender, o noticiário alimenta a chance da chegada do novo talento e, quando enfim se efetiva o negócio, a torcida o recebe no aeroporto à espera da alegria do título —ou da despedida, se não der certo.

Claro que há exemplos bem-sucedidos de timaços montados com dinheiro, e o Flamengo de 2019 não nos deixa esquecer. Mas pegue o caso do São Paulo.

No ano passado, seu balanço mostrou gastos de R$ 149 milhões em contratações, que ajudaram a terminar o Brasileiro no modesto sexto lugar: Tiago Volpi, Tchê Tchê, Pablo, Hernanes, Daniel Alves, Igor Vinicius, Everton Felipe, Léo e Vitor Bueno.

Desde a chegada de Fernando Diniz, só houve uma contratação: Luciano. O atacante não custou nem um real, porque foi uma troca por Éverton Cardoso, com o Grêmio. O São Paulo tem cinco titulares formados em Cotia e disputa o troféu com Atlético-MG, Flamengo, Palmeiras, Santos e Grêmio.

Claro que as contratações do ano passado estão no time atual. Agora, sem alarde. Se o título vier, será por estruturar uma equipe.

O Palmeiras usou cinco meninos da base contra o Delfín, quatro desde o início da vitória por 5 a 0. Renato Gaúcho escala Darlan, Matheus Henrique, Jean Pyerre e Pepê, todos criados em seu centro de formação, em Eldorado do Sul.

Dá para montar uma seleção do Brasileiro só com pratas da casa que brigam pela taça: John, Gabriel Menino, Diego Costa, Lucas Veríssimo e Lucas Esteves; Patrick de Paula, Darlan e Jean Pyerre; Gabriel Veron, Brenner e Pepê.

A rodada da Champions League teve, pela segunda vez seguida, 42 brasileiros escalados, dos quais 32 disputaram a Série A.

A minoria, como Renan Lodi, Maycon, Gabriel Jesus e Neymar, conquistaram troféus suficientes para ficarem nas histórias de seus times. A maioria forma uma lista com Rodrygo e Vinicius Junior, do Real Madrid, Antony e David Neres, do Ajax, que representam, para as torcidas dos times formadores, apenas um depósito em conta-corrente.

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