Siga a folha

Como Lollapalooza enfrenta cancelamentos e a sensação de déjà-vu do público

Com Blink-182 e SZA, festival em São Paulo tem troca de comando, mas continua sofrendo com problemas antigos

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

O Lollapalooza, que acontece de sexta-feira a domingo, em São Paulo, vive um novo momento. Depois de anos sob a batuta da produtora Time for Fun, o festival agora é feito pela Rock World, empresa por trás do Rock in Rio e do The Town, os seus principais concorrentes. Na prática, no entanto, pouca coisa mudou.

No mesmo Autódromo de Interlagos que ocupa há dez anos, o festival segue enfrentando uma sina de cancelamentos e tem dificuldade de recuperar sua capacidade de trazer shows inéditos ou raros.

O nome de maior destaque agora é o trio de pop punk Blink-182, que toca na sexta. Eles se apresentariam no ano passado, mas cancelaram de última hora. Há ainda SZA, estrela em ascensão do pop e R&B que sobe ao palco no domingo. Ambos fazem seus primeiros shows no Brasil.

A cantora SZA em show no Madison Square Garden, em Nova York - Nina Westervelt/The New York Times

O sábado seria comandado pela banda de rock Paramore, mas o grupo cancelou o show e foi substituído pelo Kings of Leon. Sucesso nos anos 2000, o grupo faz um soft rock com apelo radiofônico e já tocou em vários festivais brasileiros na última década, incluindo o próprio Lollapalooza, em 2019.

O cancelamento do Paramore engrossa uma lista que ainda tem Drake e Foo Fighters, tratando só de headliners e dos últimos dois anos.

Desde 2022, em sua edição de retorno depois da pandemia, o Lollapalooza não conseguiu fazer uma edição com shows de todos os nomes que encabeçaram o seu cartaz de divulgação inicial.

Marcelo Beraldo, curador e diretor artístico do Lollapalooza, diz que o festival não sofre mais do que os concorrentes com cancelamentos. "Imprevistos acontecem, e bandas podem cancelar por diversos motivos", diz. "Assim que descobrimos, buscamos substitutos para garantir que o evento mantenha a qualidade."

Neste ano, no entanto, a falta de confiança de que o evento vai entregar os shows que prometeu pode ter se refletido na venda de ingressos.

No ano passado, os ingressos para o dia em que o Blink-182 se apresentaria esgotaram. Agora, a dois dias do show, ainda estão disponíveis. Para sábado e domingo, os ingressos diários estão no primeiro lote.

Segundo Leca Guimarães, diretora internacional do festival, isso se deve a uma busca por pacotes de entradas para dois ou três dias. "Os ingressos que permitem curtir o festival por mais de um dia registraram grande procura", diz ela. "Tanto o Lolla Double quanto o Lolla Pass —esgotado— apresentaram excelentes resultados. O público busca viver a experiência completa."

A produção estima que receberá cerca de 240 mil pessoas em três dias. Se a expectativa se concretizar, este número vai representar uma queda de 21,33% em relação à última edição —no ano passado, quase 305 mil pessoas passaram pelo Autódromo de Interlagos nos mesmos três dias de festival, segundo a produtora Time for Fun, a T4F, responsável pelo evento à época.

A queda de interesse pelo Lollapalooza também se traduz nas buscas que o festival recebeu no Google Trends. Nos 30 dias anteriores à semana do evento, esta edição foi a que teve menos procura em relação às quatro anteriores —a procura já estava em queda, com um aumento em 2022, edição que marcou o retorno do festival no pós-pandemia. Das últimas cinco edições, a de 2018 foi a mais buscada.

O Limp Bizkit, símbolo da faceta mais comercial do nu metal dos anos 2000, surge com destaque, assim como o punk do Offspring, sucesso na década de 1990, o indie de Arcade Fire e do Phoenix, além do pop de Thirty Seconds to Mars e Sam Smith, que despontaram mais recentemente. Em comum, há o fato de que nenhum desses artistas escalados é estreante no Brasil, e metade deles já se apresentaram no próprio Lollapalooza.

Se nos últimos anos o público assistiu a shows de novas caras —entre elas Billie Eilish, Rosalía e Lil Nas X—, agora as novidades são exceções. A americana SZA, alinhada à produção atual, é uma delas. Greta Van Fleet despontou nos últimos anos com uma estética vintage ligada a clássicos do rock, mas já tocou no Lollapalooza há cinco anos.

Parece pouco para um evento que já serviu de vitrine para nomes em ascensão do cenário mundial e reuniu clássicos alternativos e menos óbvios em edições passadas. Ainda assim, afirma o curador Marcelo Beraldo, o objetivo do Lollapalooza é atrair o fã de música, em detrimento do ouvinte casual, mais interessado nas atrações paralelas.

Beraldo afirma que o Lollapalooza trabalha para apresentar "tendências musicais globais" a um público, segundo ele, de "pessoas apaixonadas por música, cultura e tendências". "No Lollapalooza, a música está no centro da experiência. O protagonismo está no encontro entre os artistas e o público", diz. "O que nos permite ter sucesso em um cenário tão competitivo é a nossa curadoria, o nosso line-up."

Neste ano, o festival tem 46 atrações brasileiras, um recorde. Os Titãs são quem têm o maior destaque, seguidos por Gilberto Gil, BaianaSystem, Marcelo D2, BK e Luisa Sonza. O funkeiro Kevin O Chris ganha espaço de destaque depois de causar alvoroço quando subiu ao palco convidado pelo americano Post Malone em 2019.

Em termos de estrutura, o Lollapalooza aposta na expertise em ocupar o autódromo —vantagem contra concorrentes que usam o mesmo espaço. O que há de novo são melhorias feitas para o The Town, que aconteceu em setembro, com banheiros melhores e áreas planificadas e com grama sintética.

"Nossos morrinhos continuam lá", diz Leca Guimarães, sobre o relevo que cria no palco Samsung Galaxy, o segundo maior do evento, uma espécie de anfiteatro natural que permite ampla visibilidade do palco. É algo que os festivais concorrentes não utilizaram.

No passado, o Lollapalooza teve tempestades que cancelaram shows e danificaram estruturas, além de calor intenso. As consequências do clima severo são uma preocupação.

A diretora diz que as estruturas "são projetadas para serem resistentes a ventos fortes e chuvas intensas". Ela ainda promete que "serão disponibilizadas oito estações de água potável gratuita" e duas estações com distribuição de recipientes de água. "Em caso de temperaturas extremas, será realizada a nebulização de água através de mangueiras, para trazer as temperaturas a níveis mais amenos."

Em relação ao futuro do Lollapalooza, agora sob nova direção, Guimarães diz que a Rock World "se dedicará a expandir sua grandiosidade e aprimorar suas entregas". Sobre o The Town, concorrente da mesma empresa, ela afirma que "são festivais com conceitos bem diferentes".

São Paulo, afirma a diretora, comporta os dois eventos. "É possível experimentar formas de entretenimento ao vivo, com os maiores nomes da música através das melhores experiências."

Colaborou Vitoria Pereira

Lollapalooza 2024

Avaliação:

Como assistir aos shows do Lollapalooza de casa

As principais apresentações também poderão ser vistas de casa pelo público. O canal Multishow vai transmitir os shows dos palcos Budweiser e Samsung Galaxy, a partir das 14h30. O canal Bis, por sua vez, vai exibir as apresentações que estão programadas para os palcos Perry’s by Johnnie Walker e Alternativo. Quem não tiver acesso a uma televisão poderá assistir às transmissões via Globoplay.

Veja o mapa do Lollapalooza e faça seu guia para shows e atrações

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas