'Infinity Pool' leva sangue e masturbação a Berlim sob a direção de um Cronenberg

Filho do mestre do 'body horror' parece incapaz de sair da sombra do pai ao perseguir, sem brilho, seu universo de nojeiras

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Berlim

"Infinity Pool", ou piscina do infinito, terceiro longa-metragem de Brandon Cronenberg, atraiu certa expectativa no Festival de Berlim. Mais por ser Brandon filho de quem é —o peculiar diretor canadense David Cronenberg—, do que pela qualidade de seus dois primeiros filmes.

Mia Goth e Alexander Skarsgard em cena do filme "Infinity Pool", de Brandon Cronenberg
Mia Goth e Alexander Skarsgard em cena do filme "Infinity Pool", de Brandon Cronenberg - Divulgação

Infelizmente, "Infinity Pool" entra para a lista do mais ou menos junto com suas obras anteriores. É um suspense com traços de horror com diversos pontos em comum com "Videodrome", de 1983, ou "eXistenZ", de 1999, para lembrar dois filmes do pai David nos quais o filho Brandon bebe à vontade.

Essas aproximações dizem respeito a transformações corporais, membros salientes, crânios divididos, ossos esquisitos, vômitos coloridos e toda a gama de nojeiras que David Cronenberg vem despejando em seus filmes desde "Calafrios", de 1975.

Mas Brandon está muito longe do brilho e originalidade de seu pai e é de se pensar a razão de ele não apenas seguir a carreira da família, mas querer enveredar justamente na seara cinematográfica que fez David famoso. As comparações assim ficam inevitáveis. Melhor seria se o filho se especializasse em dramas de relacionamento ou filmes esportivos, sei lá. Mas cá estamos.

Não é que Brandon Cronenberg seja desprovido de talento. A primeira metade de "Infinity Pool" é bastante boa. Há um suspense bem tramado, apesar dos tão na moda personagens ricos em um resort longínquo, vide "The White Lotus". Alexander Skarsgard faz um escritor que teve seu auge há seis anos e não consegue esboçar um novo livro. De repente, aparece na frente dele uma fã de seu único texto, a primeira que ele jamais viu.

Essa garota, que além do mais é linda, é vivida pela nova "scream queen", rainha do grito, Mia Goth, de "A Cura", de 2016, "Suspíria", de 2018, e agora da dupla de slashers, "X - A Marca da Morte" e "Pearl", ambos do ano passado.

Brandon Cronenberg consegue filmar a tensão sexual entre os dois, apesar de os dois terem seus pares, e capta uma interessante cena de masturbação. Uma curiosa —e absurda— tradição local vai mudar a vida desses personagens de um modo totalmente inesperado.

Mas a coisa degringola na segunda parte. Sem entrar muito na trama para não revelar spoilers, a coisa acaba caindo no clichê dos ricos masoquistas loucos para ver sangue. E tem sangue à beça nesse seu "Infinity Pool".

O filme traz certo clima da franquia sanguinolenta "O Albergue", mas não por causa da trama principal daqueles filmes, e sim por se passar em uma nação longínqua sem muitas regras e na qual não se pode confiar em ninguém, inclusive na polícia.

Dessa piscina infinita, uma das certezas que saltam é que Brandon Cronenberg precisa buscar uma obra minimamente original e sair, nem que seja por alguns milímetros, de debaixo das asas de seu pai, David Cronenberg.

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