Siga a folha

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Descrição de chapéu

O que interessa se o texto tem palavras a mais ou a menos, se não emociona?

Quem consegue escolher entre um ótimo texto palavroso e um excelente texto contido?

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Soube pela coluna de Sérgio Rodrigues que acontece nas redes sociais um debate acirrado sobre escrever bem, opondo os amantes da concisão e os partidários da prolixidade.

Normalmente, acharia ridículo que, enquanto o mundo arde e guerras cruéis destroem vidas, um grupo de pessoas estivesse empenhado em discutir, com ânimo e fúria, se a melhor escrita é sucinta ou palavrosa. Mas, neste caso, confesso, sem ironia, que o episódio me enternece.

Publicada neste sábado, 21 de outubro de 2023 - Luiza Pannunzio

Que a nossa embirração seja dirigida para um problema desses, precisamente nesta altura, faz com que eu mantenha a fé na humanidade. Os participantes neste debate são um exemplo para todos nós.

É isso mesmo: vamos batalhar, sim, mas sobre literatura. Vamos nos dedicar ao combate minúsculo e deliciosamente acrimonioso, que não mata.

Por isso, desejo contribuir para um mundo melhor participando da discussão, e, com todo o azedume que me é possível, decreto que nenhum dos lados da contenda tem razão. Nem economia nem prodigalidade de palavras.

O grande poeta português Alexandre O’Neill escreveu um poema que nos ajuda. Diz assim: "A regra é não haver regra/ a não ser a de cada um/ com sua rima, seu ritmo/ não fazer bom e bonito/ mas fazer bom e expressivo". Muito obrigado a todos e bom dia.

O que interessa se um texto tem palavras a mais, a menos ou na medida, se não emociona? Quem consegue escolher entre um ótimo texto palavroso e um excelente texto contido?

Dou dois exemplos. Um é o início do ensaio "Sobre Estar Doente", de Virginia Woolf. A primeira frase ocupa uma página inteira. A elegância com que se desenrola, cheia de apartes e recantos, faz com que quem a lê nunca a esqueça.

O outro é a famosa resposta que Samuel Beckett deu quando, em 1985, o jornal francês Libération fez a pergunta "por que você escreve?". Ele disse "bon qu’à ça". Respondeu com três sílabas. Três lacônicos sons. A técnica de um adolescente enfadado quando a gente quer forçá-lo a falar contra a vontade —que é sempre.

"Bon qu’à ça", algo como "só sou bom nisso" em português.

Tento manter a brincadeira do original, um engraçado conjunto de barulhos. E tenho muito a dizer sobre o fato de um grande escritor explicar a razão por que escreve com três palavras, mas falta espaço.

A Folha, tomando partido no debate, me obriga a ser breve.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas