'Azougue Nazaré' faz política em sua abordagem sensível do sexo e da espiritualidade
Filme de Tiago Melo foi elogiado por Jean-Claude Bernardet, um dos grandes pensadores do cinema brasileiro
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Em entrevista à Folha em janeiro deste ano, Jean-Claude Bernardet, um dos grandes pensadores do cinema brasileiro, elogiou “Azougue Nazaré”, que ele tinha visto dias antes num festival na Paraíba. “É um filme de uma visceralidade que não temos visto no cinema do Sudeste”, disse Bernardet sobre a produção que finalmente entra em cartaz.
O entusiasmo de Bernardet com o filme de Tiago Melo é compreensível. Produtor de parte expressiva do cinema recente de Pernambuco, Melo lança seu primeiro longa-metragem como diretor e mostra potência criativa incomum e sensibilidade na abordagem de temas como espiritualidade e sexo.
“Azougue” registra deslocamentos e atrações, ambos os movimentos repletos de tensão. Na zona da mata pernambucana, a vida de Catita (Valmir do Côco) só ganha sentido pleno nos rituais de maracatu, mas sua mulher, Darlene (Joana Gatis), se incomoda com a espiritualidade do rapaz e tenta convertê-lo para uma religião evangélica.
Valmir do Côco revela-se, aliás, um grande ator, seja na catarse, seja no humor.
A intolerância religiosa é, portanto, uma questão central, mas o diretor não a reveste de um ar panfletário ou literal. É a opção por uma leitura alegórica que torna “Azougue” envolvente, especialmente nos rituais de maracatu, filmados de modo exuberante.
São cerimônias em que a fé e a pulsão sexual não estão apenas associadas. Uma alimenta a outra, multiplicando as sensações.
Não só nesse aspecto Melo nos arranca do lugar comum. Seu Nordeste dominado por canaviais se afasta dos estereótipos e é nesse cenário, aparentemente desinteressante, que a tensão se avoluma e quase transborda.
Assim se dá a paixão de Ítalo (Edilson Silva) por Tita (Mohana Uchôa), a mulher do chaveiro. Outra vez, o filme vislumbra um ponto onde espiritualidade e desejo se encontram. Como se vê no maracatu, não se chega a esse lugar enigmático sem a música e a dança.
Como em “Bacurau”, existe um chamado à resistência. Mas “Azougue” toma outros caminhos. Tiago Melo faz política com carne e espírito.
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