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Filmes mostra de cinema

'Stardust', filme sobre David Bowie, é primo pobre de 'Rocketman'

Sem direitos autorais para tocar canções do músico, longa o retrata em uma viagem para os Estados Unidos em 1971

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Stardust

Avaliação: Ruim
  • Onde: Aluguel e compra no Looke, Apple TV e Google Play
  • Classificação: 14 anos
  • Elenco: Johnny Flynn, Jena Malone, Marc Maron
  • Produção: Reino Unido, 2020
  • Direção: Gabriel Range

O britânico David Bowie, morto há cinco anos, ficou conhecido por diversos predicados. Além de sua musicalidade eclética e facilidade de compor grandes hits, tinha uma capacidade camaleônica de autorreinvenção e uma elegância meio extraterrestre que o transformou num ícone da moda.

Também foi um ator competente e deixou uma obra cinematográfica respeitável, com títulos como "Fome de Viver", de 1983, "Labirinto", de 1986, "A Última Tentação de Cristo", de 1988, "Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer", de 1992, "Basquiat", de 1996, "O Grande Truque", de 2006, além de participações em séries tão díspares quanto "Extras", de Ricky Gervais, e "Bob Esponja". Sem falar em seus muitos videoclipes, sempre bem produzidos.

Merecia uma cinebiografia à altura, talvez pelo caminho nada convencional, como a que Bob Dylan ganhou em vida do diretor americano Todd Haynes, em 2007, "Não Estou Lá", em que diversos artistas representavam o músico em várias fases da vida.

Johnny Flynn em cena do filme 'Stardust', de 2020, nova biografia de David Bowie - Divulgação

Mas poderia também ser pela via mais tradicional, as autorizadas pelo artista ou pelos seus parceiros, como "Bohemian Rhapsody", de 2018, que rendeu o Oscar ao protagonista, o ator Rami Malek, e "Rocketman", de 2019, em que Elton John, o próprio biografado, foi premiado pela única música inédita do longa-metragem, "I'm Gonna Love Me Again".

Em vez disso, Bowie ganha em "Stardust" um filme menor, que dramatiza uma viagem feita por ele em 1971 aos Estados Unidos que deveria ter sido a turnê de apresentação e consagração de um artista pouco conhecido, mas não foi. Bowie chegou sem visto de trabalho, foi proibido de fazer shows e nada aconteceu.

Ou seja, é um retrato de um jovem mal humorado e frustrado, rodando o país de carro com o único ser humano que parece confiar no potencial dele, Ron Oberman, divulgador da gravadora Mercury que o hospeda na casa em que mora com os pais. Oberman consegue algumas entrevistas para Bowie e umas apresentações de quinta categoria em lugares como uma convenção para vendedores de aspiradores de pó.

E aí a bomba final. Nem nessas apresentações, nem nas muitas cenas que se passam com a dupla viajando de carro pelos Estados Unidos toca um acorde de uma mísera música dele, provavelmente por falta de dinheiro para pagar os direitos autorias. É quase uma tortura para um fã. E quem não é fã não vai virar depois de ver esse filme.

O ator principal, o britânico Johnny Flynn, tem até alguma semelhança com o jovem David Bowie, na fase cabelo comprido, bem mais hippie que suas personas futuras. E, como também é músico, toca violão e canta de verdade os covers de outros artistas menos relevantes que o personagem apresenta quando tem oportunidade.

Flynn tem aquele sorriso meio tímido, meio sacana de Bowie, e o mesmo corpo esbelto que favorece qualquer figurino. Pena que no período em que é retratado ainda não ousasse muito nesse setor. A maior extravagância é um sapato feminino bege de salto agulha, com que aliás desce do avião e enfrenta a alfândega.

Num momento da trama, o protagonista pergunta a diferença entre "uma estrela do rock ou alguém se fazendo passar por uma estrela do rock". Esse é o ponto central do roteiro, o conflito maior do personagem, louco para virar um astro real da música, mas sem recursos para isso.

Mas nem isso é verdade. Em 1971, Bowie já tinha lançado o álbum "Space Oddity", inspirado no filme "2001: Uma Odisseia No Espaço", de Stanley Kubrick, que fez dele um nome conhecido e respeitado no Reino Unido.

Claro que até conquistar o mercado americano nenhuma estrela do rock britânico brilha assim tão ofuscantemente, mas em 1971 Bowie já não era o músico desenxabido que aparece aqui. Ele ainda não tinha criado Ziggy Stardust, o roqueiro alienígena que o lançou à estratosfera, mas as ideias bem pouco convencionais a respeito da vida e da obra certamente já germinavam em sua cabeça.

O problema de Bowie, como o roteiro apresenta, é justamente o medo de enlouquecer. Seu irmão mais velho, Terry, interpretado por Derek Moran, sofreu um ataque psicótico alguns anos antes e tinha um diagnóstico de esquizofrenia. Bowie teme que a loucura esteja cravada em seu destino, ao mesmo tempo em que a proximidade com o tema se transforma em sua maior fonte de inspiração.

Quando, no finalzinho, ele se prepara para entrar num palco em Londres para a primeira performance como Ziggy Stardust, com uma peruquinha triste, parece, finalmente, que o jovem birrento que viajou pelos Estados Unidos conseguiu se libertar dos temores que tinha e abraçou a loucura inerente da vida de uma estrela do rock que se preze.

Agora é torcer para que surja uma cinebiografia decente com tudo que aconteceu depois disso na vida e na obra de David Bowie, que marcou a história da cultura pop para sempre.

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