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Consumo do whey protein e da creatina vai além dos 'marombeiros' e conquista os 60+

Idosos vêm puxando o mercado de nutrição esportiva, que já fatura mais de R$ 4 bi ao ano no Brasil

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São Paulo

Margarida Rosa de Barros Godinho, a Margot, de 68 anos, toma creatina regularmente. Quem recomendou foi seu filho Leonardo, nutricionista e personal trainer. "Sinto mais energia, mais força muscular, tenho mais ânimo para o trabalho", diz ela, que também toma whey protein, magnésio e vitamina D3.

Diarista e personal organizer em Belo Horizonte, Margot reconhece ter uma rotina agitada, com muito subir e descer de escadas e longas caminhadas, além das aulas de pilates e musculação. "Os suplementos me ajudam a envelhecer de forma mais saudável."

Margot faz parte de um grupo que vem puxando o consumo de produtos de nutrição esportiva no Brasil, que envolve creatina, aminoácidos e itens proteicos (barras, bebidas prontas e whey protein): o dos 60+, que veem nesse tipo de produto uma alternativa para melhorar o sistema imunológico, aumentar a resistência e a recuperação muscular.

Deyse Macedo, 61, toma a sua dose diária de creatina: ela procura fortalecer a imunidade, depois de ter retirado um câncer de mama. - Folhapress

De acordo com dados da consultoria Euromonitor International, o consumo de nutrição esportiva atingiu os R$ 4,4 bilhões no Brasil em 2023, o dobro das vendas de 2020. A previsão é que em 2028 o consumo destes produtos chegue a R$ 9,6 bilhões.

Já os suplementos alimentares e vitaminas, como minerais, óleo ômega 3, ginseng, probióticos, entre outros, são um mercado ainda maior, de R$ 12,6 bilhões no Brasil em 2023, com chance de chegar a mais de R$ 20 bilhões daqui quatro anos.

"Os idosos vêm se tornando um público-alvo do mercado de nutrição esportiva, que já não é exclusiva para atletas e frequentadores assíduos de academias", diz Mariana Teixeira, consultora da Euromonitor. A busca pelo envelhecimento saudável é um elemento importante por trás desse movimento, diz ela, lembrando estimativas que apontam o aumento de mais de sete vezes da população com mais de 65+ até 2050, em comparação à mesma faixa etária em 1950.

"Serão cerca de 51 milhões de pessoas, das quais 16 milhões podem ter mais de 80 anos no Brasil", afirma. "Trata-se de um ritmo de envelhecimento três vezes mais rápido que o observado em países como o Reino Unido, França e Suécia, cuja transição demográfica começou muitas décadas antes da brasileira."

A ênfase na proteína dentro das formulações é um chamariz para este público, diz Mariana. Diogo Campos concorda. "O que as pessoas mais querem garantir no processo de envelhecimento é a mobilidade", diz ele, presidente da Sanavita, fabricante de suplementos alimentares. "Para isso a proteína é fundamental".

Com sede em Piracicaba (SP) e pertencente à Farmais, do fundo de investimentos Vinci Partners, a Sanavita registrou alta de 50% nas vendas no ano passado, para R$ 100 milhões, puxada pela nutrição esportiva. "Nossa equipe está fazendo um trabalho alinhado a nutricionistas, ginecologistas e geriatras. Os médicos estão mais atentos ao poder dos suplementos para prevenção de doenças", diz.

Já a rival Supley, de Matão (SP), chegou recentemente a grandes redes de farmácias e aos supermercados, indo além das lojas especializadas. A empresa é dona de algumas das principais marcas do segmento –Max Titanium, Probiotica e Dr. Peanut.

"Vamos ter degustação nos pontos de venda, além de uma maior divulgação nas redes sociais", diz a presidente da companhia, Mariane Morelli. Segundo ela, cada pessoa precisa de 1,8 a 2,2 gramas de proteína por quilo. "Mas nós somos acostumados a ingerir carboidratos demais."

A empresa está disposta a expandir a sua comunicação para atingir o público 60+, que faz uso também da creatina, outro carro-chefe da Supley, que deve faturar R$ 1,1 bilhão este ano, alta de 14% sobre 2023.

O advogado Rodrigo Ferreira com a filha Duda, no treino de jiu-jítsu: whey protein e creatina todos os dias. - Divulgação

Cesar Borchert, 71, aposentado, começou a fazer academia no início do ano. Mas às vezes se sentia cansado após o treino. Conversando com amigos e família, ouviu que a creatina dá um "up" na energia e decidiu experimentar. "Comecei a tomar regularmente há cerca de dois meses e estou me sentindo muito bem. Minha namorada e minha filha, muito interessadas no assunto nutrição, também recomendaram", diz ele, que ainda assim espera receber o aval da sua médica na próxima consulta.

Já a consultora Deyse Macedo, 61, começou a tomar creatina diariamente por outro motivo. Ela retirou um câncer de mama no final do ano passado. No começo do ano, passou por sessões de radioterapia. Sua imunidade foi afetada e ela acabou contraindo herpes zoster.

"Estava me sentindo muito desanimada, minha tireoide parou de funcionar e eu engordei. Como não gosto de academia, decidi contratar uma personal trainer e treinar duas vezes por semana no meu condomínio". Segundo ela, foi a personal quem sugeriu o consumo de creatina.

"Meu endocrinologista aprovou e estou tomando três gramas por dia, todos os dias. Sinto que tenho mais ânimo agora", diz Deyse, que faz uso do produto há um mês, da marca Growth.

A Growth Supplements, com fábrica em Bombinhas (SC), é uma das líderes em nutrição esportiva e acaba de ser comprada pela startup Merama. A companhia não revela faturamento. Por meio da sua assessoria de imprensa, informou que vem se aproximando do público 60+ desde antes da pandemia.

"Envelhecer com saúde é um ponto-chave para a longevidade", afirmou, em nota. "Nossa intenção é levar cada vez mais os suplementos 'esportivos' para dentro da casa do cidadão comum, mostrar que são aliados de todas as pessoas, e não só de quem treina."

O advogado e contador Rodrigo Ferreira, 48, é adepto de academias. Começou a treinar jiu-jítsu aos 22 anos e hoje é professor. Estar acostumado à nutrição esportiva não o impediu de ganhar alguns quilos nos últimos anos. "Na correria do trabalho, acabei descuidando um pouco da alimentação e diminuí o ritmo de treino", diz. Em consulta com uma nutricionista, ela indicou creatina. "Está sendo muito bom para não fazer lanches gordos no escritório", brinca.

O preço dos produtos de nutrição esportiva, no entanto, pode ser uma barreira à popularização desses suplementos. Um pote de 900 gramas de whey protein custa mais de R$ 80. "A variação do dólar influencia diretamente os preços, seja pela importação dos insumos ou do produto final", diz Lucas Ramos, gerente da Scanntech, plataforma que mede as vendas do varejo alimentar.

No entanto, diz, a isenção das taxas de importação adotada a partir de 2022 tem contribuído para a queda nos preços de alguns produtos, como a creatina.

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