David Cronenberg se junta a Coppola ao frustrar Cannes com filme caótico
'The Shrouds', que disputa a Palma de Ouro no festival francês, dispara uma série de ideias que nunca chegam a lugar nenhum
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"De que merda você está falando?", diz Vincent Cassel em determinado momento de "The Shrouds". É a síntese perfeita do novo filme de David Cronenberg, que disputa a Palma de Ouro e foi exibido no Festival de Cannes nesta segunda-feira.
Como Francis Ford Coppola e Paul Shrader, Cronenberg se junta aos medalhões do cinema anglófono que levaram novidades à mostra e frustraram o público. Na sessão à qual este repórter esteve presente, muitos deixaram a sala por volta da metade do filme, enquanto luzes de celular em consultas ao relógio clareavam com frequência o ambiente.
Cronenberg levou a Cannes um roteiro caótico e megalomaníaco que dispara ideias que nunca chegam a lugar nenhum. A premissa de "The Shrouds", algo como as mortalhas, gira em torno do dono de um cemitério hipertecnológico atormentado pela morte da mulher por câncer.
Mas, em meio a isso, Cronenberg dispara subtramas que envolvem uma conspiração com espiões russos e chineses, terrorismo ecológico, a inevitabilidade da morte, fetiches estranhos, os perigos da inteligência artificial e, claro, os desafios do luto. É muita informação e pouco desenvolvimento.
Seu elenco, formado por Vincent Cassel, Diane Kruger, Guy Pearce e Sandrine Holt, entrega trabalhos superficiais, que incomodam ainda mais por se apoiarem em diálogos tão constrangedores quanto os do longa.
Também como Coppola, Cronenberg é um cineasta com uma carreira irregular, mas com maravilhas como "A Mosca" e "Crash" no currículo. Seu último projeto em Cannes era no mínimo curioso. "Crimes do Futuro", há dois anos, pode não ter agradado a todos, mas voltava ao seu "body horror" —o terror feito a partir da violação do corpo— com louvor.
Em "The Shrouds", o subgênero aparece timidamente e numa narrativa estranha, que parece relutante em abraçar o estilo por não saber muito bem como lidar com o tema do câncer.
É por causa dele que a personagem morta de Kruger, como uma assombração, visita o de Cassel em sonhos, com uma parte do corpo a menos a cada noite. É um filme que não causa horror ou reflexão, como o "body horror" popularizado por Cronenberg fazia em seus bons tempos. Só gera confusão e tédio.
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