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Quem é Ariana DeBose, atriz indicada ao Oscar 2022 por 'Amor, Sublime Amor'

Ao lado de Rita Moreno, ela forma a dupla que pode ser a primeira feminina a ganhar o prêmio por um mesmo papel

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Sarah Bahr
The New York Times

Ariana DeBose não estava literalmente dançando na rua na manhã da última terça-feira, mas se você estivesse caminhando ao lado de um certo rio de Nova York por volta das 9h, pode ter pensado que ela era mais uma nova-iorquina maluca.

"Acho que devo ter assustado todos os corredores na trilha quando fiquei pulando e gritando", ela contou na manhã da terça, lembrando o momento em que soube que recebeu sua primeira indicação ao Oscar –de melhor atriz coadjuvante por seu papel de Anita no remake de "Amor, Sublime Amor" dirigido por Steven Spielberg.

Com essa indicação, ela e Rita Moreno, que ganhou o Oscar pelo mesmo papel no filme de 1961 e está presente na nova adaptação em um papel diferente, estão fazendo história –são as primeiras atrizes não brancas e as primeiras mulheres a receberem uma indicação ao Oscar pelo mesmo papel.

A atriz Ariana DeBose - Erik Carter/The New York Times

Se por acaso DeBose levar a estatueta, elas se tornarão apenas a terceira dupla a realizar essa proeza. As outras são Marlon Brando e Robert De Niro como Vito Corleone —"O Poderoso Chefão" e "O Poderoso Chefão Parte 2"— e Heath Ledger e Joaquin Phoenix como o Coringa —em "Batman: O Cavaleiro das Trevas" e "Coringa".

Antes, contudo, DeBose terá que enfrentar algumas concorrentes de peso na categoria —Aunjanue Ellis, de "King Richard: Criando Campeãs", Jessie Buckley, de "A Filha Perdida", Judi Dench, de "Belfast", e Kirsten Dunst, de "Ataque dos Cães".

Em entrevista que deu na manhã da terça de sua casa em Nova York, DeBose falou do significado de ser indicada por um papel que reflete sua identidade, o melhor conselho que Rita Moreno lhe deu e o que vem por aí. Seguem trechos editados da conversa.

Parabéns! Você costuma estar acordada a essa hora? Normalmente, sim, já estou em pé e agitada. Essa temporada tem sido muito movimentada. Mas fiquei com insônia e ansiedade esta noite, não dormi nada. Estava muito ansiosa com o que aconteceria hoje pela manhã. Por todo mundo, não apenas por mim, pessoalmente, mas por nosso filme.

Você e Rita Moreno têm a chance de fazer história como apenas a terceira dupla de atores –além de a primeira feminina e de pessoas não brancas— a ganhar um Oscar por representar o mesmo papel. No caso, com um intervalo de 60 anos entre uma e outra. O que significa para você poder seguir os passos de Rita? Minha indicação confirma o fato de que muitas interpretações são válidas e boas. É absolutamente possível criar uma personagem baseada no mesmo texto inicial e que ela seja verossímil à sua maneira, mesmo ao lado de uma representação já consagrada e icônica da personagem. Anita é uma personagem maravilhosa, de quem me orgulho muito. É fantástico porque somos latinas, estamos aqui e é uma coisa linda de se ver.

Você já pensou no que vai dizer se ganhar? Imagino que estará um pouco mais preparada do que Rita. Ela se destacou por fazer um dos discursos de aceitação mais curtos da história do Oscar quando recebeu a estatueta em 1962 —"Não acredito! Meu Deus. É só o que tenho a dizer". Honestamente, não. Porque eu reagi dizendo tipo "uau!". Simplesmente estou verdadeiramente feliz de estar nessa categoria. Ainda não consegui pensar mais além disso. Se eu precisar dizer alguma coisa, espero que consiga falar com eloquência sensata. Mas, se não, sempre posso recorrer à saída que Rita encontrou. "Meu Deus! Muito obrigada!" (Fazendo a voz de Rita Moreno). Que discurso icônico de aceitação.

Foi, tipo, perfeito. Nunca se ouviu tanta alegria e gratidão verdadeira. E estou falando sinceramente –está estampado no rosto dela. É uma coisa muito bonita de se ver.

Num primeiro momento você ficou fascinada com Rita, tiete dela, mas depois formou um vínculo muito forte com ela. Qual foi um conselho que ela te deu que você não vai esquecer tão cedo? Ela sempre me disse: "Ariana, aposte fundo em tudo que te diferencia, te torna singular". E foi o que fiz com a personagem, é o que faço no meio dessa jornada doida. Aposto nas coisas que me diferenciam como artista e como ser humano e procuro compartilhar e celebrar essas coisas. É fundamental que os jovens percebam que têm possibilidades. Se puderem enxergar isso em meu trabalho, então estou fazendo alguma coisa certa.

Você tem formação de dançarina, então imagino que não tenha sido muito difícil mostrar a habilidade incrível de Anita como dançarina. Mas há alguma coisa que você teve que aprender para o filme que tenha sido um desafio? Não sou fluente em espanhol. Então me concentrei muito na língua, não apenas para ganhar fluência maior, mas para encontrar o sotaque de Anita, entender como seria, considerando o tempo que ela vivia em Nova York.

Você disse que ficou nervosa em relação à sua atuação, nas primeiras vezes que o filme foi exibido. Qual foi o momento em que você soube que havia dado certo? Ainda não sei se acertei o tom. Fico emocionada ao saber que as pessoas amam a interpretação. Como artista, vejo um milhão de coisas das quais penso "ai, ai, eu queria ter feito isso melhor". Mas o que me dá segurança é que já tive feedback de muitas pessoas jovens, especificamente latinas jovens, que dizem que se enxergam no trabalho.

Você já disse no passado que sua identidade de afro-latina foi algo pela qual, desde seu primeiro encontro com Spielberg, você lutou para que fosse uma parte integral da personagem. Qual é a sensação de ser indicada ao Oscar por uma personagem que é uma mulher forte, que assume sua identidade sem fazer concessões, como escurecer sua pele, como foi feito com Rita Moreno no filme original? Este papel incorpora cada faceta minha, tanto como artista quanto como pessoa. É raro a gente se deparar com um papel como esse, que faz uso de todas as minhas habilidades e que celebra minha identidade e minha experiência vivida. Portanto, é muito especial. E estamos apenas começando a entrar no espaço em que podemos ter essas discussões, em que podemos tratar das minúcias de onde se enquadram as afro-latinas, não apenas na cultura hispânica, mas também na cultura negra, porque fazemos parte das duas. É importante refletirmos isso em nossos roteiros e nos projetos que aprovamos. Estou falando especificamente da afro-latinidade, mas a representação em todo o espectro é imperativa.

Seus papéis nos últimos anos têm sido muito variados, desde em "Summer: The Donna Summer Musical", que lhe deu uma indicação ao Tony, até seu papel de destaque como professora progressista na série musical "Schmigadoon!", do Apple TV+. Qual será seu próximo trabalho? Não sei. (ri) Não acredito em me restringir. Não gosto de rótulos nem de caixinhas. É um pouco irônico, já que falamos muito sobre as coisas com as quais me identifico. Estou num momento da carreira em que andam aparecendo oportunidades do tipo que nunca tive. Poder escolher é uma bênção.

No ano passado, em "Schmigadoon!", você mostrou que sabe sapatear. Há algum outro talento secreto que ainda queira nos mostrar? Quem sabe? Talvez um dia eu voe no trapézio para um trabalho. Talvez eu faça mais coisas de ação.

Aposto que há muitos filmes da Marvel à sua espera. Uau, é um universo e tanto. Vamos ver.

Tradução de Clara Allain

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