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Livrarias de rua atraem público com cursos de ioga africana e astrologia

Pequenos negócios voltados a nichos crescem apostando em eventos, curadoria e diversidade

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São Paulo

A crise financeira das maiores redes de livrarias do país nos últimos dois anos foi acompanhada pela criação de pequenas lojas dedicadas a nichos de leitores.

Com até 300 metros quadrados, esses estabelecimentos de rua têm apostado em eventos e cursos para atrair clientes, fidelizar o público e aumentar as vendas.

Aula de ioga kemética, de origem africana, na livraria Africanidades, especializada em literatura negra, na zona norte de São Paulo - Keiny Andrade/Folhapress

A Africanidades, especializada em literatura negra, foi inaugurada em 2017 na Vila Pita, zona norte, depois de passar seis anos como uma plataforma online.

“Ter um espaço físico em São Paulo é muito caro. Então a ideia sempre foi ter outras pessoas comigo”, diz a bibliotecária Ketty Valencio, 37, dona do negócio.

Por isso, ela convidou expositores a deixarem suas mercadorias na loja e criou uma agenda relacionada à cultura negra, que inclui aulas de ioga de origem africana.

Embora não haja estatística sobre o aumento das livrarias de rua, Bernardo Gurbanov, presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), afirma que o crescimento desse setor é visível.

“Está acontecendo uma redescoberta de mecanismos para atrair público. Essas livrarias conseguem dar um atendimento especializado, mais cara a cara, e, assim, estabelecem uma relação diferenciada com o cliente.”

Dois modelos desse tipo foram inaugurados no fim de 2019 em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. A Livraria da Tarde investiu em acervo com 13 mil títulos de humanidades, grande seleção de poesia e de obras de psicanálise, além de uma área infantil.

Quando montou o plano de negócio, a dona, Monica Carvalho, 47, conversou com lojistas da região para escolher um ponto com fluxo de pedestres. “Vi que existia uma oportunidade e um público de nicho, mas fiel”, afirma.

No endereço, já foram realizadas contações de histórias para crianças, saraus de poesias e discussões sobre literatura e psicanálise. Em dias de evento, as vendas aumentam até 50% em relação a um dia normal, diz a empresária.

Também dedicada às humanidades, a Mandarina foi inaugurada em agosto pelas sócias Daniela Amendola, 52, e Roberta Paixão, 49.

Elas criaram um acervo com obras de literatura clássica, filosofia, ciências sociais e poesia —bestsellers de autoajuda não são encontrados nas prateleiras. A perspectiva delas é que o negócio comece a dar lucro até o final deste ano.

Desde a abertura, a livraria promove um clube de leitura. Neste mês, passou também a realizar cursos —por exemplo, de astrologia.

A curadoria e o atendimento, dizem as sócias, foram pensados para aproximar o público da figura do livreiro, que deve entender as demandas de leitura de cada cliente.

“A gente pensa a livraria do século 21 assim: tem todo o atendimento de uma do século passado, mas está, também, no mundo do compartilhamento, de troca de informação, ativa nas redes sociais”, diz Paixão. Em maio, a empresa lançará um ecommerce.

Na Lovely House, dedicada a arte, fotografia e design, os sócios José Fujocka, 50, e Luciana Molisani, 49, viram na realização de eventos uma chance de atrair consumidores interessados nesses temas.

Segundo a dupla, o maior desafio é criar encontros que levem também outros públicos ao espaço. “Se ele for sempre o mesmo, fica difícil gerar novas rendas”, afirma Fujocka.

Instalada na galeria Ouro Fino, no centro, a loja tem cerca de 1.000 títulos —as publicações vão de R$ 30 a R$ 1.250.

José Fujocka e Luciana Molisani, sócios da Lovely House, livraria especializada em arte, fotografia e design no centro de São Paulo - Keiny Andrade/Folhapress

“Muito se fala de crise do mercado editorial, mas a crise foi de uma gestão e de um perfil específicos”, afirma Orlando Prado, 38, proprietário da consultoria Quincas, especializada nesse segmento. Para ele, a decadência é do modelo das grandes livrarias, geralmente localizadas dentro de shoppings.

Prado comanda a reestruturação da Casa Plana, que nasceu em 2017 ancorada à Feira Plana, evento que reunia livros independentes, produzidos de forma artesanal.

A livraria, que fica em Pinheiros, passa por um reposicionamento: quer se colocar politicamente e ter um acervo maior com temáticas LGBT, indígena e racial. No subsolo, terá uma sala de eventos com capacidade para cem pessoas.

“Hoje, estamos muito próximos a uma livraria generalista. A gente quer ser forte em um segmento”, diz Prado.

Ele avalia que, para tirar um projeto de uma livraria de rua com esse perfil do papel, é necessário um investimento de pelo menos R$ 300 mil.

Prado acredita, no entanto, que o sucesso não depende necessariamente de seguir um nicho. Segundo o especialista, o importante é apresentar uma boa curadoria, deixar claro o que está sendo oferecido e criar diferentes experiências para o cliente no espaço.

“Não faz mais sentido livrarias com mais de 1.000 metros quadrados”, acredita.

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