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Leia poema inédito de Ricardo Domeneck

Poeta é autor de 'Odes a Maximin' (2018) e 'Doze Cartas' (2019)

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Ricardo Domeneck

[SOBRE O TEXTO] Este é um poema inédito, ainda sem previsão de publicação em livro. 

Pintura - Patrícia Brandstatter

No começo era como uma areia
movediça. Um angu de caroço.
Pouco a pouco se engrossou
o caldo de enxofre nesse inferno.
Dia a dia cresciam os bolores
nos pães amassados pelo demo,
mas críamos ser nossas flores.
Ali vivíamos. “É a nossa terra,
nossa vida”. Semelhava um poço
de onde, ao menos, um sustento
colheríamos pra nosso proveito,
o nosso fim de anciãos bobos.
Cantava-se um samba glorioso.
Marchava-se de verde e amarelo
num dia esquecido de setembro.
Vinham as marés cheias de dejeto
e a cada janeiro, a cada agosto,
depositavam em nossas covas
a sua argamassa. Os seus tijolos
coziam-se aos poucos no calor
brando de nossa grã-paciência.
Hoje cá estamos, com o cimento
que nos abotoa até o pescoço.
Olhamos a paisagem lacrimosos.
Que belo país! À linha dos olhos
enxergamos já os sinais de fogo
e além dele um colosso deserto.
Ah! nosso colosso, nosso colosso.


Ricardo Domeneck é poeta; seus livros mais recentes são ‘Odes a Maximin’ (2018) e ‘Doze Cartas’ (2019), ambos pela Garupa Edições.

Ilustração de Patricia Brandstatter, artista plástica.

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