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Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Medalhistas brasileiros contam como se tornar um atleta olímpico

Entre a escola e os treinos, eles precisaram renunciar a muita coisa para subir ao pódio

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São Paulo

Em 1988, quando as Olimpíadas aconteceram em Seul, na Coreia do Sul, o atleta Aurélio Miguel ganhou a primeira medalha de ouro da história do judô brasileiro e a única daquela edição dos Jogos. Naquela época, o Brasil não costumava ganhar muitas medalhas. Foi um feito e tanto.

Ter um brasileiro no alto daquele pódio, portanto, foi uma festa. De repente, só se falava nisso. O judô se tornou uma febre, e Miguel, uma celebridade que aparecia em comerciais e programas de TV.

Leandro Guilheiro (à esquerda), aos 6 anos, competindo no torneiro interescolar do seu colégio em Santos, no litoral paulista - Acervo Pessoal

Leandro Guilheiro tinha cinco anos na época. Foi uma das muitas crianças que viram a vitória de Miguel pela TV e, inspiradas nele, começaram a praticar o esporte.

Primeiro, o menino treinou na sua escola, que começou a oferecer aulas e organizar pequenos campeonatos com alunos de todas as unidades. Depois, em uma academia especializada em Santos, no litoral de São Paulo, onde morava.

"Eu comecei a fazer as aulas e gostei muito. Eu já gostava de fazer tudo muito bem feito, então comecei a competir muito cedo, com uns seis, sete anos", lembra Guilheiro, que hoje tem 40 anos.

Ele diz que assistia aos campeonatos de judô em fitas VHS emprestadas —era assim que se via tudo, anos antes dos streamings. "Eu não sei o que sentia na competição em si, porque elas deixam gente nervoso e desconfortável. Mas ao mesmo tempo, sabia que era aquilo que queria viver."

Nos começo, Guilheiro estudava à tarde e treinava de duas a três vezes por semana, antes ou depois da escola. Depois, quando foi para a academia de judô, os treinos se tornaram diários. E a partir dos 11 anos, quando estudava de manhã, todo o restante do dia dedicado ao treino.

"Você vai crescendo e os treinos vão ficando mais intensos, voltados às competições. É um caminho necessário para chegar aonde eu queria chegar, que era as Olimpíadas", conta ele, que aos 21 anos se viu no pódio que tanto queria.

Nos Jogos Olímpicos de Atenas de 2004, ele ganhou uma medalha de bronze —a primeira de toda a sua carreira, que inclui ainda outro bronze em Pequim, em 2008. Hoje, Guilheiro é coordenador técnico do time de judô do Clube Pinheiros, em São Paulo.

Talento para o esporte

Aurélio Miguel, o judoca que levou o ouro em Seul, voltou a ganhar uma medalha oito anos depois —o bronze em Atlanta, em 1996. E mais uma vez, inspirou um futuro atleta.

Em Bastos, no interior de São Paulo, Tiago Camilo, 42, à época com seis anos, entrou na onda do seu irmão mais velho e começou a praticar judô. Quando viu Miguel subir ao pódio pela segunda vez, Camilo decidiu que também queria aquilo. Estudava de manhã e treinava três horas por dia, à tarde, em uma academia na qual participou da sua primeira competição.

Tiago Camilo, aos 11 anos, número 1 do pódio em campeonato paulista de judô - Acervo Pessoal

"Num dia, meu professor falou que eu tinha talento para o esporte. E aí meu pai começou a me inscrever nas competições. Primeiro ali da região, no interior, e depois nas estaduais, até chegar a nível nacional", conta Camilo, que aos 14 anos se mudou para São Paulo. Foi quando os treinos ficaram mais puxados também.

Ele treinava das 8h às 10h, ia para a escola e voltava a treinar de noite. Depois corria um pouco no parque Ibirapuera. "No total, eram cinco ou seis horas de treino por dia. Era uma rotina pesada, mas quando você tem esse desejo, precisa fazer o que precisa ser feito. Tudo era um preço a ser pago pelo tamanho do meu sonho, que era grande."

Quatro anos depois do bronze de Miguel, lá estava Camilo, aos 18 anos, ganhando sua primeira medalha, de prata, nos Jogos de Sydney, em 2000.

"Foi incrível, mas não foi fácil", relembra o esportista, que depois também ganhou bronze em Pequim em 2008. "Tive que deixar minha família e meus amigos para trás para me mudar para São Paulo. Renunciei a muitas coisas na minha adolescência para viver um sonho que eu não tinha certeza se ia acontecer ou não. Mas valeu a pena."

Tiago Camilo, judoca e medalhista olímpico brasileiro, competindo já na infância - Acervo Pessoal

Dia a dia puxado

A esportista paulistana Fofão, 54, que já participou de cinco Olimpíadas, também precisou de sacrifícios para se tornar uma atleta profissional.

"Eu convivia com outras meninas que já estavam em seleções de base, mas demorei a entender que eu também poderia fazer parte daquilo", lembra a jogadora, que tinha de acordar muito cedo para conciliar os treinos com a escola. Ela morava longe da academia e usava transporte público para treinar. Essa rotina durou até o final do ensino médio, quando enfim passou a se dedicar só aos treinos.

Depois desse cotidiano puxado, Fofão viu resultados. Junto da seleção, ela faturou duas medalhas de bronze, em Atlanta e em Sydney, e uma de ouro nos Jogos de Pequim. Isso fez dela a atleta mais vitoriosa do vôlei brasileiro.

Os medalhistas compartilham um mesmo conselho para crianças que desejam se tornar atletas olímpicos. "Tem de ter muita dedicação e fazer tudo com amor", diz Fofão.

Tiago Camilo concorda com ela. "O amor pelo esporte e pela sua jornada é o que vai te impulsionar para frente."

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